Queridos, imaginar que a história de Jesus, seu nascimento, morte e ressurreição é coisa do Novo Testamento é desconhecer as Escrituras do Velho Testamento. Basta lembrar o episódio dos dois discípulos de Jesus a caminho de Emaús. Como foi que Jesus se deu a conhecer a eles? Expondo o que dele estava escrito nas Escrituras. Como o Novo Testamento ainda não havia sido escrito, obviamente, Jesus falava do Velho Testamento.
Mas, como o Velho Testamento pode falar de Jesus? Assim! Jesus está presente na Criação; Jesus está presente na promessa de restauração, logo após a queda dos nossos primeiros pais. Ele é o descendente que pisará a cabeça da serpente; Jesus está presente na aliança com Abraão, tipificado em Isaque, o seu descendente; Jesus está presente na lei, tipificado nos sacrifícios e nas festas; Jesus está presente nos livros poéticos, como Salmos e Provérbios; Jesus está presente nas profecias, especialmente em Isaias.
Na criação, como o evangelista João explica claramente, Jesus era o verbo, ou a palavra criadora de Deus (Jo 1.1-3). Todas as coisas foram criadas pela palavra de Deus. Podemos ver que, no princípio, criou Deus os céus e a terra e tudo o que neles há, e em cada etapa da criação, uma expressão se repete: Disse Deus! Ou seja, todas as coisas criadas vieram à existência pela palavra de Deus. Convém lembrar que os milagres e maravilhas feitos pelo Senhor Jesus, como a ressurreição de mortos, por exemplo, se deu pela sua palavra. Lázaro, vem para fora! (Jo 11.43). E a vida se fez novamente.
Após a queda, após desobedecerem a Deus, Adão e Eva, com medo de Deus, se esconderam e tentaram se cobrir, pois, ao se verem nus, ficaram com vergonha um do outro (Gn 3.7). O que podemos ver nesse episódio? Que o homem, por mais que tente, não pode resolver o problema do pecado. O pecado nos afasta de Deus (Is 59.2). Escondidos de Deus, bem que Adão e Eva tentaram se cobrir com folhas de figueira, mas a transgressão e a culpa não podiam ser cobertas por seus próprios meios. Somente Deus pode cobrir a transgressão e a culpa pelos nossos pecados, e foi isso que ele fez, sacrificando um animal (Gn 3.21).
Aquele animal sacrificado já prefigurava Jesus, o cordeiro que foi morto pelos nossos pecados. O homem não pode obter perdão de pecados por si e para si mesmo, seja através de boas intenções, seja através de boas obras. Qualquer coisa que o homem possa fazer assemelha-se a simples folhas de figueira que não podem cobrir sua a transgressão e a culpa diante de Deus.
É muito importante observar que Adão e Eva não demonstraram arrependimento, nem pediram perdão a Deus, por haverem desobedecido à sua ordem. Eles demonstraram medo, vergonha, mas logo procuraram se inocentar, culpando outro. Também podemos observar que Deus confronta o pecador com o seu pecado, e aplica o juízo, de acordo com a sua justiça perfeita. Conforme Deus havia dito, o dia em que desobedecessem, morreriam (Gn 2.17).
A serpente, o animal usado por Satanás para enganar a mulher, recebeu o juízo que, na verdade, é o juízo do próprio Satanás (Ap 12.9). O descendente da mulher esmagará a cabeça da serpente, e esta lhe ferirá o calcanhar. O descendente da mulher é Jesus (Gn 3.15). Todos os atores foram julgados e sentenciados: a serpente, a mulher e o homem. Por fim, como palco onde a sentença seria cumprida, toda a terra também foi amaldiçoada por Deus (Gn 3.17).
E quem é a descendência da serpente, aqueles a quem Deus colocou como inimigos do descendente da mulher? São todos os que não pertencem à linhagem da aliança eterna de Deus, iniciando por Caim, que, segundo João, era filho do maligno (1Jo 3.12). Não podemos esquecer quantas tentativas foram feitas pelo inimigo do descendente da mulher, a fim de evitar que ele lhe esmagasse a cabeça.
Logo no início, Caim matou Abel, deixando a aliança eterna de Deus sem linhagem (Gn 4.8). Então Deus concedeu outro descendente a Adão, Sete, por meio de quem a linhagem da aliança continuou (Gn 4.25-26). Com o passar do tempo, a linhagem de Sete se corrompeu, mas Deus preservou Noé e sua família Gn 6.5,8,18). Daí em diante, Deus foi afunilando a linhagem da aliança através do semita Abraão, a partir do qual Deus criou o povo da aliança, Israel.
Porém, o povo da aliança foi escravizado no Egito durante quatrocentos anos. Deus, então levantou Moisés para libertar o seu povo, e deu-lhe uma lei e uma terra, transformando-o em uma nação organizada, que deveria ser uma nação santa diante de Deus e dos homens, servindo de exemplo para as outras nações.
Mas, o povo se corrompeu de tal forma, a ponto do profeta Elias julgar que somente ele permanecia fiel a Deus. Vejam em que nível de corrupção se encontrava o povo. Para acalmar e encorajar o profeta, Deus lhe disse que reservara um remanescente fiel (1Rs 19.10-18). Na linhagem desse remanescente fiel, veio o Redentor, o Senhor Jesus. A partir daí o inimigo investiu com força total contra o descendente da mulher. Logo após o seu nascimento, por meio de Herodes, o inimigo tentou matá-lo, mas Deus, em sua providência, levou-o para o Egito, até a morte de Herodes (Mt 2.13-23).
No início do ministério sacerdotal de Jesus, o inimigo, de forma atrevida, tentou-o a desistir da sua missão (Mt 4.1-11). No entanto, o Senhor Jesus, o Criador do universo e o Salvador dos eleitos de Deus, seguiu adiante e ofereceu-se em sacrifício por aqueles que o Pai amou desde a eternidade, cumprindo totalmente a sua obra redentora. Este foi o triunfo do descendente da mulher sobre a serpente: a sua morte expiatória da cruz do calvário.
Como o apóstolo Paulo interpretou, Jesus cumpriu as exigências da justiça de Deus, conforme prescritas na lei, e trouxe plena salvação aos eleitos do Pai. Foi assim que, na cruz do calvário, o Senhor Jesus, em cumprimento da profecia de Gn 3.15, despojou os principados e as potestades, e publicamente as expôs ao desprezo, trinfando sobre eles (Cl 2.15). Na cruz, o que parecia ser a derrota do descendente da mulher, foi apenas uma ferida em seu calcanhar, momento em que, na verdade, Jesus esmagou definitivamente a cabeça da serpente, e consumou a sua vitória, conforme ele mesmo bradou ao entregar o espírito ao Pai: Está consumado (Jo 19.30).