Queridos, não é novidade para ninguém as dificuldades pelas quais passamos em nosso País, por causa da corrupção entranhada no próprio Governo. Pois bem, a partir dessa situação, que leitura devemos fazer? Como devemos agir? Será que, como os ímpios, devemos ficar repetindo as velhas e conhecidas perguntas: Onde está Deus, que não vê isso? Será que Deus perdeu o controle das coisas? Se não, porque ele não toma providência para que isso acabe?
Ou será que devemos usar o nosso suposto “livre arbítrio”, desconsiderando a soberana providência de Deus sobre nossas vidas? Será que devemos nos rebelar contra as autoridades? Devemos nos insurgir contra o Governo, e tomar partido ao lado dos revoltosos, em desobediência à Palavra de Deus (Pv 21.1; 24.21; Rm 13.1-2; 1Tm 2.1-2; Tt 3.1; 1Pe 2.13-17)? Esta palavra ainda se aplica a nós?
Nesse trecho que lemos do livro do Êxodo, nós podemos ver a boa mão de Deus no controle de todas as coisas envolvendo o seu povo eleito, tanto nos acontecimentos macro, que envolvem o mundo todo, como nos acontecimentos micro, que envolvem pessoas simples.
Sabemos que o Pentateuco é uma narrativa sequencial de acontecimentos no tempo e no espaço. Em Gênesis, Deus havia prometido a Abraão uma grande posteridade, e deu-lhe um filho, Isaque. Este gerou a Jacó, e dos filhos de Jacó, doze tribos formaram a nação de Israel. Pois bem, são estes, Jacó e seus filhos, os que entraram no Egito, como lemos no início do texto (vv.1-5).
Como Deus prometera a Abraão, a sua descendência, os filhos de Jacó que formariam a nação de Israel, foram fecundos, aumentaram muito e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram; de maneira que a terra se encheu deles (v.7). Em seguida, a partir do v.8, podemos ver o que chamamos de acontecimento macro: Se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José. Mudou o maior rei do mundo. A memória de José, aquele que fora o maioral do Egito em reinado anterior, já não exercia qualquer influência sobre o novo Faraó.
Agora, sem o seu protetor, por causa de um acontecimento macro envolvendo todo o império egípcio, o povo de Deus foi subjugado à condição de escravo (vv.9-11). Nessa situação, cabem muito bem aquelas velhas e conhecidas perguntas dos ímpios: Onde está Deus, que não vê isso? Será que Deus perdeu o controle das coisas? Se não, porque ele não toma providência para que isso acabe?
O texto demonstra claramente que Deus está no seu trono, que não perdeu o controle das coisas, e que está tomando providência para que isso acabe, só que no tempo determinado por ele, e na forma como ele planejou desde a eternidade. Observem como Deus é soberano sobre todas as coisas. Assim como ele estava no controle de um acontecimento macro, quando mudou o maior imperador do mundo, também estava no controle do seu povo, que, quanto mais era fustigado, mais crescia em número (vv.12-14), e também estava no controle de acontecimentos micro, quando determinou a duas parteiras, chamadas Sifrá e Puá que não obedecessem a ordem do Faraó, e deixassem viver os meninos hebreus, correndo o risco de serem mortas pelo rei (vv.15-19).
Observem que Deus estava no controle do Faraó, o soberano do mundo, assim como estava no controle da nação de Israel em formação, e também de duas simples parteiras hebréias, de sorte que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu propósito, como afirma Paulo em Rm 8.28.
Não há nenhuma explicação para o fato de duas parteiras hebréias serem citadas pelos nomes ao receber uma ordem direta do Faraó, a não ser para que saibamos que Deus, no desenvolvimento da sua soberana providência, governa tanto as pessoas mais importantes do mundo, quanto aquelas de menor importância social. Deus cuida de todos os detalhes na condução do seu reino cósmico.
Há outros relatos bíblicos de como Deus usa pessoas insignificantes para mostrar a sua providência. Por exemplo, a pequena escrava hebréia de Naamã, o grande general da Síria (2Rs 5), demonstrou a sua confiança na providência de Deus, e Naamã foi curado por causa disso. Agora, imaginem como essa menina foi honrada quando o grande general voltou curado do corpo e do espírito, curado e convertido ao Deus da sua pequena escrava.
Igualmente, aquelas parteiras, porque temeram a Deus ao invés de temerem a potestade do mundo, Deus lhes fez bem, e não só a elas, como lemos nos vv.20-21 – E Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou muito forte. E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família. Só quem conhece a História, só quem sabe a dificuldade para uma mulher escrava constituir família, sabe avaliar a magnitude da bênção que Deus concedeu às parteiras Sifrá e Puá.
Irmãos queridos, é certo que estamos vivendo dias maus em nosso país. Porém, nem de longe estamos na situação de escravidão em que se encontrava o povo hebreu, conforme o texto lido. Sem dúvida, precisamos remir o tempo, porque os dias são maus, como ensina Paulo em Ef 5.16. Precisamos buscar mais a face do Senhor, confiar no seu poder e na sua providência, porque ele é soberano sobre todas as coisas.
Este primeiro capítulo de Êxodo nos mostra como podemos enxergar a manifestação da soberana providência de Deus; como podemos ver a manifestação da sua bondade na condução do seu povo em meio aos maus tratos sofridos neste mundo. Nesse texto nós podemos enxergar que todas as coisas acontecem no tempo certo de Deus, e não quando nós queremos, e que tudo isso acontece para o nosso bem.
Deus é soberano sobre todas as coisas; Deus é Senhor da história; este mundo mau, e ele é mau por causa do nosso pecado, não está desgovernado. Deus dirige o seu reino cósmico em todos os aspectos, grandes e pequenos, reis e parteiras.
Estamos em grandes dificuldades em nosso país? Sim, estamos! Porém, não tenhamos nenhuma dúvida de que isso vem do Senhor, e ele nos protegerá. Não tenhamos nenhuma dúvida de que Deus cumprirá todas as promessas feitas a nós, não importando a maldade do mundo, não importando as dificuldades que enfrentamos. Nós só precisamos estar firmados na rocha, que é a palavra de Deus (Mt 7.26-27).
Aqueles que estão em dificuldades, que contabilizam prejuízos nestes dias maus, estejam certos de que tudo que acontece conosco é providência de Deus para nos manter perto dele, para que não tomemos gosto por esse mundo mau, porque nós não somos deste mundo. Nós somos cidadãos do reino dos céus, o reino de Deus, e como somos parte desse reino que pertence a Deus, ele movimentará o mundo e as suas potestades como Faraó, assim como usará pessoas simples como as parteiras Sifrá e Puá para nos abençoar, a fim de que, por nosso turno, sejamos bênção para outras pessoas (v.20).
Por isso, que cada um de nós e todos nós, por mais importantes ou mais simples que sejamos, confiemos na soberana providência do nosso Deus, e disponhamo-nos em suas mãos para que, mesmo com nosso país desmoronando moralmente e economicamente, sejamos abençoados e abençoadores, para que o nome de Deus seja glorificado em nós e através de nós.
Esta é a Palavra de Deus para a sua igreja nestes tempos difíceis. Que ele mesmo, pela sua graça, a aplique aos nossos corações. Amém.