Queridos, como já temos visto pelo estudo das Escrituras, Deus fez um pacto eterno com a sua criação, e esse pacto tem um mediador, o Senhor Jesus Cristo. Também já vimos que, como Mediador, Jesus desempenha três ofícios, quais sejam Profeta, Sacerdote e Rei. No domingo passado falamos sobre o seu ofício de Profeta, e hoje falaremos do seu ofício de Sacerdote, conforme os versículos que lemos.
Pois bem, quando falamos de Jesus como o nosso Sumo Sacerdote, a nossa mente logo nos remete à sua obra na cruz do Calvário. Afinal, foi ali que Jesus ofereceu-se como o cordeiro de Deus em sacrifício pelos nossos pecados. Depois, quando lembramos que Jesus ressuscitou, subiu ao céu, e rogou ao Pai que nos mandasse outro Consolador, o Espírito Santo, então parece que a ideia de que Jesus está ausente deste mundo fica ainda mais forte, especialmente depois do advento do pentecostalismo, no início do século vinte.
É como se Jesus tivesse se aposentado momentaneamente para descansar da sua dura missão aqui na terra, deixado o Espírito Santo para continuar a sua obra, e só volte à atividade novamente no momento em que vier julgar o mundo e buscar a sua igreja. Obviamente, não é este o ensino bíblico acerca do ofício sacerdotal de Jesus Cristo.
Quando Jesus prometeu que pediria ao Pai o envio de outro Consolador, a palavra “outro”, por conceito, pressupõe a existência de um Consolador em atividade, que é o próprio Senhor Jesus, e é bom repetir que ele não se aposentou do seu ministério sacerdotal. O ofício sacerdotal de Jesus não terminou na cruz. O seu ministério de intercessão pelos eleitos do Pai faz parte do seu ofício sacerdotal. Conforme lemos, ele não apenas morreu na cruz por nós, como ressuscitou e subiu ao céu, onde está assentado à direita do Pai, e também intercede por nós.
Portanto, quando oramos ao nosso Deus, devemos ter em mente a obra da salvação como um todo. Normalmente, repito, tendemos a lembrar da obra expiatória de Jesus na cruz do Calvário como algo separado da sua obra intercessória, o que é um equívoco. Na verdade, a expiação e a intercessão são dois aspectos da obra redentora do Mediador da aliança eterna de Deus, consumada pelo Senhor Jesus em seu ofício sacerdotal.
Irmãos, a falta de compreensão dessa verdade é que leva muitos ditos crentes a fazerem tantas orações tolas, sem sentido, sem nenhuma possibilidade de serem atendidos por Deus. Para orar corretamente nós precisamos conhecer o nosso Deus. Para orar corretamente nós precisamos conhecer o Mediador da aliança, o Senhor Jesus Cristo. Para orar corretamente nós precisamos saber no que consiste a sua obra salvífica, e qual a abrangência do seu ofício sacerdotal.
Porque eu estou falando estas coisas? Por ver e ouvir tantas vezes irmãos em situação conflitante com a vontade de Deus, declarando que só querem fazer a vontade de Deus. Outros, pedem que tudo seja feito conforme a vontade de Deus, mas, de forma flagrante, vivem deliberadamente em pecado, contrariando a vontade Deus revelada nas Escrituras. Como imaginar que será feita a vontade de Deus em tais circunstâncias, em pessoas que se dizem crentes, mas que estão deliberadamente distantes dos caminhos do Senhor?
Prestem atenção, irmãos! Segundo o texto que lemos, o apóstolo Paulo está afirmando dois aspectos do ofício sacerdotal do Senhor Jesus: a sua morte expiatória na cruz do Calvário, e a sua intercessão no céu junto ao Pai. Porém, Paulo está falando a respeito dos eleitos do Pai (v.33). Ele está falando a respeito de pessoas redimidas, e estas não vivem deliberadamente em pecado, afrontando a santidade de Deus.
Portanto, os que vivem deliberadamente em pecado, e que, via de regra, nutrem os mesmos pecados muito bem aninhados no coração, estão fora desse grupo dos eleitos do Pai pelos quais Jesus se sacrificou e intercede. Precisamos saber que, como Sacerdote, a obra intercessória de Jesus é exclusivamente em favor dos remidos pelo seu sangue. Precisamos saber, ainda, que a sua oração não se limita a assumir a responsabilidade diante do Pai pelos nossos pecados. Como Sacerdote, a obra intercessória de Jesus também está ligada à nossa santificação, cuidando, inclusive, das nossas orações (Rm 8.26). Foi exatamente para isso que ele nos enviou o Espírito Santo, para nos conduzir em santidade de vida até que ele volte.
Irmãos, esse conhecimento é precioso demais para que o desprezemos. Quando oramos em nome de Jesus, que é o nosso intercessor junto ao Pai, ainda temos o Espírito que santifica as nossas orações. Agora, prestem atenção! As orações de quem? As orações dos eleitos de Deus, dos salvos por Jesus! É por isso que as nossas orações devem ser feitas em nome de Jesus, porque, como sacerdote, ele não apenas ofereceu sacrifício por nós, como foi o próprio sacrifício por causa dos nossos pecados, morreu na cruz do Calvário, ressuscitou, subiu ao céu e está assentado à direita do Pai, intercedendo por nós, e nos deixou o Espírito Santo para nos conduzir, inclusive em nossas orações.
É por isso que a obra intercessória de Jesus não pode falhar, porque ela está baseada na sua obra expiatória como Mediador da aliança eterna de Deus. Mesmo antes da cruz, podemos ver o Senhor Jesus orando ao Pai em favor de Lázaro, e ali ele já dizia que o Pai sempre o ouve. Foi assim que ele orou: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves (Jo 11.41-42).
Jesus orou por Lázaro, por Pedro, pelos seus doze discípulos, e por todos os eleitos, aqueles que vierem a crer no evangelho pregado por eles (Jo 17.20), e a sua oração não pode falhar, porque a sua vontade é a vontade do Pai; porque ele e o Pai são um (Jo 10.30), e em sua oração sacerdotal ele pediu ao Pai que nós fôssemos um com ele (Jo 17.21). E se ele orou assim, assim será.
É com esse conhecimento que o apóstolo questiona: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Ou seja, a obra sacerdotal de Jesus envolve a expiação na cruz do Calvário, e a intercessão pelos eleitos, os mesmos pelos quais ele morreu.
Pois muito bem, se sabemos que, em seu ofício sacerdotal, o Senhor Jesus continua intercedendo por nós junto ao Pai; se sabemos que o zelo do Senhor por nós é tão grande, que nos deixou o seu Espírito Santo para nos conduzir, e nos assistir, inclusive em nossas orações, como têm sido a nossa vida como testemunhas de Jesus? Como têm sido as nossas orações uns pelos outros? A nossa vida tem demonstrado que estamos crescendo em santidade, no pleno conhecimento do Senhor, sob a intercessão de Jesus e sob a condução do Espírito Santo?
É bom lembrar que as acusações do tentador só não têm efeito contra os eleitos de Deus. Somente estes são agraciados com a expiação na cruz do Calvário; somente estes são objeto da intercessão de Jesus junto ao trono do Pai, e pela condução do Espírito Santo, o outro Consolador que Jesus nos deixou.
Por isso, que cada um possa fazer um exame honesto da sua vida, e buscar uma comunhão cada vez mais estreita com Deus, o que só pode ser evidenciado na comunhão mais estreita com os irmãos, a partir da compreensão da abrangência do ofício sacerdotal de Jesus em nossas vidas. Afinal, somos o seu corpo, a Igreja de Cristo.
Que Deus nos conceda graça para compreender a sua Palavra, e mais graça para que possamos pô-la em prática. Amém.