Queridos, qual o nosso entendimento quando falamos na Casa do Senhor? Qual a relação que temos com a Casa do Senhor, enquanto local de culto corporativo? Será que temos a motivação correta quando vimos para a reunião na Igreja, domingo após domingo? No Salmo 27.4 vemos o salmista Davi expressar o seu prazer em estar na casa do Senhor: Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo. Aquele era um momento especial para o salmista estar com Deus.
Porém, no Salmo 122.1, vemos que Davi não estava só nesse propósito. A adoração no templo era corporativa, plural, contava com todo o povo de Israel. Por isso, o salmista diz: Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor. Vamos à casa do Senhor, não apenas ele, mas todo o povo de Deus, aqueles sobre quem Davi também diz: quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer (Sl 16.3). Adoração ao Senhor, na comunhão dos irmãos, os santos de Deus.
Então, irmãos, será que quando vimos à casa do Senhor, realmente temos essa motivação que havia no coração do salmista Davi? Aqui em nossa igrejinha temos gente de vários bairros da cidade, alguns bem distantes. O que os traz aqui?
Este salmo que lemos fala da união dos irmãos. União em que sentido? União com que motivação? Este Sl 133 é um dos conhecidos salmos de romagem, ou cânticos entoados enquanto o povo subia para Jerusalém, para adoração no templo. Para muitos deles, a viagem era longa, perigosa, e o povo caminhava unido, auxiliando-se mutuamente, até chegar ao templo, à casa do Senhor, para contemplar a beleza do Senhor, na presença dos santos de Deus, conforme o desejo expresso do salmista Davi nos versículos citados.
Quantas pessoas que estão aqui vieram de tão longe. A questão é: qual a sua motivação? Será porque, como o salmista Davi, os irmãos entendem como é bom e agradável viverem unidos os irmãos, considerando que essa união deve ser tanto reflexo como refletora da glória de Deus? Será que os irmãos entendem que a união de que o salmista fala envolvia uma viagem longa e perigosa, para que eles pudessem estar juntos em adoração a Deus no templo em Jerusalém? Que dificuldade temos superado para estar juntos com os irmãos? Será que, pelo menos, temos perguntado se os irmãos têm enfrentado alguma dificuldade em suas vidas?
Irmãos queridos, adorar a Deus pode ser algo apenas abstrato, sem nenhum valor, se a adoração não for materializada na união dos irmãos e no serviço ao próximo. Quando o salmista fala que a união dos irmãos é algo precioso como o óleo sobre a cabeça, o qual desce pela barba, a barba de Arão, e desce para a gola das suas vestes (v.2), ele está trazendo à lembrança do povo a função sacerdotal de Arão como elemento de unificação do povo.
Arão foi o primeiro sumo sacerdote ungido como mediador entre Deus e Israel, o seu povo eleito. Graça de Deus para restabelecer o diálogo interrompido pelo pecado. Cabia ao sumo sacerdote oferecer sacrifícios e interceder pelo povo, e a sua unção é lembrada pelo salmista como um momento precioso de unidade nacional, e de união entre os irmãos. Pois bem, a unção era feita com óleo sobre a cabeça do sacerdote. Esse óleo escorria pela sua barba, que, para os judeus, era sinal de distinção e sabedoria, e depois escorria para a gola de suas vestes, onde estavam inscritos os nomes das doze tribos de Israel.
O óleo da unção, portanto, simbolizava a unidade nacional de Israel na pessoa do sumo sacerdote, o único ungido, credenciado a oferecer sacrifícios, a interceder pelo povo, e a levá-los a adorar a Deus de forma corporativa, com alegria participativa de todos. Para a adoração no templo em Jerusalém, desde a caminhada, não poderia haver unidade sem sincera fraternidade. É disso que o salmista está falando ao lembrar o óleo precioso da unção de Arão. É algo tão precioso, como é bom e agradável viverem unidos os irmãos?
No v.3, além do óleo da unção de Arão, o salmista usa outra analogia para demonstrar a preciosidade da união entre os irmãos: É como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sião. Ali ordena o Senhor a sua bênção, e a vida para sempre. Ora, todos nós sabemos, porque estamos acostumados a ver pela televisão, o que acontece com as altas montanhas cobertas de neve. Delas descem constantemente o orvalho e a água que irrigam toda a área que fica no sopé da montanha, formando ali um vale fértil.
Por isso, o salmista diz que ali ordena o Senhor a sua bênção, e a vida para sempre. O povo de Israel sabia que não falta vida naquele vale do Hermon. Pois assim mesmo, na profecia do salmista, seria Israel enquanto a nação se mantivesse unida em torna da adoração a Deus, adoração naturalmente materializada na unidade do povo, na união e na ajuda mútua, para que o nome de Deus fosse glorificado entre as nações.
Convém saber que o monte Sião sobre o qual está edificada a cidade de Jerusalém, nada tem a ver com os montes de Sião irrigados pelo orvalho do Hermon. O monte Sião de Jerusalém é um lugar seco e árido, totalmente diferente e distante do vale fértil formado entre os montes de Sião, em função do orvalho do Hermon. Pois bem, como era do conhecimento de Israel a fertilidade do vale do Hermon, Davi está afirmando ao povo, que uma graça tão maravilhosa, da mesma magnitude, pode ser vista, sentida, experimentada por eles, de modo que todos percebam claramente como é bom e agradável viverem unidos os irmãos, independentemente das condições ou do lugar em que vivem.
Irmãos queridos, este foi um ensinamento de Davi, o pastor de Israel, ao povo que Deus lhe deu para pastorear, naquela época, naquele espaço geográfico, naquele contexto social, mas, como se trata da palavra de Deus, este ensinamento continua atual e válido para todos os filhos de Deus, em todos os lugares, até que Jesus nos venha buscar.
A Igreja de Cristo, em vários aspectos, é a continuação do Israel de Deus. Como ensina o escritor aos Hebreus, se Israel foi agraciado por Deus com a instituição do sumo sacerdote para interceder e para oferecer sacrifícios pelo povo, à Igreja foi dado um sumo sacerdote superior, o Senhor Jesus Cristo, aquele que ofereceu um sacrifício superior, e que faz uma intercessão superior. Em Hebreus temos essa relação entre a velha aliança e a nova aliança, deixando claro que a nova aliança é muito melhor.
E então, irmãos? À luz desse ensinamento, se somos salvos, como Igreja de Cristo precisamos viver em uma unidade orgânica, de modo a experimentar e testemunhar para que o mundo saiba como é bom e agradável viverem unidos os irmãos. Agora nós já sabemos o significado da unção do sumo sacerdote como elemento unificador do povo de Israel em torno da adoração a Deus. Agora nós já sabemos que Jerusalém, edificada sobre o monte Sião, seco e árido, pode receber bênção semelhante à vida abundante que há no vale do Hermon, onde o Senhor ordena a sua bênção, e a vida para sempre.
Irmãos queridos, será que podemos afirmar que aqui na nossa igrejinha o Senhor tem ordenado a sua bênção, e a vida para sempre? A nossa vida comunitária é um testemunho vivo aos que nos conhecem? Todos nós temos nos preocupado realmente em ajudar o próximo, o necessitado? Todos nós temos contribuído para manter a unidade na fé, participando dos estudos bíblicos e dos momentos de comunhão? As nossas reuniões aqui, e a nossa vida cotidiana têm como objetivo maior a glória de Deus?
Lembremos dessas coisas, irmãos, e nos esforcemos sobremodo para a edificação do corpo de Cristo, que é a sua Igreja, pois é somente nestas circunstâncias que o Senhor ordena a sua bênção, e a vida para sempre. Amém.