Queridos, estamos na chamada Semana Santa, no domingo da ressurreição para os cristãos, na festa da Páscoa, festa consumista de ovos de chocolate para os acidentais capitalistas. Na verdade, a Páscoa é uma festa judaica que foi miscigenada no cristianismo, e agora muitas pessoas não sabem mais do que se trata, a não ser o hábito social de dar e receber ovos de chocolate, associados ao coelho da páscoa, criação capitalista.
A Páscoa tem a ver com a décima praga que Deus mandou sobre o Egito para a libertação do seu povo. Naquela ocasião, cordeiros foram sacrificados, e o seu sangue passado nas vergas das portas das casas dos judeus, para que o anjo da morte não entrasse nelas. Portanto, o sacrifício dos cordeiros simbolizava o sacrifício do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Jesus, como João Batista o apontou (Jo 1.29).
Porém, a festa da Páscoa ocidental, para a maioria das pessoas, não traz a lembrança de que o Cordeiro de Deus é sinônimo de morte sacrificial, especialmente porque, na festa da páscoa ocidental, o cordeiro foi substituído pelo coelho. Nada nos lembra que o Filho de Deus, o Criador de todas as coisas, é o cordeiro da Páscoa, o mesmo servo sofredor de Isaías. Como isto é possível? Como pode o Senhor da glória, em algum momento, especialmente em dias de festa, ser o servo sofredor com um aspecto desfigurado de tanto sofrimento? Pois assim foi a última Páscoa do Senhor Jesus.
Conforme a profecia que lemos, Isaías nos apresenta este servo sofredor, o cordeiro da Páscoa que foi sacrificado em nosso lugar. Sabemos que, após a Queda, o pacto eterno de Deus com a sua criação previa a vinda de um redentor, o descendente da mulher, aquele que pisaria a cabeça da serpente, conforme está escrito em Gn 3.15. Também sabemos pelas Escrituras que o pecado gerou a morte, conforme o pacto de Deus com Adão, por meio de quem entrou o pecado e a morte na criação.
Como o pecado trouxe a morte, ali foi sacrificado o primeiro animal para cobrir a vergonha do pecado de Adão, o que já apontava para o sacrifício de Jesus. Convém lembrar que, na história da humanidade, sempre houve necessidade de se fazer sacrifícios de animais, e até mesmo de pessoas, para apaziguar os “deuses” irados com humanos fracos e pecadores, a fim de que os “deuses” lhes fossem favoráveis, e lhes preservassem a vida. Pois bem, a história bíblica não é tão diferente em seu relato. Ela é diferente na essência, no significado, e na eficácia do sacrifício.
Diferentemente dos sacrifícios pagãos, conforme a lei de Moisés, foi Deus quem estabeleceu o sacrifício de animais como ele queria, e estes deveriam ser mortos em lugar dos pecadores, para aplacar a sua ira santa por causa dos pecados do seu povo. Ao longo do relato bíblico, podemos ver claramente que todos aqueles sacrifícios apenas prefiguravam o sacrifício eficaz de Jesus, o descendente da mulher prometido em Gn 3.15, o servo sofredor sacrificado como profetizou Isaías (53.4-7), o Cordeiro de Deus (Jo 1.29).
Mas, por que Jesus teria que sofrer tanto? Por que ele teria que morrer? Como já dissemos, a história bíblica não é tão diferente da história da humanidade no que se refere a oferecer sacrifícios para aplacar a ira dos “deuses”. Não é tão diferente, mas as diferenças são radicais. Primeiramente, na história da humanidade, são os homens que escolhem as ofertas de sacrifício para aplacar a ira dos “deuses”, para torná-los favoráveis aos ofertantes. Ou seja, os sacrifícios são feitos de acordo com os interesses do ofertante, em seu favor, sendo ele o beneficiado pela sua oferta aos “deuses”.
Na história bíblica, de forma diferente, o sacrifício eficaz é determinado pelo próprio Deus, oferecido pelo seu Filho, a fim de nos reconciliar com o Pai, uma vez que não há nenhuma possibilidade de o homem pecador oferecer sacrifício capaz de apaziguá-lo com o Deus santo. Não pode haver qualquer ação ou oferta do homem pecador que aplaque a ira santa de Deus por causa dos pecados que ofenderam a sua santidade.
Acontece que o homem pecou, portanto, tem que morrer por causa do seu pecado, conforme o pacto de Deus. O dia que pecar, morrerá (Gn 2.16). Mas, se o sacrifício de um pecador não pode agradar a Deus, não pode favorecer ao pecador diante de um Deus irado por causa do pecado, qual a solução? Quem é o único que pode ter a solução? O próprio Deus! Por isso, conforme a sua determinação eterna, ele ofereceu o seu único Filho como a única solução para o impasse entre a maldição do pecado e a sua santidade.
Percebem a grande diferença, irmãos? Nos sacrifícios pagãos da humanidade, o ofertante é o beneficiário da sua oferta. Na Bíblia, o Filho de Deus, o descendente da mulher, o servo sofredor, o Cordeiro que foi sacrificado não foi a causa, nem foi o beneficiário do seu sacrifício. Não foi por causa dos seus pecados que ele se ofereceu em sacrifício para agradar a Deus Pai, e sim por aqueles pecadores que o Pai elegeu desde a eternidade para ser o seu povo santo.
Os irmãos percebem como isso é maravilhoso? O descendente da mulher lá de Gn 3.15 é o Deus Filho, o servo sofredor da profecia de Isaías, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, aquele que seria sacrificado por ocasião da Pascoa, mesmo sem pecado, puro, santo, justo, para que, como ensina o apóstolo Paulo, o próprio Deus seja justo e justificador de pecadores que não podem se justificar diante dele (Rm 3.26).
É por isso que o Filho de Deus teria que vir ao mundo como o descendente da mulher (Gn 3.15); é por isso que, como o servo sofredor de Isaías, ele teria que sofrer tudo aquilo que sofreu, e teria que morrer de forma tão humilhante e tão horripilante naquela cruz. Como lemos, o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência mais do que as dos outros filhos dos homens (52.14). Como sofreu o Senhor Jesus, o servo sofredor, o Cordeiro da Páscoa.
Mas, por que tanto sofrimento? Por causa da ira de Deus contra os nossos pecados. Irmãos queridos, não podemos deixar de enxergar o horror do nosso pecado, e o quanto esse pecado ofendeu a santidade de Deus, sendo ele o único capaz de nos apaziguar consigo mesmo. Por isso, ele enviou o seu próprio Filho para oferecer-se como sacrifício em lugar de pecadores. Em nosso lugar, como lemos, o servo sofredor foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca. (…) foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo foi ele ferido (53.7-8).
Esta é a dimensão do horror do nosso pecado: Foi preciso que o próprio Deus, na pessoa do Filho, viesse ao mundo como descendente da mulher, como servo sofredor, como cordeiro para oferecer-se em sacrifício único capaz de aplacar a ira de Deus, satisfazendo, assim, a sua justiça, e livrando-nos do seu juízo contra os nossos pecados. Que coisa linda! Que coisa maravilhosa! Como é bom ouvir isso! Aqui eu poderia encerrar a mensagem enfatizando o lado que tanto gostamos de ouvir nas pregações humanistas: o quanto nós somos preciosos para Deus, o quanto ele nos ama, etc., etc., e isto é verdade.
Porém, eu preciso lembrar que, se esta profecia foi dada primeiramente para Israel, ela se estende para a Igreja, e Isaías faz uma acusação muito grave. Ele diz que o servo sofredor era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens esconderam o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso (53.3). Atenção! Não fizemos, nós, o profeta está acusando o pecado do povo de Deus, o nosso pecado em não reconhecer Deus no servo sofredor, no Cordeiro que foi sacrificado na festa da Páscoa por causa dos nossos pecados, e que foi substituído por um coelho que dá ovos de chocolate.
Que coisa horrível, irmãos! Não podemos esquecer o que aconteceu com o Senhor Jesus na sua última festa da Páscoa. Não podemos esquecer que, mesmo sendo o servo sofredor, mesmo sendo o Cordeiro que foi sacrificado em nosso lugar, ele é o Senhor da criação, ele é o Senhor da redenção, ele é o Filho de Deus que morreu, ressuscitou, e que ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito (53.11).
Não podemos deixar de glorificar o nosso Deus, sabendo que, como ele prometeu, apesar de nós, o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso eu lhe darei muitos como a sua parte (53.12). Isso quer dizer que, apesar de nós, Deus nos escolheu e nos deu ao Filho que se ofereceu em sacrifício por nós.
Este é o significado da Páscoa do servo sofredor, irmãos. Assim como os cordeiros foram sacrificados para a libertação do povo de Deus da escravidão do Egito, Jesus, o servo sofredor, foi o Cordeiro de Deus sacrificado para nos libertar da escravidão do pecado. Não podemos esquecer estas coisas, especialmente quando sabemos que ele ressuscitou, reassumiu a sua glória à direita de Deus Pai, como Senhor da criação e da redenção, e virá buscar aqueles por quem morreu, aqueles que o Pai lhe deu.
Que Deus nos conceda a graça de saber que estamos entre aqueles que ele deu ao Filho, aqueles que foram justificados pelo servo sofredor, o Cordeiro de Deus que, por causa dos nossos pecados, ofereceu-se em sacrifício ao Pai para nos reconciliar com ele. Que Deus nos conceda mais graça ainda para que, a par desse conhecimento, vivamos de modo digno dele, para louvor da sua glória. Amém.