O poder para testemunhar o evangelho da salvação – Lc 21.5-13

A suficiência da graça diante do sofrimento – 2Co 12.7-10
04/06/2017
Porque o verbo se fez carne – Mt 1.21; Jo 1.1-3,14
01/07/2017

Queridos, vocês sabem como eu sou avesso à estrutura organizacional da Igreja, muito mais preocupada com o patrimônio físico, com o reino dos homens, do que com o reino de Deus. Por isso, há muito tempo quase não se ouvem pregações sobre a volta de Cristo, muito menos sobre tribulações e dores pelas quais o crente tem de passar.

Nesse trecho que lemos há preciosos ensinamentos do Senhor Jesus, com profecias para os judeus dos seus dias e para os seus discípulos em particular, mas também são profecias escatológicas para o final dos tempos. Vamos aprender com o nosso Mestre, lembrando que são poucas as suas palavras que nos agradam, e mesmo as suas palavras agradáveis vêm sempre atreladas à exigência de que vivamos como ele viveu, o que não é nada atraente aos nossos olhos.

Logo no v.5 vemos que alguns chamaram atenção para a suntuosidade do templo –Mateus diz que foram os próprios discípulos – e Jesus lhes respondeu no v.6, dizendo simplesmente que aquele templo suntuoso seria totalmente destruído. Obviamente esta profecia foi surpreendente e chocante para os judeus que a ouviram. Afinal, o templo era o principal símbolo da aliança. Ali estavam a arca da aliança, o santo dos santos, e toda a mobília dos ritos cerimoniais instituídos pelo próprio Deus. O templo era tão significativo para os judeus que, onde quer que se encontrassem, eles oravam voltados para o templo, e Jesus acabara de profetizar que o templo seria totalmente destruído.

O que podemos aprender aqui? O Senhor sabe todas as coisas; ele não vê como vê o homem. Os judeus tinham aquele templo como algo indispensável à adoração a Deus, mas Jesus sabia que o culto deles não passava de mera formalidade cerimonial. Todo o cerimonialismo do templo, embora tivesse aparência de adoração e reverência, mesmo nos rituais estabelecidos por Deus, estava desprovido de sacrifícios agradáveis a Deus, que são um espírito quebrantado e um coração compungido e contrito (Sl 51.17), e que nos amemos uns aos outros como Jesus nos amou (Jo 13.34).

Irmãos, ninguém se engane! Como eu disse antes, poucas palavras do Senhor Jesus nos são agradáveis quando as examinamos criteriosamente. É tão bom saber como Jesus nos amou, quanto é difícil amar o próximo como ele nos amou, e é isso que ele exige de nós. Templos e formalidades cerimoniais não nos levam a amar o próximo, nem a pregar o evangelho com integridade, com base neste amor recebido pela graça de Deus.

A profecia do Senhor Jesus sobre a destruição do templo demonstra claramente que ele não tinha nenhum prazer em toda aquela suntuosidade, em todo aquele cerimonialismo que encerravam tão-somente aparências externas. Ele já havia dito à mulher samaritana que a verdadeira adoração independe do local, independe de templo (Jo 4.23-24).

Infelizmente, muitos crentes continuam vivendo com a mesma disposição mental equivocada daqueles judeus do tempo de Jesus: muitos crentes dão maior valor ao templo físico e ao cerimonialismo do que ao templo espiritual e à verdadeira adoração. Historicamente os valores arrecadados em dízimos e ofertas nas igrejas são investidos muito mais em construções de templos e prédios anexos do que no sustento pastoral e no auxílio aos irmãos necessitados da própria igreja, contrariando o ensino bíblico.

Seguramente, a profecia de Jesus evidencia que não é isso que lhe dá prazer. É por isso que eu não gosto da estrutura organizacional da Igreja no que tange ao patrimônio físico, e aponto verdades não ditas: mesmo que se negue com palavras, na prática, o que se prioriza é o patrimônio físico e o cerimonial. O prazer do Senhor Jesus não está nestas coisas, e sim em que nos amemos uns aos outros, testemunhando que Deus nos amou de tal maneira que mandou seu Filho ao mundo para nos salvar.

Esta é a lição que aprendemos nestes dois primeiros versículos que lemos: jamais deixemos que templos, patrimônio físico ou mesmo tradições culturais se sobreponham ao amor que devemos dispensar uns aos outros. Esta é a única atitude inequívoca a evidenciar que realmente fomos salvos e somos discípulos do Senhor Jesus.

Em continuação ao diálogo e demonstrando a sua perplexidade, no v.7 os discípulos perguntaram ao Mestre quando isso aconteceria, e que sinal seria indicativo de que aquela profecia estava para se cumprir. Observem como o Senhor Jesus inicia a sua resposta no v.8, com uma advertência. Vede que não sejais enganados. Irmãos, como já foi dito, as profecias de Jesus falavam do que estava para acontecer com os judeus em geral, e com os seus discípulos em particular, abrangendo desde aquele dia, até o dia em que Jesus voltará para buscar os seis eleitos.

Segundo o relato de Mateus, os discípulos perguntaram a Jesus que sinal indicaria a sua volta e a consumação do século. Eles pensavam que isso aconteceria logo, e como Jesus sabia disso, inicia a sua resposta com uma advertência: Vede que não sejais enganados, e continua deixando claro que, antes da sua vinda, aparecerão muitos falsos Messias querendo se passar por ele, e por isso Jesus ordena: não os sigais.

Prestem atenção, irmãos! Repito que essa advertência de Jesus foi para os seus discípulos imediatos, mas como a profecia tem um alcance até o dia da sua volta e a consumação do século, ela se aplica a nós. Por isso, como está escrito em Ap 1.3, seremos bem-aventurados se lermos, ouvirmos as palavras da profecia e guardarmos as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.

Como é triste ver multidões de pessoas ditas crentes seguindo falsos mestres. Por isso, cuidado com os falsos pastores; cuidado com as pregações da televisão; ouçam e pratiquem o ensinamento que é segundo a palavra de Jesus, nem mais nem menos.

Continuando a sua resposta à pergunta que lhe foi feita, nos vv.9-11 o Senhor Jesus passa a falar dos flagelos que sobrevirão como a guerra, terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu. Dependendo do que entendamos como grandes sinais do céu, apenas estes ainda não aconteceram até os nossos dias, se imaginamos tratar-se de sinais extraordinários vindo do céu.

                Para os judeus dos tempos de Jesus, essa profecia se cumpriu, em parte, 40 anos depois, quando Jerusalém foi invadida e destruída pelos exércitos romanos, e os judeus conheceram os horrores e o flagelo da guerra como nunca antes. Segundo o historiador Josefo, que viveu e escreveu naqueles dias, os horrores e misérias a que os judeus foram submetidos durante o cerco de Jerusalém superaram tudo quando já havia sido registrado na história da humanidade.

Em nossos dias, todos nós sabemos que, no tocante a guerras, terremotos, epidemias e fome em vários lugares, esta profecia continua se cumprindo a cada dia diante dos nossos olhos. Porém, com respeito aos seus discípulos imediatos, as palavras do Senhor Jesus foram simplesmente terríveis, conforme lemos no v.12. O livro de Atos nos dá conta de que todas estas coisas realmente aconteceram aos apóstolos. Mas, convém lembrar mais uma vez, como a profecia tem alcance até a volta de Jesus, estas palavras nada agradáveis são promessas do Senhor aos seus discípulos de todas as épocas, e elas se cumprirão.

As palavras do Senhor em Jo 15.18-19 nos afirmam que onde houver um discípulo seu, ali haverá algum tipo de perseguição: Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Como as palavras do nosso bom Mestre são difíceis. Por isso, elas estão ausentes dos púlpitos, e quando aparecem, vêm descontextualizadas, transformadas, travestidas em sermões adocicados, capazes de enganar os incautos. Os eleitos, como o Senhor mesmo afirma, não serão enganados.

Os discípulos de Jesus sabem que a cruz antecede a glória, e que a nossa glória aqui neste mundo é o conhecimento de Deus e o nosso testemunho de acordo com esse conhecimento. Sabemos que estas palavras difíceis no nosso Senhor constituem uma parte da cruz que temos de carregar, e a nossa glória aqui é saber que isso acontece para que demos testemunho da maravilhosa salvação que recebemos pela graça de Deus.

Está difícil, irmão? Está passando por tribulações? Isso acontece por causa do evangelho? Então dê graças a Deus pela oportunidade de testemunhar do seu amor e do seu poder em sua vida. Afinal, se as profecias do Senhor não nos são nada agradáveis para este mundo, temos a confortante promessa que nos dá segurança do seu amor e do seu poder para que preguemos o evangelho da salvação, até que o Senhor junte todos os seus eleitos; temos a confortante promessa que nos dá segurança do seu amor e do seu poder, o mesmo poder que ele nos dá para vencer o mundo até que cheguemos à glória eterna do Pai.

Esta a mensagem de Deus para a sua Igreja, para que sigamos confiantes no seu poder para testemunhar o evangelho da salvação. Que ele mesmo a aplique aos nossos corações, a fim de que realmente vivamos para louvor da sua glória. Amém.