Nossa identidade com Cristo – 1Pe 2.9-19

Salvação, obediência, santidade e glória – Jo 14.21
13/02/2016
Nas trevas com Deus – Sl 88
27/02/2016

Queridos, normalmente, e infelizmente, em nossos dias o termo “evangélico” é o que nos identifica como pertencentes a alguma Igreja evangélica, independentemente de as pessoas saberem qual o real significado do termo. Evangélico é algo relativo ao evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo, ou alguém que vive conforme os ditames do evangelho. Infelizmente, o que vemos em nossos dias é que, nem as igrejas ditas evangélicas tratam do evangelho de Cristo, nem os que se dizem evangélicos vivem conforme os ditames do evangelho.

Esta semana passada vimos nos noticiários locais a prisão de uma quadrilha acusada de roubo e desmanche de carros, e o chefe da quadrilha é um dito pastor evangélico. Que coisa triste! Obviamente esse indivíduo não é pastor coisa nenhuma, mas usa o título de pastor e uma falsa igreja para enganar as pessoas, e com o seu mau testemunho, lança no mesmo saco de corrupção todos os que se dizem evangélicos.

Porém, conforme o ensino de Pedro, diferentemente dos desobedientes, daqueles que tropeçam na Palavra (v.8b), daqueles que escandalizam o evangelho, o apóstolo fala aos que realmente foram salvos, dizendo que estes são raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus (v.9a).

Lembramos que Pedro escreve a sua carta aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, e Bitínia, eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo (1.1). Como falamos no domingo passado, Pedro está tratando da salvação dos eleitos pela ação da Trindade Santíssima, associando a aspersão simbólica do sangue de Cristo vertido na cruz à nossa obediência pactual.

Assim como Moisés aspergiu o povo com o sangue dos animais sacrificados, mediante a promessa de que eles seriam obedientes às leis do pacto (Êx 24), Pedro diz que fomos aspergidos com o sangue de Cristo para a mesma obediência pactual.

Porém, conquanto Moisés tratasse especificamente com o Israel de Deus no Velho Testamento, Pedro está tratando com a Igreja de Cristo no Novo Testamento, e não mais somente com os israelitas, embora use a lei e os profetas para mostrar que o pacto de Deus é eterno, e continua válido para a sua Igreja.

Agora, uma vez salvos, não apenas os israelitas, mas todos os que compõem a Igreja de Cristo são raça eleita, lembrando a promessa de Deus a Abraão, de que nele seriam benditas todas as famílias da terra, e não apenas os seus descendentes de sangue (Gn 12.3). Através do profeta Oséias o Senhor Deus prometeu novamente: Semearei Israel para mim na terra, e compadecer-me-ei da Desfavorecida; e a Não-meu-povo direi: Tu és meu povo; e ele dirá: Tu és meu Deus (Os 2.23).

Pedro sabia do que estava falando, da raça eleita, não apenas a raça descendente de Abraão por laços sanguíneos, mas uma raça descendente de Abraão pela mesma fé, como ensina Paulo, para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito Santo (Gl 3.14). A Igreja é o mesmo povo, a mesma raça eleita por Deus a partir de Abraão, de Israel, o meu povo, o meu escolhido, povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor (Is 43.20-21).

Irmãos queridos, nós não podemos fazer pouco caso de tão grande graça, de tão grande maravilha, de tão grande salvação. Nós não podemos viver de outra maneira que não seja para celebrar o louvor do nosso Deus, que nos escolheu e nos salvou em Cristo.

Pedro sabia do que estava falando, de um sacerdócio real cujo reino é o reino de Deus, e cujo rei é o próprio Deus, e não apenas um rei humano, pecador, corrupto, como aconteceu em Israel, o que levou os sacerdotes a se corromperem. Uma das funções dos sacerdotes de Israel era mediar as relações do povo com Deus, oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, e somente eles podiam fazer isso em Israel.

Pois bem, na Igreja de Cristo, na formação evolutiva desta raça eleita, todos são transformados em sacerdócio real, sacerdotes do Deus altíssimo por causa de Cristo, e em Cristo, o sumo sacerdote que nos deu, de uma vez por todas, livre acesso ao trono da graça do Pai, como nos ensina o escritor aos Hebreus. Agora todos nós devemos interceder uns pelos outros, e nos sacrificar uns pelos outros como Jesus ordenou.

Irmãos queridos, nós não podemos negligenciar a tão grande privilégio. Como Cristãos, somos investidos do poder sacerdotal de Cristo, e não podemos viver de outra maneira que não seja para celebrar o louvor da glória do nosso Senhor e Salvador.

Pedro sabia do que estava falando, de uma nação santa, uma nação diferente das demais. Santa quer dizer separada: separada por Deus, separada do mundo, e separada para Deus com o objetivo específico de testemunhar a sua glória, a redenção da criação caída, especialmente a salvação dos seus eleitos, para louvor da sua glória.

Obviamente, para testemunhar ao mundo, essa nação tem que estar no mundo, mesmo sem ser do mundo. O próprio Senhor Jesus, quando orou pelos seus discípulos, não pediu ao Pai que os tirasse do mundo, mas que os guardasse do mal, santificando-os na verdade, que é a sua palavra (Jo 17.15-17).

Prestem atenção, irmãos! Se somos discípulos de Cristo, precisamos demostrar a nossa identidade com ele. Como sua Igreja, precisamos ser esta nação santa capaz de fazer a diferença na sociedade, sem participar da corrupção social em que jaz o mundo. Portanto, a Igreja, como nação santa, ainda que separada do mundo, precisa estar neste mundo de trevas para poder resplandecer a luz de Cristo, conforme ele ordenou aos seus discípulos (Mt 5.14). Não é dentro do prédio que chamamos de igreja que nós precisamos demonstrar a nossa identidade com Cristo, e sim, no mundo.

Pedro sabia do que estava falando, de um povo de propriedade exclusiva de Deus, diferente de todas as outras nações que também pertencem a Deus. A noção é esta, irmãos. Deus, como rei do universo, é dono de todas as coisas, assim como um rei no contexto de Israel era dono de todas as coisas dentro do seu reino. Porém, algumas coisas eram de propriedade exclusiva do rei, como a sua esposa, ou esposas, os seus filhos, e os seus tesouros particulares, por exemplo. Pois é este o conceito que Pedro queria que que os seus leitores tivessem. Dentre todas as propriedades de Deus, nós somos uma propriedade especial, exclusiva. É muito privilégio ser a uma categoria especial para Deus.

Convém frisar, agora, como o apóstolo ensina, com que finalidade Deus criou essa raça eleita, essa nação santa, esse sacerdócio real, esse povo exclusivo, pinçando os seus eleitos dentre todas as nações, e não mais somente o povo de Israel. Na sua sabedoria, no seu poder, Deus designou espalhar a luz do evangelho entre todas as nações do mundo, criando uma nação além-fronteiras geográficas e raciais, exatamente para que o louvor da sua glória fosse disseminado por todo o seu mundo criado.

Eis a nossa responsabilidade como povo de Deus. Agora que alcançamos misericórdia, precisamos viver em santidade tal que nos identifique como evangélicos verdadeiros, e com o Cristo do evangelho. Quando recebemos a salvação, compreendemos a nossa identidade com Cristo, e lutamos para viver como ele viveu e ensinou, para louvor da glória de Deus. É isso que se espera de nós, raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, Igreja de Cristo.

Que Deus nos ajude. Amém.