Queridos, conforme as Escrituras, Deus criou todas as coisas e, por último, criou o homem para administrar a criação, incluindo-o em um pacto de vida e morte. Desde Gênesis nós vemos que o homem foi criado à imagem de Deus, mas vemos que a plenitude dessa imagem foi perdida no momento em que Adão pecou, quebrando o pacto ao desobedecer à ordem de Deus. A partir dali, como Adão e Eva são os pais de toda a raça humana, todos nascemos com a imagem de Deus, porém, já deformada pelo pecado, especialmente quanto ao aspecto moral. Perdemos a comunhão com Deus.
Aqui reside o problema. Segundo o entendimento geral, como o ser humano foi criado à imagem de Deus, ele é uma pessoa racional, inteligente, criativa e livre para tomar suas próprias decisões a respeito do que deve fazer, e isto é verdadeiro, em parte. Segundo o entendimento geral, o ser humano é moralmente capaz de escolher o que lhe agrada, de acordo com o seu discernimento do que seja bem e mal, certo e errado, e isto é totalmente falso. Isto é o que conhecemos como livre arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher entre todas as opções morais que determinada situação oferece. Este é o entendimento geral.
Acontece que as pessoas, inclusive ditas crentes não sabem, não lembram, ou não acreditam na verdade bíblica, de que o homem perdeu a imagem e semelhança de Deus em sua plenitude, no momento em que a sua integridade moral foi corrompida pelo pecado. A partir da queda de Adão e Eva, eles e toda a sua descendência perderam a capacidade natural de discernir e escolher os caminhos de Deus.
Com a perda da imagem de Deus por causa da corrupção moral, não temos mais nenhuma inclinação natural em direção a Deus. Nesse sentido, nessa direção a Deus, não temos mais livre arbítrio nenhum. É isso que Paulo ensina aos romanos, citando as Escrituras: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Paulo está fazendo citação dos Salmos 14 e 53).
Esta é a terrível realidade que se vê desde o princípio. Em Gn 3.8 nós lemos que quando Adão e Eva pecaram, procuraram logo se esconder da presença de Deus, porque a sua inclinação natural em direção a Deus foi destruída naquele momento. Os seus corações foram escravizados pelo pecado, e esta condição se estendeu a toda a sua geração.
E agora? Estamos irremediavelmente perdidos? Não! Deus, na sua infinita sabedoria, pela sua imensa graça, já havia incluído no seu pacto eterno o meio e o Mediador capazes de restaurar a sua imagem em nós.
E qual é esse meio? A regeneração, que significa gerar novamente, fazer nascer de novo. Este é o único ato que pode nos libertar da escravidão do pecado, da morte eterna, do inferno, e esse ato é divino, pela mediação do Senhor Jesus, no poder do Espírito Santo. Foi isto que o Senhor Jesus disse a Nicodemos em Jo 3.3,5 – em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, …, da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. Convém frisar que Jesus não convidou Nicodemos para mudar de religião, segundo o seu livre arbítrio. A questão era de morte e ressurreição, e isso não dependia de Nicodemos, assim como não depende de qualquer ser humano.
Foi isso que o apóstolo Paulo também ensinou aos Romanos: Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mais uma vez lembramos que o apóstolo não está tratando simplesmente da religião dos Romanos, e sim da salvação como um todo, do pecado que escraviza, que leva à morte, e da obediência como fruto da vida que leva à justiça de Deus. Por isso, ele conclui afirmando que o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 6.16-23).
Ainda outra vez o mesmo apóstolo Paulo ensina aos Efésios: Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2.1,8). Percebem, irmãos? A situação é muito mais grave do que normalmente se imagina, se vive e se prega, quando simplesmente se convida as pessoas a mudar de religião, numa atitude proselitista, como se vê em igrejas de qualquer denominação e de qualquer religião.
Todos os trechos bíblicos que tratam desse assunto, da salvação, nos mostram que somente as pessoas que tiveram a sua vontade liberta da escravidão do pecado têm condição de escolher os caminhos de Deus. E se precisamos ser libertos é porque não somos livres, logo, não temos livre arbítrio, nem podemos decidir buscar a Deus, uma vez que não temos o poder de renascer, e de restaurar a imagem de Deus em nós.
Só o próprio Deus, em Cristo Jesus, tem esse poder. Por isso Jesus afirmou: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado (Jo 8.34). E, em seguida, como o Mediador do pacto eterno de Deus, ele aponta a única solução: se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres (Jo 8.36).
Percebem, irmãos? Esta é a verdadeira condição do ser humano, condição que ele desconhece, e que precisa ser-lhe informado em primeiro plano. Em matéria de pregação do evangelho a pessoas não-crentes, não-convertidas, esta é a primeira coisa que deve ser-lhe dita: o homem é, realmente, um ser moralmente responsável por suas escolhas e atos. Porém, como a integridade moral, que faz parte da imagem de Deus no homem foi corrompida pelo pecado, este o escravizou e o afastou de Deus, pelo que o homem pecador foi expulso do paraíso, e só há um Mediador capaz de libertá-lo da escravidão do pecado, e restaurar a sua comunhão com Deus: Jesus Cristo, o Senhor.
E mais, a nossa função como Igreja, como pregadores do evangelho, é apenas demonstrar esta verdade em nossas vidas e através de nossas vidas, expondo-a com integridade. Se depois do pecado de Adão não há um justo sequer, se não há quem busque a Deus, se somente Deus, pelo seu Mediador, que é Jesus, pode libertar o pecador da escravidão do pecado, da morte e do inferno, lançar mão de métodos e metodologias, planos e planejamentos, técnicas e tecnologias humanas apenas com a intenção de aproximar as pessoas, fazendo-as mudar de religião sem lhes dizer qual a sua real condição diante de Deus, como se vê nas igrejas em geral, isso é abominação a Deus, é um ultraje à sua soberania, é um insulto a sua inteligência, é desobediência à sua palavra.
Conforme o Senhor Jesus ordenou, e os seus apóstolos ensinaram, se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; ou seja, não podemos ficar aquém nem ir além das Escrituras, conforme o Senhor Jesus ordenou. E o apóstolo Pedro continua, se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, ou seja, não há qualquer força, nem deve haver qualquer esperteza em nós na missão de pregar o evangelho, para que, Pedro conclui, em todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém (1Pe 4.11).
Percebem, irmãos? A missão de pregar o evangelho é divina. Nós somos apenas agentes dessa missão. Portanto, que todos aqui presentes, e os que nos assistem, possam clamar a Deus incessantemente para que derrame da sua graça sobre nós, e que tenha misericórdia daqueles aos quais testemunharmos a maravilhosa salvação que há somente em Cristo Jesus, o Mediador da aliança eterna de Deus.
Afinal, como afirmam as Escrituras, entre os homens pecadores não há um justo sequer, mas, através do Mediador da aliança, o Justo Jesus, Deus imputa a sua justiça àqueles a quem ama, para que possam reconhecer a sua real condição diante de Deus, e clamar: Senhor, agora sei que sou um miserável pecador, um ser corrompido e degradado pelo pecado. Sei que tenho unicamente em mim o desejo de me afastar mais e mais da tua presença. Por isso, eu te peço: Tem misericórdia de mim; restaura a tua imagem em mim; renova o meu coração; liberta-me, e eu serei livre; salva-me e eu serei salvo, para o louvor da tua glória.
Esta é a mensagem de Deus para a sua Igreja. Que ele mesmo, pela sua graça, infunda a sua palavra em nossos corações. Amém.