Queridos, as parábolas do Senhor Jesus são tão conhecidas quanto incompreendidas. Já ouvi muitos pastores afirmarem que Jesus falava por parábolas para facilitar o entendimento dos seus ouvintes, o que é um erro grosseiro. O próprio Senhor Jesus disse que falava por parábolas para que os não-eleitos não entendessem e não fossem salvos (13.10-16), e ele fez isso repetindo o que o Pai já havia dito sobre o povo de Israel através do profeta Isaías (Is 6.9-10).
Só aqui no cap. 13 de Mateus, o Senhor Jesus conta sete parábolas sobre o reino de Deus, e utiliza elementos do dia-a-dia dos seus discípulos, para lhes mostrar que o bem maior, o reino de Deus na pessoa do Filho estava entre eles, o que os não-eleitos não viam, e que era necessário se despojar de todas as outras riquezas para poder segui-lo.
Lá no cap. 6, no Sermão do Monte, o Senhor Jesus já havia ensinado que não se deve acumular tesouros aqui na terra, e sim no céu; que não se pode servir a dois senhores, a Deus e às riquezas. Nesta série de parábolas do cap. 13 de Mateus, o Senhor Jesus, mais uma vez, está ensinando aos seus discípulos imediatos e a nós, que não há bem mais precioso do que a nossa salvação, e por isso mesmo, nós devemos valorizá-la mais que tudo.
Nas duas primeiras parábolas lidas, do tesouro escondido e da pérola de grande valor, podemos ver o grande esforço, a renúncia e o desprendimento de dois homens que abriram mão de tudo o que possuíam para adquirir um único bem, aquilo que eles consideraram de valor muito superior a tudo o que tinham. Na sequência, a parábola da rede nos chama a um exame sobre onde está posto o nosso coração, lembrando as consequências da nossa escolha.
Irmãos queridos, nestas simples ilustrações o Senhor Jesus queria que os seus discípulos entendessem o quanto vale a pena abrir mão dos valores deste mundo temporal, para tomar posse do reino do céu, o tesouro eterno. Observem que Jesus deixa claro que o sacrifício é muito grande, o preço é muito alto, custa tudo o que temos neste mundo.
É isso que quer dizer negar-se a si mesmo (Mt 16.24), abrir mão de valores próprios da natureza pecaminosa, e que por isso mesmo nos parecem preciosos. Nós sabemos que somos pecadores encantados com os bens e prazeres deste mundo. Esta é a natureza humana pecaminosa, e, por nós mesmos, não podemos negá-la.
Esta é a razão pela qual as pessoas, inclusive as que se dizem crentes, não quererem nem ouvir falar em morrer, porque morrer significa deixar este mundo, e elas estão, por natureza, acorrentadas a ele. Por outro lado, às poucas pessoas a quem é dado o conhecimento do tesouro escondido, ou da pérola de grande valor, a estas pessoas também é dada a força para se desprender, para se desfazer dos valores deste mundo, porque a posse do reino dos céus é o que lhes satisfaz, é o que preenche o seu coração.
Convém lembrar que a revelação do tesouro escondido e da pérola de grande valor, que representam a salvação, o reino dos céus, é dada pelo próprio Deus. Convém lembrar que só podemos nos sacrificar e abrir mão dos bens e prazeres deste mundo, que fazem parte da nossa natureza pecaminosa, no poder do Espírito Santo. Convém lembrar, contudo, que mesmo no poder do Espírito Santo, quem tem que abrir mão de todos os nossos bens temporais somos nós, e isso requer um enorme sacrifício.
Acontece que nós só fazemos algum sacrifício por aquilo que achamos que vale a pena. Os apóstolos deixaram todos os seus bens. Pedro, João, André e Tiago deixaram seus barcos; Mateus deixou a sua coletoria; Paulo abriu mão da sua posição privilegiada de fariseu, doutor da lei, e eles fizeram tamanho sacrifício por causa do tesouro escondido, por causa da pérola de grande valor, por causa da salvação, por causa do reino dos céus. Eles conheceram o bem infinitamente mais precioso do que todos os bens deste mundo.
Eis a razão pela qual a grande maioria dos ditos crentes não faz nenhum sacrifício pelo reino dos céus: eles não sabem o seu real valor. Por isso preferem ficar agarrados a este mundo e aos seus valores e bens temporais; por isso não assumem compromisso com a Igreja; não tomam uma posição radical ao lado de Cristo. Eles não se sacrificam porque realmente não enxergam o tesouro que está bem à sua frente a cada domingo na Escola Bíblica e na mensagem da noite; não sabem o valor da pérola que é apresentada em cada estudo bíblico durante a semana, com exposição da Palavra de Deus.
Aqui nós entramos na terceira parábola que lemos, e sabemos o motivo da negligência das coisas eternas. Embora fiquemos tristes e deprimidos com a situação exposta nesta parábola, ela nos afirma que a Igreja é mista. Quando a rede, que é a Palavra, é lançada, ela traz peixe de todo tipo: bons e ruins.
Um pouco antes, neste mesmo capítulo, o Senhor Jesus já havia contado a parábola do joio e do trigo, alertando para o fato de que a Igreja sempre será um misto de duas categorias: crentes e não-crentes, salvos e condenados, e que no tempo oportuno os anjos farão a separação recolhendo o trigo no celeiro e lançando o joio na fornalha acesa (vv.36-43). Como isso é dolorido para um pastor, mas foi isso que o Senhor Jesus afirmou aos seus discípulos acerca da Igreja que eles haveriam de fundar e discipular.
Quem imagina que todos os membros de uma Igreja são salvos é mais do que um tolo, certamente é um dos não-salvos, parte do joio, e por isso mesmo não consegue discernir o ensino de Jesus. É ele quem diz que, a exemplo da rede cheia de peixes em que os pescadores fazem a separação e lançam fora os peixes ruins, assim também nas igrejas cheias de gente, no dia do Senhor, os anjos separarão os ímpios dentre os justos, e aqueles serão lançados na fornalha acesa. Como isso é dolorido para um pastor, mas é isso que o Senhor Jesus ensina, e precisa ser ensinado aos nossos filhos.
É por isso que eu insisto tanto na tecla do ensino para a santificação, porque ela evidencia já neste mundo, onde está o nosso tesouro. Como Jesus disse, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6.21). Aqueles que têm o coração posto nos bens e prazeres deste mundo, não encontraram o tesouro escondido, não acharam a pérola de grande valor, e por isso não se interessam pela Igreja, não se interessam em aprender, nem ensinam os valores do reino de Deus aos seus filhos. Eles até podem ter vindo na rede da Palavra, podem estar na Igreja, mas no dia do Senhor, os anjos os separarão e lançarão na fornalha acesa.
Como essa verdade é dolorida para um pastor, mas ela é clara como o sol ao meio dia. A conduta de muitos que estão nas igrejas evidencia claramente que eles continuam acorrentados a este mundo, reproduzindo o seu estilo de vida consumista nos seus filhos, e se não houver uma mudança radical, todos serão lançados na fornalha acesa. Precisamos ter consciência de que ter vindo na rede da Palavra e estar nas Igrejas não é o bastante, não significa salvação. Os eleitos, os salvos verdadeiramente serão fortalecidos e levados a decidir firmemente a trocar todos os bens temporais pelo precioso bem eterno da salvação, a tomar posse do reino de Deus, e a ensinar esses valores aos seus filhos.
Prestem atenção, irmãos! À luz do ensino destas parábolas, a ordem clara é: tomem uma posição radical ao lado de Jesus; deixem as coisas desse mundo; sacrifiquem tudo o que vocês têm para adquirir o campo com o tesouro escondido, para adquirir a pérola de grande valor, bens preciosos que simbolizam o reino dos céus, a salvação, a glória eterna com o nosso Senhor, e se esforcem sobremodo para ensinar, para inculcar estas coisas aos seus filhos.
Que Deus nos ajude a compreender a sua Palavra, guardá-la no coração, e pô-la em prática, enquanto esperamos a volta do nosso Senhor Jesus. Amém.