Queridos, este Salmo 46 é o primeiro de um grupo de Salmos que têm um tema comum: a exaltação de Deus, como gratidão do seu povo que foi conduzido em meio a grandes tribulações, em meio a grandes crises militares, quando Israel esteve sob ameaça de Amom e Moabe nos dias do rei Josafá, e sob ameaça do rei Senaqueribe, da Assíria, nos dias do rei Ezequias.
Diferentemente do que se prega hoje, a leitura deste Salmo nos revela que os filhos de Deus enfrentam problemas reais; os filhos de Deus se deparam com tribulações, tentações, fases difíceis que perturbam a alma, e isso nós podemos ver logo no primeiro versículo. Aqui nós lemos que Deus é o nosso refúgio, e quem precisa de refúgio é alguém que está fugindo de alguma calamidade ou perseguição; lemos que Deus é a nossa fortaleza, e quem precisa de fortaleza é alguém que está sendo atacado pelo inimigo; lemos que Deus é o nosso socorro, e quem precisa de socorro é alguém que está em situação de perigo real. Porém, o primeiro versículo também nos diz que Deus está sempre presente em todas essas tribulações. Esta é a segurança do crente.
Sabendo destas coisas, o que precisamos é exercer a fé, entendida como o conhecimento, o acatamento e obediência à palavra de Deus, para poder enfrentar as tribulações que certamente nos sobrevêm. Meditando neste Salmo, podemos aprender três lições importantes nesse sentido.
Em primeiro lugar, precisamos considerar que o mal existe e que está presente à nossa volta. Nós temos um inimigo real chamado Satanás que nos ataca constantemente, e um dos seus principais ardis é exatamente fazer com que não acreditemos nisso, embora a Bíblia esteja cheia de advertências sobre essa realidade. É claro que não precisamos ficar paranoicos, como muitas igrejas ensinam, vendo demônios em tudo, e em todo lugar.
É verdade que o inimigo nos ataca constantemente, e com todos os tipos de arma, como o salmista enumera as armas disponíveis naquela época, utilizadas contra o povo de Deus (v.9): arco, lança e carros. Hoje as armas pós-modernas são diferentes: é o relativismo, o individualismo, o egoísmo, o consumismo, e outros “ismos” que nos assediam constantemente. Porém, o que nos consola é que o mesmo v.9 nos informa que Deus quebra, despedaça e queima todas as armas do inimigo. Aleluia!
O que precisamos fazer com relação ao mal que existe e está presente é ser fortalecidos no Senhor e na força do seu poder, como nos ensina o apóstolo Paulo em Ef 6.10, e como nos ensina o apóstolo Pedro em 1Pe 5.9, que devemos resistir-lhe firmes na fé. Lembrem-se de que fé é o conhecimento, o acatamento, a obediência à palavra de Deus.
Lembrem de outra coisa, irmãos! O fato de termos consciência de que somos constantemente atacados por Satanás e seus demônios, com o objetivo de nos afastar de Deus, por si só, evidencia que somos filhos de Deus. O inimigo não atacaria os que já são dele. Só que, em sua estratégia, juntamente com o bombardeio, ele coloca a dúvida em nossos corações, e então questionamos: “Onde está Deus? Se Deus estivesse comigo, eu estaria passando por tudo isso”?
Por isso, se Satanás e seus demônios nos atacarem com acusações, com obstáculos e com mentiras, precisamos estar atentos, vigilantes, e exercer nossa fé no Senhor, pelo conhecimento e prática da sua palavra, conscientes de que o mal existe e está à nossa volta.
Em segundo lugar, como o salmista, precisamos estar conscientes de que Deus está sempre conosco. O inimigo quer que duvidemos disso, mas não podemos duvidar. Tantas vezes o salmista afirma que o nosso socorro vem do Senhor, como no Salmo 121.1 – Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Esse conhecimento é maravilhoso, irmãos! Como nos conforta e nos consola saber que Deus habita em nós na pessoa do Espírito Santo, e que ele nos ensina, nos conduz e nos fortalece na difícil caminhada da santificação.
Há milhares de anos o salmista Davi tinha essa certeza, ao dizer: Bendigo o Senhor, que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina. O Senhor, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado (Sl 16.7-8).
Mas, como o coração nos ensina? Como confiar no ensino do coração, se a Bíblia diz que ele é desesperadamente corrupto? (Jr 17.9). É verdade, só que o coração do salmista, assim como o de todo crente fiel, guarda a Palavra de Deus no coração, para não pecar contra ele (Sl 119.11). O salmista também diz que o Senhor o aconselha. Como isso acontece? Com estudo e meditação na Palavra e oração constante (Sl 1.1-2; 25.14; 119). Há um diálogo entre Deus e os seus filhos, em que a Bíblia é a voz de Deus e a oração é a nossa voz em resposta obediente e confiante, em qualquer situação.
Um aspecto importante desse diálogo é que, quando Deus fala com os seus filhos, eles reconhecem a sua voz. O próprio Senhor Jesus afirmou: as minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27). É claro que a voz de Deus é irreconhecível para aqueles que não leem, não estudam nem meditam na sua palavra, assim como a outra via do diálogo com Deus, que é a oração, esta também é irreconhecível por Deus quando não está de acordo com a doutrina.
Por isso, para que o inimigo não nos leve a pensar que as tribulações indicam a ausência de Deus em nossas vidas, precisamos ter intimidade com Deus através da sua Palavra, para reconhecer o seu trabalhar em nós, e através da oração, principalmente em meio às tribulações, sem duvidar em nenhum instante de que ele está sempre conosco.
Em terceiro lugar, precisamos exercer a fé. Nós, que somos filhos de Deus, temos fé, uma vez que a fé é um dom de Deus (Ef 2.8). O escritor aos Hebreus nos exorta a olhar firmemente para Jesus, o autor e consumador da fé (Hb 12.2). Portanto, temos a fé que Deus nos deu, e não a exercer é pecado de desobediência. No Evangelho de Lc 8.25, no episódio da tempestade, o Senhor repreende os seus discípulos: Onde está a vossa fé? Ou seja, eles tinham fé. Apenas não a estavam exercendo, e isso é desobediência a Deus.
Os israelitas pereceram no deserto porque não exerceram a fé em Deus, mesmo diante de tantas evidências de que Deus estava no meio deles. Precisamos exercer a nossa fé, como o salmista nos exorta nos versículos finais deste Salmo 46 – Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. O Senhor dos exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio. Aleluia!
Portanto, não importa o que aconteça neste mundo. Como lemos nos vv.2-5, ainda que a terra se transtorne, ainda que os montes se abalem, ainda que as águas tumultuem e espumejem, pode vir terremoto, maremoto, tsunami, que bramem os poderosos com a sua opressão, Deus está no controle de tudo isso. O salmista nos diz que há a calmaria de um rio, cujas águas alegram a cidade de Deus, as moradas do Altíssimo, e a sua Igreja, ainda que seja abalada, jamais será destruída.
Obviamente, este salmo trata da realidade de Israel, e das suas muitas guerras e batalhas para ter repouso na terra que Deus lhes prometeu, mas, espiritualmente, trata do repouso divino para a Igreja, como explica o escritor aos Hebreus: Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus (Hb 4.9). Este salmo descreve este repouso para o povo de Deus, no momento em que nos fala do seu poder sempre presente, do seu socorro na hora do perigo, da sua paz em meio às tribulações.
Observando estes três pontos, podemos concluir que o mal existe e está presente; A Bíblia nos revela que os dias são maus. Porém, sabendo que Deus está sempre conosco, e que ele é o nosso socorro nas tribulações, resta-nos exercer, depositar nossa fé no Senhor, e ouvir a sua voz quando nos diz: Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.
Irmãos queridos, o Senhor nos escolheu, nos justificou, nos salvou, nos adotou como filhos, então ele moverá céus e terra para proteger os seus filhos, para nos santificar a fim de que estejamos prontos para o dia da glorificação, sejam quais forem as tribulações pelas quais tenhamos que passar.
Esta é a mensagem de Deus para a sua Igreja. Que ele nos conceda graça, a fim de que, à luz desse conhecimento, vivamos em santidade, sejam quais forem as circunstâncias, para o louvor da sua glória. Amém.