Queridos, todos nós aprendemos que Deus é amor, bondoso, gracioso e misericordioso. Porém, via de regra, nós só enxergamos esse amor de Deus quando nos sentimos favorecidos por ele, quando nos acontece algo que consideramos bom segundo os nossos valores, e este não é um testemunho verdadeiro de Deus e do seu amor eterno.
Precisamos conhecer o nosso Deus, até para responder a questionamentos do tipo: Como um Deus que é amor permite a morte de crianças vitimadas por guerras? Como Deus tolera a ganância dos políticos corruptos que contribuem para aumentar a miséria do povo? Como um Deus que é amor deixa que poucos tenham fartura, enquanto milhões morrem de fome? Como um Deus que é amor permite que pessoas justas e piedosas sejam perseguidas e martirizadas exatamente pelos injustos que dominam o mundo?
Nestas circunstâncias, como falar acerca do amor de Deus, que é eterno?
Em primeiro lugar, podemos falar da bondade de Deus, que é uma faceta do seu amor. Como lemos no texto de Tiago, toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tg 1.17). Esse versículo afirma tanto a bondade como a imutabilidade de Deus, e como Deus é amor, ele é eternamente bom porque essa é a sua lei para si mesmo.
Como está escrito, a terra está cheia da bondade do Senhor (Sl 33.5). Também está escrito que o Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras (Sl 145.9), e no v.16, mais adiante, abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente. Observem que Deus é bom para toda a sua criação, para todo vivente, para bons e maus.
Quando conhecemos o amor de Deus, sabemos que ele não é bom com as suas criaturas apenas de forma responsiva, retributiva, com base no que elas são ou deixam de ser, com base no que elas fazem ou deixam de fazer. Embora esta seja uma verdade bíblica, Deus é bom baseado no seu amor, e isso não depende do objeto amado.
E as tragédias? E as barbáries? E as injustiças? São frutos do pecado do homem a nos provar que não podemos viver sem Deus. Não fosse o amor de Deus, e o seu poder que controla o mal, a sua bondade que transforma o mal em bem, não teríamos livramento das terríveis consequências do pecado, e já teríamos causado a nossa própria extinção.
Em segundo lugar, podemos falar da graça de Deus, que é outro aspecto do seu amor. Sabemos que Deus não está satisfeito com o estado de miséria em que vive o mundo, e nem desejou que isso acontecesse. Segundo o seu propósito eterno, Deus permitiu o pecado, não sem antes avisar aos nossos primeiros pais, Adão e Eva, que escolheram pecar deliberadamente, trazendo a desgraça para a sua descendência.
A terra foi amaldiçoada, e o apóstolo Paulo nos ensina que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora (Rm 8.22). E aqui podemos ver a graça de Deus. A sua criação que geme e suporta angústia não ficará assim eternamente. Antes, no v.21, o apóstolo já havia dito que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
Por causa dos eleitos, por causa dos filhos de Deus, toda a criação será redimida no dia do Senhor. Haverá novo céu e nova terra, tudo se fará novo, e enquanto esse dia não chega, podemos ver a graça de Deus sendo derramada inclusive sobre os maus. Em Is 26.10, nós lemos que Deus é gracioso com o perverso, ainda que este não aprenda a justiça. Em Mt 5.45, o Senhor Jesus afirma que o Pai celeste faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.
Prestem atenção, irmãos! Embora a salvação seja graça concedida apenas aos seus eleitos, Deus, pela sua graça, também concede outros dons, talentos e habilidades a bons e maus. Os bons não são melhores que os maus. Na verdade, todos são igualmente pecadores diante de Deus. A diferença está na graça salvadora de Deus, que ele concede a quem que ele mesmo escolheu. Esse conhecimento de Deus, do seu amor gracioso deve nos manter humildes diante dele, fieis no testemunho de Jesus, solidários com o próximo, chamando pecadores ao arrependimento para serem salvos pela graça de Deus.
Em terceiro lugar, podemos falar da misericórdia de Deus, que é outra faceta do seu amor. O Sl 136, do início ao fim conclama Israel a louvar a Deus porque a sua misericórdia dura para sempre. Como também podemos ler no Sl 145.9, o Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras. Em outra mensagem, já falamos sobre as misericórdias de Deus, que são a causa de não sermos consumidos, e que precisamos trazer isso à memória (Lm 3.21-22).
Mais uma vez, também precisamos lembrar que, assim como o amor, a bondade e a graça de Deus são concedidos a bons e maus, a misericórdia de Deus segue o mesmo padrão: as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras. É por isso que, em seu ensino, o Senhor Jesus nos ordena: Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai (Lc 6.35-36).
Percebem, irmãos? Se os ingratos e maus, mesmo recebendo amor, bondade, graça e misericórdia de Deus, não aprendem a sua justiça, e são agentes na promoção de tragédias, barbáries e injustiça, precisamos ser misericordiosos com eles como Deus é misericordioso conosco. Afinal, todas estas coisas estão sob o guarda-chuvas do amor de Deus, de quem procede toda boa dádiva e todo dom perfeito. O que nos pode parecer tragédia, barbárie e injustiça promovidas pelos maus, na verdade pode ser manifestação do amor de Deus por nós, como foi o caso da terrível morte de Jesus na cruz do Calvário.
Para falar do amor de Deus, nós precisamos saber destas coisas. Afinal, os eleitos de Deus recebem amor, bondade, graça e misericórdia especiais, o que nos capacita a compreender o amor, bondade, graça e misericórdia concedidos aos maus, segundo o propósito de Deus.
Quão bem-aventurados são os que conhecem o amor de Deus, de quem procede toda boa dádiva e todo dom perfeito. Estas três facetas do amor de Deus, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança, são suficientes para percebermos essa verdade, e com conhecimento falar do eterno amor de Deus, amor que é destinado a bons e maus, a crentes e incrédulos, segundo o seu propósito.
Porém, somente os eleitos de Deus compreenderão este amor de forma especial, a ponto de, como Deus, manifestar bondade, graça e misericórdia até mesmo aos perversos, aqueles que promovem tragédias, barbáries e injustiça, a fim de que Deus salve os que ele mesmo escolheu desde a eternidade.
Irmãos queridos, conhecendo o amor de Deus, o que se espera de nós é que vivamos de modo digno desse amor, como filhos de Deus, agentes da boa dádiva e do dom perfeito de Deus para a salvação dos seus eleitos, para louvor da sua glória. Amém.