Queridos, nos últimos dias eu tenho acompanhado muitos casos de doenças gravíssimas que acometeram vários irmãos, tanto doenças físicas como espirituais, estas muito mais devastadoras. Como vocês estão cansados de me ouvir dizer, eu me considero um velho. Em meus sessenta anos, acho que já vivi o bastante para saber discernir a vida e a morte, pela revelação da palavra, e pela iluminação do Espírito de Deus.
Pelo que aprendi no mundo da cultura, pude ver como a cultura do mundo penetrou e contaminou a Igreja. Sociologicamente falando, como muitos da minha idade, fui e ainda sou um ator social presente na transição daquilo que os cientistas sociais convencionaram chamar de Modernidade e Pós-modernidade. Como as coisas mudaram nestas últimas décadas…! E eu sou testemunha dessas mudanças, inclusive no ambiente da Igreja.
No tocante à pregação do evangelho e ao ensino da doutrina bíblica, infelizmente, sou testemunha de como a Igreja acompanhou as mudanças sociológicas. A sã doutrina, que passou a ser psicologizada desde a Modernidade, época em que a Igreja começou a se mundanizar, agora, na Pós-modernidade, é quase um crime ensinar. A verdade não é mais absoluta. Ela pode e deve ser relativizada segundo as necessidades emocionais subjetivas dos membros das igrejas. Assim pensam e ensinam os pastores pós-modernos, afirmando que não vivemos mais sob a lei, e, sim, da graça, com base em Rm 6.14. Tal afirmação, obviamente, demonstra total ignorância tanto da lei como do evangelho da graça.
Pois bem, vamos examinar um pouco do ensino radical da lei e da graça, o perfeito ensino transmitido pessoalmente pelo Senhor Jesus. Convém lembrar aos pós-modernistas porventura presentes, ou que venham a assistir a esta mensagem pela internet, que a palavra de Jesus é eterna, portanto não sujeita a mudanças sociológicas.
Como o Senhor afirmou, os seus discípulos são a luz do mundo (v.14). Obviamente, todos nós sabemos que a luz sempre esteve, está e estará radicalmente em oposição a trevas, na qual o mundo se encontra imerso desde que foi amaldiçoado pelo próprio Deus, por causa do pecado de Adão. É disso que o Senhor Jesus está tratando e ensinando aos seus discípulos (vv.14-16). Foi isso que o Filho veio fazer na terra: trazer luz para as trevas, redimir a criação amaldiçoada pelo Pai, começando pelos seus eleitos, para que estes sejam testemunhas da maravilhosa obra da redenção.
Como afirmou o Senhor Jesus, ele veio cumprir a lei e os profetas (v.17). Pois bem, segundo a profecia de Isaías, O povo que andava em trevas, viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz (Is 9.2). Esta profecia se cumpriu com a vinda do Filho de Deus ao mundo, fato registrado em Mt 4.16, e o próprio Senhor Jesus se revela como tal: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida (Jo 8.12). É disso que Jesus está falando, e os seus discípulos, seguindo os seus ensinamentos, devem refletir essa luz, obra radical do evangelho apresentado ao mundo de trevas, para que Deus seja glorificado (vv.14a,16).
Pode, por acaso, alguma mudança sociológica relativizar a relação de antagonismo absoluto existente entre a luz e as trevas? Não, não pode! De forma radical, ao chegar a luz, dissipam-se as trevas. Pois é isso que prometem a lei e os profetas: a luz de que o profeta Isaías fala, o Messias prometido, chegou, de conformidade com a lei de Deus. Portanto, a lei e a profecia anteriores a Jesus se cumpriram nele, e agora o Mestre ensina aos seus discípulos, para que eles continuem a sua missão divina de redimir a criação amaldiçoada pelo Pai, começando pela salvação dos seus eleitos, tudo de conformidade com a lei e os profetas.
Queridos, mesmo discernindo o estado deplorável da Igreja pós-moderna com seus falsos mestres, com base nesta palavra do Senhor Jesus, não podemos desanimar. Jesus é o cumprimento da lei (v.17). O testemunho de Jesus é o espírito da profecia (Ap 19.10). Logo, segundo a lei e os profetas, como Jesus prometeu, todos os eleitos serão reunidos a ele, e então seremos todos um só rebanho e um só pastor, para a glória de Deus Pai.
É isso que quer dizer: Não penseis que vim revogar a lei e os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra (vv.17-18). Ou seja, assim como Jesus cumpriu totalmente a lei e os profetas que conduziram os eleitos até à sua chegada, agora, os seus discípulos verdadeiros hão de desempenhar com êxito a missão que o Senhor lhes designou, conforme a lei e os profetas, de serem luzeiros a resplandecer a luz do mundo, para que os homens glorifiquem ao Deus Pai.
Agora, prestem atenção, irmãos! Como pode alguém que se diz ministro do evangelho, ou mesmo alguém que se diz evangélico, querer mudar o entendimento e a aplicação da lei, mudança claramente materializada na ressignificação e apresentação de um evangelho psicologizado, contextualizado, pós-moderno, totalmente dissociado da lei de Deus? Quantos membros de igrejas ditas evangélicas não vivem esse evangelho sem lei?
Ora, segundo as Escrituras, o próprio Senhor Jesus, enquanto humano, teve que se submeter a todas as ordenanças da lei: ele foi circuncidado como sinal da inclusão na aliança de Deus, mesmo sendo Deus; submeteu-se ao batismo de João, espontaneamente, em cumprimento da lei, mesmo não tendo pecado pelo qual se arrepender. Por que isso? Porque, como ele afirma, ele veio para cumprir a lei, e até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra (vv.17-18).
O que eu quero dizer com evangelho contextualizado com a pós-modernidade, ou, dito de outra forma, descontextualizado com a lei de Deus? De forma radical, eu quero dizer o mesmo que Jesus disse: Se somos seus discípulos, como ele, temos que ser luz do mundo, e não, ser iguais ao mundo, como a Igreja se comporta em nossos dias. A principal característica dos salvos é a sua vida de santidade em obediência à lei de Deus, porque a lei de Deus é justamente a expressão da sua vontade para a vida dos seus eleitos, e é assim que ela determina: Ser-me-eis de santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separei-vos dos povos, para serdes meus (Lv 19.26).
Percebem, irmãos? Fomos separados pela lei, ou seja, pela vontade expressa de Deus, e o Senhor Jesus, na forma da lei, também deixa muito clara essa condição (v.19). Esta é uma posição radical, porque é a palavra de Deus, e não pode haver mudança sociológica capaz de alterar uma determinação eterna de Deus. Por isso, ao longo do texto bíblico, podemos ver tanto na lei como no evangelho, Deus Pai e Deus Filho acolhendo com amor todos os que, arrependidos, praticam a sua justiça, do mesmo modo como podemos vê-los denunciar e prometer a condenação a todos os que, deliberadamente, não observam a sua lei e se desviam dos seus retos caminhos.
Por isso, eu me empenho tanto em lhes ensinar, de forma radical, assim como Jesus ensinou, que religiosos não entrarão no reino de Deus (v.20). Que ninguém se engane! O ensino de uma graça sem lei, como se vê nas igrejas da pós-modernidade, não provém do Espírito Santo, o mesmo que inspirou as Escrituras Sagradas. E como sabemos pelas Escrituras, os verdadeiros discípulos de Jesus, como ele ordenou, são a luz do mundo, porque dele a receberam em cumprimento da lei e dos profetas. Esta é uma vocação eterna dos eleitos de Deus, e não pode ser modificada no tempo.
Portanto, o evangelho não aboliu a lei. Ao contrário, ele nos leva a compreendê-la e a cumpri-la, porque a graça da lei que nos trouxe o evangelho, é a mesma graça do evangelho que nos capacita a obedecer a lei, por amor ao Senhor tanto da lei como do evangelho da salvação.
Louvamos a Deus pela graça da lei recebida no evangelho e através do evangelho, e rogamos a mesma graça para que possamos cumprir a sua lei, para louvor da sua glória. Amém.