A adoração e a idolatria – Dt 4.32-40

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Queridos, a verdadeira adoração pode ser facilmente confundida com a idolatria, na mesma medida em que a sã doutrina pode ser facilmente confundida com a heresia. Por isso, com base em textos do Velho Testamento, é comum se ouvir profecias dirigidas a Israel no seu contexto de tempo e espaço, sempre de bênçãos, é claro, como sendo para os ouvintes, ávidos por bênçãos, numa demonstração inequívoca de total desconhecimento da palavra de Deus.

Conforme eu tenho dito aos irmãos, não há uma única profecia na Bíblia que não tenha base na revelação de Deus aos patriarcas. Através de Moisés, Deus registrou a sua vontade na lei dada ao seu povo eleito, tudo em perfeita conformidade com o que ele já havia prometido lá na criação. Desde Adão e Eva, Deus prometeu a vinda daquele que pisaria a cabeça da serpente (Gn 3.15), o Messias de Deus. Depois, em Abraão, informou-lhe que o Messias viria da sua descendência, de Isaque e de Jacó.

Em Jacó foi formada a nação de Israel; em Moisés a nação foi liberta da escravidão do Egito, e em Josué o povo foi assentado na terra prometida a Abraão. Porém, depois de organizada a nação, o povo esqueceu a lei de Deus. Então, pela falta de conhecimento, confundiu adoração com idolatria, prostitui-se com outros deuses, e foi severamente punido, escravizado, destruído, tudo de conformidade com a lei revelada aos patriarcas.

Este é o nosso assunto de hoje: a verdadeira adoração está incondicionalmente ligada ao conhecimento de Deus, assim como a idolatria é fruto natural da ignorância pelo abandono da lei de Deus. Em outros termos, o conhecimento da vontade de Deus revelada na sua lei é o que determina se o nosso relacionamento com ele é verdadeira adoração, ou pura idolatria, fruto da ignorância, abominação a Deus.

Nunca é demais lembrar que o juízo de Deus sobre o seu povo eleito no Velho Testamento começou com o abandono da sua lei. Eu creio, com muita tristeza, que esta é a mesma realidade da igreja em nossos dias, quando o senhorio de Deus foi transformado em servidão aos homens, de acordo com as necessidades emocionais dos frequentadores de igrejas. Todos querem e esperam as bênçãos de Deus, mesmo sem conhecer o Deus das bênçãos, muito menos a sua vontade revelada nas Escrituras Sagradas.

Pois bem, o trecho que lemos é o início das exortações de Moisés ao povo de Deus. Sabendo que não entraria na terra prometida, como aquela era uma nova geração, Moisés repete toda a revelação de Deus aos patriarcas, tudo o que havia acontecido até então, desde que saíram do Egito, tanto bênçãos como maldições, segundo a lei, para que eles temessem a Deus e guardassem os seus mandamentos.

Insisto em lembrar: não há profecia verdadeira que não esteja atrelada à palavra de Deus, à história do povo de Deus, conforme tudo o que ele revelou na sua lei. Nem mesmo o Senhor Jesus, o profeta prometido lá em Dt 18.15,18 fugiu a essa regra. Vejam que, depois de lembrar ao povo o que havia acontecido, com base no conhecimento dos fatos, então Moisés os chama ao exercício do raciocínio lógico, a fim de que pautem as suas vidas pela obediência da lei (vv.32-34).

Pergunta aos tempos passados! O que tu sabes de Deus? O que tu sabes da criação? O que tu sabes sobre a formação deste povo escolhido? O que tu sabes sobre como Deus libertou este povo da escravidão do Egito? O que tu sabes sobre as maravilhas que Deus fez para libertar este povo e conduzi-lo pelo deserto? Tu já viste, ou ao menos já ouviste falar de um Deus igual a este? (ver Is 40.26-31).

Pois é! Sobre tudo o que foi dito, a ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro não há senão ele (v.35). Ele é o Senhor da criação (v.32); Ele é o Senhor que se revelou de forma maravilhosa para te ensinar que só ele é Deus (v.36); Ele é o Senhor da aliança que ele mesmo estabeleceu com os patriarcas (v.37); Ele é o Deus fiel que cumpre a sua promessa de te dar a herança prometida a Abraão e à sua descendência (v.38).

Por isso hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o Senhor é Deus em cima no céu, e embaixo na terra; nenhum outro há (v.39). Irmãos queridos, esta palavra foi para Israel, no contexto deles no tempo e no espaço, mas como se trata de ensino para a correta adoração a Deus, materializada na obediência à sua lei, ela é totalmente aplicável a nós, e ao povo de Deus em qualquer época e em qualquer lugar.

Perceberam o que Moisés falou ao povo, e que eu insisto em repetir? A verdadeira adoração só pode ser evidenciada na obediência à lei de Deus, que é a revelação da sua vontade, e para obedecer à lei de Deus, nós precisamos conhecê-la. Isso é lógico, e é isso que Moisés está fazendo com o povo. Lembrando-lhes o que está escrito na lei, para que eles a ponham em prática, em adoração com base no reconhecimento do único Deus verdadeiro, aquele que fez, faz, e continuará a fazer maravilhas no meio do seu povo, conforme a sua promessa aos patriarcas e à sua descendência (v.40).

Porém, quem conhece a história de Israel, sabe que o povo esqueceu a lei de Deus; sabe que em consequência o povo se prostituiu seguindo outros deuses, e sabe que Deus os destruiu por diversas vezes, sempre deixando um remanescente, conforme ele mesmo prometeu, porque desse remanescente viria o Messias. Esta é uma realidade cíclica na história de Israel: o povo se desviava da lei, e passava a idolatrar deuses estranhos. Deus mandava os profetas para alertá-los do pecado, chamá-los ao arrependimento, anunciar o juízo, e prometer a restauração. Como o povo não se arrependia dos seus pecados, Deus mandava o juízo, os destruía, mas deixava um remanescente que se arrependia, clamava a Deus, e ele, pela sua misericórdia e pela sua fidelidade, os restaurava, sempre apontando para o Messias.

Pois bem, considerando que a Igreja, em alguns aspectos, é a continuação do Israel de Deus, qualquer semelhança não é mera coincidência. Como eu falei lá atrás, para minha tristeza, a Igreja está na fase do abandono progressivo de Deus pelo desconhecimento da sua lei. Porque os pastores não ensinam às suas igrejas, porque os pais não ensinam aos filhos, o conhecimento de Deus está quase totalmente perdido. Pela falta de conhecimento, as pessoas ditas evangélicas confundem adoração com idolatria, no momento em que passam a adorar um Deus formatado por elas mesmas, segundo as suas carências emocionais transformadas em necessidades, um Deus totalmente diverso do Deus da Bíblia.

A verdadeira teologia centrada na lei de Deus, que é a revelação da sua vontade, foi relativizada pelas ciências humanas como a psicologia, sociologia e antropologia. Sem que as pessoas percebam, pela falta de conhecimento de Deus e da sua lei, agora o homem é colocado como o centro das coisas, e Deus tem que atender aos seus apelos. O que é isso, senão idolatria? E qual a origem dessa idolatria? O desconhecimento de Deus e da sua vontade revelada nas Escrituras Sagradas, semelhantemente ao que aconteceu em Israel. Como dizia o sábio Salomão, nada há de novo debaixo do Sol (Ec 1.9).

Meus irmãos queridos, ouçamos o que o Senhor nos diz pelo seu profeta: Pergunta aos tempos passados! Obviamente, para fazer isso, precisamos saber o passado. Somente a partir do conhecimento podemos lembrar quem é Deus, como Deus nos criou, como ele nos libertou da escravidão do pecado, como ele nos conduziu até aqui, como ele nos tem abençoado com toda sorte de bênçãos, como ele nos tem punido pela nossa desobediência, e então estaremos capacitados a ensinar isso aos nossos filhos, para que se prolonguem os nossos dias nesta terra que Deus nos dá (v.40).

Esta exortação da lei de Deus foi para o Israel de Deus, mas está em pleno vigor para a Igreja de Cristo. Por isso nós precisamos estudá-la constantemente, e observá-la em nossas vidas.

Que Deus, pois, nos conceda graça para compreender corretamente a sua lei; mais graça para que a coloquemos em prática; mais graça para que, em obediência, sejamos fieis no ensina da lei aos nossos filhos, para que o seu nome seja louvado de geração em geração. Amém.