Queridos, nos dois últimos domingos vimos falando de Jesus, o Mediador da aliança, o Messias de Deus, e vimos que para fazer esta mediação Jesus exerce três ofícios distintos, simultâneos e complementares: Profeta, Sacerdote e Rei. Já o vimos como Profeta, aquele que fala da parte de Deus para o homem, que revela a vontade perfeita de Deus para nós; já o vimos como Sacerdote, aquele que fala do homem para Deus, que representa o homem diante de Deus no momento em que intercede por nós, e faz sacrifícios pelos pecados para apaziguar Deus com o pecador, e hoje o veremos como Rei, aquele que exerce domínio sobre toda a sua criação, aquele que vence a batalha contra os inimigos e conduz o processo de redenção da criação caída, conforme o plano eterno de Deus, especialmente para a salvação dos eleitos do Pai.
Vamos lembrar rapidamente a história. No princípio Deus criou todas as coisas e entregou a administração da criação ao homem, ordenando-lhe que não comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem desobedeceu, e por isso Deus amaldiçoou toda a criação. A partir daí a relação do homem com a criação que ele deveria governar pacificamente, inclusive a sua mulher, passou a ser de conflito, como se vê em nossa experiência de relacionamentos com toda a natureza criada por Deus.
Porém, em seu plano eterno, pela sua graça, Deus já havia determinado a solução para o problema do pecado, desde a eternidade. O seu pacto com a natureza criada e caída já contemplava o Mediador capaz de resolver o conflito causado pelo pecado da desobediência do homem. Esse Mediador é Jesus, o Deus Filho encarnado, que nasceu da virgem Maria, aquele que veio para tomar sobre si a maldição imposta pelo Pai por causa do pecado do homem, e redimir toda a sua criação.
É com esta finalidade que ele desempenha os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. Em seu ofício de Rei, o Senhor Jesus, aquele que é Rei desde a eternidade, criador de todas as coisas, abriu mão da sua glória para vir ao mundo em forma humana, e vencer todos os nossos inimigos: Satanás, o mundo e a própria morte, ao morrer na cruz do Calvário e ressuscitar ao terceiro dia, restabelecendo, inclusive, o domínio original do homem, domínio que lhe fora dado antes de pecar, e que ele perdeu por causa do pecado. Como Rei, o Senhor Jesus reconquistou para nós o status de filhos de Deus.
Esta é a vitória que Jesus, como Rei, veio consumar neste mundo, e não a vitória ufanista dos falsos pregadores de um falso evangelho, como se vê na maioria dos púlpitos de falsas igrejas e na televisão. Quando falamos de Jesus como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, como ele se revelou a João, estamos falando do governo que ele exerce a partir da sua vitória consumada na cruz do Calvário.
É por isso que, na visão dada a João, ele está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama Verbo de Deus…, e tem no seu manto, e na sua coxa, um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES (vv.13, 16).
Ao verter seu sague morrendo na cruz do Calvário, ressuscitar ao terceiro dia e subir ao céu, o Senhor Jesus reassumiu a sua glória como Rei dos reis e Senhor dos Senhores, como ele se revelou a João, e como também o apóstolo Paulo explica aos Filipenses: Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.6-11).
Irmãos, esta é uma revelação maravilhosa demais. O Deus Filho já possuía a glória como Criador e Rei do universo, mas a sua vitória na pessoa de Jesus o levou a reassumi-la como Deus-homem, homem como nós, e antes de subir ao céu ele prometeu que virá buscar a sua Igreja, os eleitos do Pai.
Percebem, irmãos, porque o apóstolo Paulo pergunta, como vimos no domingo passado, quem intentará acusação contra os eleitos do Pai? Quem os condenará? E o apóstolo continua a sua arguição: Quem nos separará do amor de Cristo? Afinal, ele é o Rei dos reis, Senhor dos Senhores, ele é Senhor da tribulação, da angústia, da perseguição, da fome, da nudez, do perigo, da espada, da morte, da vida, dos anjos, dos principados, das potestades, da altura, da profundidade, do presente, do futuro, e do que se possa imaginar (Rm 8.31-39). Então, se Jesus, o Mediador da aliança, o Rei dos reis, é por nós, quem será contra nós?
Lembramos que, como já vimos no domingo passado, o Senhor Jesus, no seu ofício de Sacerdote, ofereceu-se em sacrifício para nos libertar do domínio de Satanás, do pecado, da morte, e agora vemos que, como Rei, ele derrotou todos estes inimigos para nos restituir a comunhão com Deus Pai, e o domínio original perdido por causa do pecado.
Agora, prestem atenção, irmãos! O poder absoluto do Rei dos reis para salvar os eleitos do Pai é o mesmo poder exercido contra os inimigos. Como então não temer este Rei dos Reis e Senhor dos Senhores? Como não exultar de alegria por ser seus súditos? Como não nos esforçar diligentemente para conhecer e fazer a sua vontade, se sabemos que ele nos transformou de escravos de Satanás, em servos do seu reino, no momento em que nos reconquistou para o reino eterno na glória do Pai?
Irmãos, conforme eu lhes tenho dito, esta revelação é maravilhosa demais, e só é discernida pelos eleitos do Pai, aqueles que Jesus veio resgatar. Resgatar de que? Da escravidão de Satanás, do pecado, da morte e do inferno. Portanto, para discernir esta revelação, primeiramente é necessário discernir a doutrina da Queda.
Somente a partir do entendimento de que o pecado nos separou de Deus, saberemos qual o papel do Mediador da aliança eterna de Deus em seus ofícios de Profeta, aquele que fala da parte do Pai para os pecadores; Sacerdote, aquele que fala do homem para Deus, que intercede e oferece sacrifícios para aplacar a ira de Deus contra os pecadores, e Rei, aquele que vence os inimigos e governa o seu povo resgatado, conduzindo-o para a glória eterna do Pai.
Que Deus nos conceda graça para entender a sua doutrina, e mais graça ainda para que vivamos de acordo com a sua vontade, para louvor da sua glória. Amém.