Queridos, quem conhece a História da Igreja sabe como ela tem se desviado da sua finalidade ao longo do tempo. Primeiro foi o Catolicismo Romano que tirou a Igreja do seu foco como instrumento do reino de Deus para a pregação do evangelho da salvação, substituindo as Escrituras Sagradas por tradições humanas. Como consequência, o próprio clero arvorou-se capaz de determinar a salvação e a condenação eternas.
Veio a Reforma Protestante, e uma parte da Igreja voltou às Escrituras, sem, contudo, manter-se livre de contaminações. Afinal, a Igreja é composta por pecadores, e o que é pior, há joio misturado ao trigo (Mt 13.24-30). Assim, no início do século vinte, com o advento do Pentecostalismo, novamente a Igreja substituiu a revelação objetiva de Deus nas Escrituras Sagradas por supostas revelações subjetivas, de acordo com as necessidades emocionais das pessoas. A revelação de Deus foi então substituída pela experiência humana.
Como é característica da nossa época a prevalência dos sentimentos, a prevalência da emoção sobre a razão, o Pentecostalismo gerou o Neopentecostalismo, movimento religioso desprovido de ética cristã, no qual consolidaram-se as negociações de bens simbólicos com a venda de supostas bênçãos, e a transformação de grande parte da Igreja dita evangélica naquilo que ficou conhecido nas Ciências Sociais como Mercado da Fé.
Em nosso contexto pós-moderno, a Igreja então passou a ser apenas uma instituição a mais, disputando clientes no mercado de consumo, ao lado de outros complexos econômicos. Segundo o cientista social Reginaldo Prandi, como a sociedade e a nação não precisam da Religião para nada em essencial ao seu funcionamento, e a ela recorrem apenas festivamente, a religião foi passando pouco a pouco para o território do indivíduo. E deste para o do consumo, onde se vê agora obrigada a seguir as regras do mercado.
Como é triste ver a Igreja sendo estudada e qualificada dessa maneira pela Ciência: apenas como uma instituição econômica a mais no mercado. Obviamente, essa não é a Igreja do Senhor Jesus. Como lemos, ele afirmou que a sua Igreja será edificada por ele mesmo, e que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Isso quer dizer que, mesmo com tanto joio no meio do trigo, a verdadeira Igreja de Cristo há de prevalecer em seu papel de instrumento do reino de Deus para levar a mensagem do evangelho da salvação aos pecadores.
Vamos examinar mais de perto essa maravilha de Deus.
Quando o Senhor Jesus diz a Pedro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, ele não está dizendo que Pedro é a pedra fundamental da Igreja, conforme a interpretação da Igreja Católica Romana. Aqui há um jogo de palavras, já que Pedro significa pedra. Porém, conforme podemos ver em outros textos bíblicos, a pedra sobre a qual Jesus afirma que edificará a sua Igreja é ele mesmo, e não Pedro.
Desde a profecia de Zacarias, já fora dito que de Judá sairá a pedra angular (Zc 10.4). Jesus é da tribo de Judá, e é sobre esta pedra que ele fala. Em Mt 21.42, citando o Salmo 118.22, Jesus diz: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular. A pedra é ele mesmo. Em At 4.11, com base nesta afirmação do Senhor Jesus, o próprio Pedro, cheio do Espírito Santo, confrontou os sacerdotes judeus, dizendo: Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. Em 1Co 10.4, falando sobre a salvação dos israelitas no deserto, Paulo diz que eles bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.
Portanto, não resta dúvida de que a pedra de que Jesus falou, sobre a qual ele edificaria a sua Igreja, é ele mesmo. Não é sem razão que o Salmo 118.22 citado pelo Senhor Jesus termina afirmando que isso procede do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos.
Pois bem, a Igreja edificada pelo Senhor Jesus sobre ele mesmo, como a pedra angular, é uma maravilha de Deus. Logo, quem prevalecerá contra ela? Como Jesus garante, nem mesmo as portas do inferno serão capazes de impedir que a Igreja desempenhe o seu papel como instrumento do reino de Deus.
Porém, quando vemos a Igreja sendo qualificada e estudada pela Ciência como uma instituição econômica secular na disputa por mercado, isso não acontece sem razão. O que vemos na dita igreja evangélica? Todos querem glória para si. Para além da comercialização de bens simbólicos no mercado da fé neopentecostal, todos esses programas de crescimento de Igreja como encontros de casais, encontro de jovens, cursilhos, entre outros, na tentativa de arrebanhar prosélitos, certamente devem ser classificados como aquilo que o apóstolo Paulo chama de artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro(Ef 4.14).
Prestem atenção, irmãos! Se as pessoas não forem trazidas para a Igreja pelo Senhor, elas jamais serão nutridas por ele, uma vez que elas não fazem parte do seu corpo, e nelas não habita o Espírito do Senhor. Elas jamais serão capazes de aprender a doutrina, porque o seu real desejo é a solução para os seus problemas pessoais, familiares e econômicos, e não a glória do Senhor da Igreja.
A Igreja não é um negócio humano, nem se pode pretender transformá-la num império econômico, como vemos largamente nas práticas mercantilistas de muitas denominações religiosas. Precisamos saber que a Igreja não é o reino de Deus, muito menos reino dos homens. Ela é agente do reino de Deus, o único agente neste mundo, determinado e credenciado por Deus para proclamar o evangelho da salvação.
A Igreja é do Senhor Jesus; ela é algo maravilhoso; é o corpo de Cristo formado, nutrido e edificado por ele mesmo, para habitação de Deus no Espírito (Ef 2.22). Quando a Igreja realmente é habitação do Espírito de Deus, ela vive o evangelho que prega com a vida, enquanto Deus mesmo reúne os seus eleitos (At 2.47), e estes são pastoreados por um pastor constituído pelo Espírito Santo (At 20.28), até a volta de Jesus. Como ele mesmo disse, ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor (Jo10.16).
É por isso que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Porque ela é a voz de Jesus chamando as suas ovelhas, os eleitos do Pai. No entanto, nós precisamos saber que a finalidade última da Igreja não é o seu crescimento numérico, não é a sua própria glória, mesmo sendo ela o instrumento de Deus para a pregação do evangelho da salvação.
Foi exatamente aí que a Igreja Católica Romana se perdeu, usurpando a glória de Deus, ao imaginar que tem o poder da salvação e da condenação de pecadores. Precisamos saber que Igreja sequer é a mensagem do evangelho. Ela é o meio determinado por Deus, através da qual a mensagem é pregada, de modo que Deus mesmo faça a separação entre salvos e condenados, tanto uns como outros, para louvor da sua glória.
Esta é a finalidade da Igreja enquanto instituição neste mundo: instrumento do reino de Deus. Lembrem-se, irmãos! A Igreja é o único agente de Deus, credenciado a proclamar o seu reino, a sua justiça, a mensagem do evangelho que confronta os pecadores, e os chama ao arrependimento para salvação. É por isso que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, porque ela é o instrumento de Deus para arrebanhar os seus eleitos.
Como é bom saber destas coisas! Como é bom saber que a Igreja é de Deus, e que é o Senhor Jesus quem a edifica, nutre e conduz. É por isso que conseguimos atravessar mais um ano tão cheio de dificuldades em nosso país. O Senhor cuida da sua Igreja.
Sejamos perseverantes, irmãos! Neste ano que se avizinha, continuemos buscando cada vez mais o conhecimento do Senhor, a fim de que vivamos de acordo com a sua vontade, comprovando com as nossas vidas que Deus está agindo maravilhosamente através da Igreja, para a redenção final do seu reino, para louvor da sua glória. Amém.