Porque o verbo se fez carne – Mt 1.21; Jo 1.1-3,14

O poder para testemunhar o evangelho da salvação – Lc 21.5-13
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O Profeta Maior e a profecia – Mt 7.24-29
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Queridos, nós já falamos outras vezes que os evangelhos, como nós os temos na Bíblia, não foram os primeiros ensinamentos escritos transmitidos à igreja primitiva. Sabemos que Jesus escolheu e preparou os seus discípulos, comissionou-os como apóstolos, e eles passaram a pregar o que Jesus lhes ensinara. Porém, eles não produziram literatura ou escritura nos seus primeiros anos de ministério.

Quem primeiro produziu literatura na forma de Escritura Sagrada no Novo Testamento foi o apóstolo Paulo, que nem fez parte do colégio apostólico de Cristo. Porém, Paulo era doutor da Lei, profundo conhecedor do Velho Testamento, e também recebeu do próprio Cristo, em seu encontro a caminho de Damasco, e em outros encontros místicos, todo o ensinamento de que necessitava para o seu ministério apostólico.

Pois bem, os ensinamentos dos apóstolos, como se lê no Livro de Atos, geraram reação contrária e violenta por parte dos judeus. Então, Paulo, que foi o maior dos evangelistas e fundador de muitas igrejas cristãs, passou a escrever cartas às igrejas que ele fundara, doutrinando aqueles novos cristãos, para que não voltassem às práticas judaizantes, nem se deixassem levar por falsos ensinamentos.

Portanto, das cartas de Paulo que estão no Novo Testamento, várias já circulavam entre as igrejas antes dos evangelhos serem escritos, e estes, por sua vez, também foram cartas que tiveram o propósito inicial de narrar a boa nova de Cristo aos seus destinatários, contando a história de Jesus como ela realmente aconteceu: quem Jesus realmente era, e o que Jesus realmente fez, contestando as heresias existentes e os ensinamentos falsos a respeito da pessoa de Jesus, o Cristo de Deus. O Evangelho de Lucas e o livro de Atos, por exemplo, são cartas pessoais dirigidas ao excelentíssimo Teófilo, para que ele soubesse a verdade a respeito de Jesus e dos apóstolos.

O último evangelho a ser escrito foi o de João, contradizendo a heresia de que Jesus não era Deus. Por isso ele começa logo afirmando: No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi se fez (Jo 1.1-3).

Eis porque o Verbo se fez carne. A nossa língua pátria nos ensina que verbo é a palavra que exprime uma ação. Logo, quando Deus Pai dizia haja luz, haja firmamento, ajuntem-se as águas, apareça a porção seca, etc, esse verbo que exprimiu cada ação, a palavra que materializou a criação, era Jesus. Por isso João afirma que todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez, tanto na esfera da criação, como na esfera da redenção.

Em Jo 1.14, lemos que o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Com que propósito? Em Mt 1.21, lemos que Jesus, o Cristo de Deus, veio a este mundo para salvar o seu povo dos pecados deles, e nós precisamos considerar essa realidade: Deus ter-se tornado homem, para nos salvar. É isso que os não-crentes têm dificuldade de entender. Cristo é eterno como o Pai. Ele sempre existiu, mas, para cumprir o plano de Deus Pai para a salvação dos seus eleitos, de fato, ele tornou-se humano como nós em relação a todas as coisas, exceto quanto ao pecado, porque somente o Deus Santo poderia vencer o pecado, e somente como homem ele poderia fazer isso, com o sacrifício da sua própria vida, porque Deus não morre. Deus é eterno.

Por isso, o Deus Filho veio ao mundo como homem, para salvar o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21). Ao longo da História da Igreja, esta verdade tem sito uma pedra de tropeço para muita gente. Nascido de mulher, embora de maneira miraculosa, Jesus foi bebê, criança, adolescente, jovem, tornou-se um homem adulto, portanto, passou por tudo que um ser humano passa aqui na terra. Comeu, bebeu, cansou-se, dormiu, chorou, alegrou-se, sentiu fome, sede, irou-se, teve compaixão, enfim, experimentou todas as nossas necessidades e todos os nossos sentimentos.

Jesus orou, leu as Escrituras, e para fazer a vontade do Pai, para justificar pecadores, sofreu e morreu na cruz pelos nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou e subiu ao céu, segundo as Escrituras. Porém, nesse processo, em nenhum momento Jesus deixou de ser Deus enquanto esteve aqui na terra, bem como agora, que está no céu assentado à direita de Deus Pai intercedendo por nós (Rm 8.34), continua sendo homem, com o mesmo corpo que nasceu de Maria, que cresceu, sofreu, morreu e ressuscitou, só que, agora, um corpo incorruptível, glorificado na sua glória eterna com o Pai.

As pessoas podem não saber disso, ou podem saber e não acreditar, ou não aceitar, mas esta é a verdade bíblica: Desde que o Verbo se fez carne, Jesus, o Cristo de Deus, é Deus e homem ao mesmo tempo, e essas duas naturezas nunca se confundiram, nem se confundem, no seu propósito de salvar o seu povo eleito.

É exatamente esse mistério maravilhoso que qualifica Jesus como mediador entre o Deus santo e os homens pecadores. Eis porque o Verbo se fez carne: Por isso, ele é o único que pode identificar-se conosco porque é homem, e ao mesmo tempo, pode interceder por nós junto ao Pai, porque é Deus.

O escritor aos Hebreus nos diz isso claramente: temos um sacerdote que pode compadecer-se das nossas fraquezas, exatamente porque, como nós, ele foi tentado em tudo, porém, sem pecado (Hb 4.15). Queridos, embora isso pareça chover no molhado, nós precisamos considerar estas coisas:

Porque o Verbo se fez carne, ele é sensível à aflição do seu povo. Foi ele mesmo quem disse: No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (Jo 16.33). Em Hb 2.18 está escrito: Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados. Jesus, o verbo que se fez carne, sabe o que é sofrer, e por isso ele se compadece dos nossos sofrimentos.

Porque o Verbo se fez carne, ele é o exemplo perfeito para as nossas vidas. Ele é o verdadeiro padrão de santidade que devemos seguir, como está escrito em 1Jo 2.6 – Quem permanece nele deve andar assim como ele andou. A única coisa que realmente caracteriza o cristão é uma vida de santidade. Santifiquemo-nos, pois, como ele é santo.

Porque o Verbo se fez carne, devemos ver em nosso corpo mortal e fraco, uma dignidade real e verdadeira, porque Jesus não se envergonhou de assumir um corpo como o nosso, e mais, não se envergonhou de levá-lo para o céu, e nos levará com ele.

Porque o Verbo se fez carne e morreu a nossa morte, sendo Deus, ele ressuscitou dentre os mortos para garantir que nós também ressuscitaremos quando ele nos vier buscar para a sua glória, glória eterna que ele sempre teve com o Pai.

Ah! Queridos, não podemos deixar de considerar estas coisas. Enquanto estivermos neste mundo, usemos todo o nosso ser, nossos corpos, nossas mentes, nossos corações, nossos afetos, tudo para a glória de Deus, porque um dia, Jesus, o verbo que se fez carne nos levará para o céu com estes mesmos corpos, só que transformados como o dele, glorificados como ele, na glória de Deus Pai. Esta é a esperança do verdadeiro crente.

Que Deus, pela sua graça, pelo seu poder, nos conceda força para honrar o Verbo que se fez carne, vivendo em santidade, para louvor da sua glória. Amém.