Como e porque devemos orar – Mt 6.5-13

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Queridos, a oração é um dos meios de graça, e uma das maiores bênçãos que Deus nos concedeu. O problema é: O que sabemos sobre a oração? Será que a oração dos ditos evangélicos não é apenas parte de um mero rito religioso presente em todas as religiões? Precisamos considerar algumas coisas sobre a oração.

Através da oração, o Senhor Deus, criador e mantenedor de todo o universo, abre-nos um canal de comunicação direto com ele, e isso chega a ser assustador. Como é que pode, o Senhor do universo, infinito em santidade, poder e glória, receber miseráveis pecadores? Daí a necessidade de um reverente temor a Deus, quando sabemos o quanto dependemos da sua misericórdia, da sua graça e do seu poder.

O verdadeiro crente sabe o quanto precisa da oração, não como meio de pedir, pedir, pedir, como se vê nas ditas reuniões de oração, mas como um meio de manter a sua vitalidade espiritual, sempre focado na santidade e na glória de Deus. Quanto mais nós conversamos com Deus através da oração, maior será a nossa intimidade com ele. Precisamos saber, também, que a oração que Deus ouve e atende, é aquela resultante dos ensinamentos da palavra inspirada pelo Espírito Santo. Esta é uma conclusão lógica. Oração sem base doutrinária não passa de mero rito religioso e cultural comum a todas as religiões.

Vamos examinar os ensinamentos de Jesus quanto à oração.

Em primeiro lugar, como o Senhor Jesus ensina, a oração deve ser dirigida ao Pai, buscando a sua santidade e a sua glória (vv.6,9,13). Aqui, na prática, já podemos ter algumas complicações. Qual o meu conceito de pai? Como é o meu relacionamento com o meu pai biológico? Eu o amo, e sei o quanto ele me ama? Eu reconheço a sua autoridade? Eu o respeito? Eu o honro com a minha obediência? Sem nenhuma dúvida, o meu relacionamento com o meu pai biológico, se me declaro um discípulo de Jesus, é apenas reflexo do meu relacionamento com Deus, o Pai celeste.

E qual o meu relacionamento com Deus? O que eu sei sobre Deus foi-me revelado por ele mesmo nas Escrituras do Velho Testamento, pelo Filho e pelos seus apóstolos no Novo Testamento, ou tenho um relacionamento subjetivo, religioso, centrado em mim mesmo? Será que tenho consciência de que somente os salvos realmente recebem o perdão, o ensinamento para a obediência, a ousadia e a confiança em Deus?

Prestem atenção, irmãos queridos! Somente o salvo tem realmente uma ligação filial com Deus, a ponto de se dirigir a ele sem nenhum receio, como uma criança se lança nos braços do seu pai. Os salvos não são apenas religiosos como os fariseus e seus prosélitos. Aqui Jesus está falando aos seus discípulos, ensinando-lhes que se dirijam ao Pai, porque em Cristo foram adotados como filhos (Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl 4.6; 1Jo 3.1-2). É nessa condição que os salvos se dirigem ao Pai, por meio de Jesus (Jo 14.13).

Obviamente, pelo que vimos até aqui, orar ao Pai, em nome de Jesus, não significa simplesmente mencionar os seus nomes, como muitos fazem, e sim, orar conforme os seus preceitos, observando a sua vontade, e não a nossa.

Como vimos no trecho lido, no tempo de Jesus havia muitos “crentes” que faziam orações arrebatadoras, porém, mesmo que supostamente dirigidas ao Pai, eram dirigidas aos homens, para impressioná-los (v.5). Como as pessoas de hoje não são diferentes das pessoas daquela época, não pode haver dúvida de que muitos estejam orando nas tais reuniões de oração, preocupados apenas com a apresentação das suas orações, em como os outros estão ouvindo, e não em agradar ao Pai, a quem realmente deve ser dirigida a oração. Como Jesus ensina, não somos nós, irmãos, muito menos os outros, quem deve apreciar a nossa oração, e sim, o Pai, a quem ela se dirige.

A nossa oração, inclusive, não precisa ter audiência, nem publicidade, para que Deus a ouça. Ele vê em secreto e nos recompensa conforme o que vê (Mt 6.6). Enfim, orar ao Pai significa sintonizar a nossa vontade com a dele, e não a dele com a nossa, como se supõe que seja, realidade claramente perceptível nas ditas reuniões de oração, em que se tenta manipular Deus para que ele faça a nossa vontade. Jamais devemos nos esquecer que Deus é santo, e a sua vontade também (6.9-10), ao passo que somos pecadores, e a nossa vontade pervertida, miseravelmente egoísta. Por isso, precisamos sintonizar a nossa vontade com a do Pai, como fez o Senhor Jesus: Meu Pai, … faça-se a tua vontade (Mt 26.42).

Em segundo lugar, sabendo que Deus é onisciente, que esquadrinha os nossos corações e as nossas mentes, precisamos ser sinceros em nossas orações (6.5-6). Conforme eu tenho mostrado a vocês, o ensino do nosso Senhor Jesus, em grande parte, era um contraponto ao ensino dos fariseus, os pastores e mestres de Israel (6.5). O contexto dessa admoestação de Jesus é o seguinte: Os judeus, em cumprimento da lei, em horas determinadas, tinham o hábito de orar nas sinagogas. Os fariseus, porém, nas horas marcadas, procuravam estar nas praças, nas esquinas das ruas mais movimentadas, e como “não deu tempo” de chegar à sinagoga, a fim de serem vistos e admirados pelas pessoas, faziam as suas orações ali mesmo, para que todos vissem.

Assim, eles passavam uma imagem de piedade, e eram respeitados pelo povo, que não tinha discernimento acerca das suas reais motivações. Por isso, o Senhor Jesus os chamou de hipócritas. Observem que, como o seu intento era ser admirados pelos homens, e eles conseguiam isso, Jesus diz que eles já foram recompensados (6.5). Ou seja, a sua oração alcançou o seu objetivo, que era a admiração dos homens, e não um relacionamento sincero e mais estreito com Deus. O que eles queriam não era o aplauso dos homens? Pois muito bem, diz o Senhor Jesus, eles conseguiram. Portanto, não esperem mais nada da parte de Deus. Irmãos, considerem estas coisas!

O nosso Deus é onisciente e sabe quando a nossa oração é sincera. Observem que este é o único ensinamento sobre como devemos orar, e Jesus nos diz que a nossa oração deve ser individual e em secreto. Não há nenhum outro ensinamento na Bíblia sobre como se deve orar. Está claro que podemos inferir a prática de reuniões de oração nas mais diversas ordens para que oremos sem cessar, para que oremos uns pelos outros, embora em nenhum momento esteja dito que isso deve ser feito em conjunto. Portanto, as tais reuniões de oração, se não forem feitas com discernimento, fruto do conhecimento da doutrina, não passam de ritos religiosos, ocasiões para manipulação do emocionalismo nas pessoas, e para exibição de oradores com as mesmas motivações dos fariseus hipócritas, condenados pelo Senhor Jesus.

Toda oração que não for feita em total reverência, com espírito de quebrantamento e coração contrito (Sl 51.17), será uma demonstração de desconhecimento do Deus santo, onisciente, que perscruta os nossos corações e as nossas motivações e, por consequência, ao invés de ser um ato piedoso que agrada a Deus, na verdade, é um ato pecaminoso que o desonra.

Em terceiro lugar, um outro aspecto que Jesus aborda nestes ensinamentos é a objetividade da oração (6.7-8). Não precisamos ficar repetindo orações como se fossem uma reza. Jesus fala isso porque era comum, no meio dos gentios, a repetição de rezas para os seus deuses, o que não é nada estranho para nós em nossos dias, inclusive com o uso da mesma glossolalia dos pagãos. Podemos ver que essa era uma prática desde os falsos profetas de Israel nos tempos de Elias. Lembram? Elias os incentiva a repetirem as suas rezas, a fim de pressionar os seus deuses (1Rs 18.26-29).

Podemos lembrar que, através da parábola do juiz iníquo (Lc 18.1-8), o próprio Jesus ensinou a prática da insistência na oração, mas o propósito ali era ensinar a perseverança na oração, conforme a vontade de Deus, e não a simples repetição incansável de uma reza. Portanto, quando entendemos o ensinamento do Mestre sobre a oração, em qualquer circunstância, sejam quais forem as nossas necessidades, jamais perderemos de vista a majestade, o poder, a santidade e a glória do Deus a quem nós nos dirigimos.

Quando entendemos o ensinamento de Jesus sobre a oração, jamais perderemos de vista que a única maneira de chegar ao Pai é através de Jesus, o nosso Salvador. Jamais perderemos de vista o quanto precisamos estreitar a nossa intimidade com Deus, e que a oração é o meio determinado por ele mesmo para esse fim. Jamais perderemos de vista que a oração assistida pelo Espírito Santo, segundo o ensino bíblico (Ef 6.18) aumentará a nossa vitalidade espiritual, nos fortalecerá contra as investidas de Satanás (Ef 6.11), e nos dará a compreensão de que o mais importante não é a satisfação das nossas necessidades ou o nosso bem-estar, mas o louvor da glória de Deus (vv.9-13).

Que Deus, pela sua graça, infunda em nossos corações os seus ensinamentos, a fim de que oremos como convém, em qualquer circunstância, em qualquer lugar, a qualquer momento, conforme a necessidade, sempre lembrando que nos dirigimos a um Deus santo, santo, santo, e tendo em vista o louvor da sua glória. Amém.