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Queridos, neste capítulo 17 do evangelho de João está a conhecida oração sacerdotal de Jesus. Já falamos tantas vezes com base neste capítulo, e ainda falaremos outras tantas vezes, considerando a riqueza desta oração do Senhor Jesus. Nos primeiros seis versículos, o Senhor Jesus trata da sua comunhão com o Pai; do versículo 7 ao 19, ele trata especificamente da sua comunhão com os seus doze discípulos, e no versículo 20 ele nos inclui, tratando da sua comunhão com todos aqueles que ainda vierem a ser seus discípulos, sempre tomando como base a sua comunhão com o Pai.

Como esta oração é maravilhosa! Hoje nós vamos considerar três aspectos da oração, neste versículo que lemos.

Em primeiro lugar, consideremos a forma como o Senhor Jesus se dirige ao Pai: Pai, a minha vontade é….. Não há outra oração assim na Bíblia. Nenhum outro ser humano jamais se dirigiu assim ao Deus todo poderoso. Nem Abraão, o amigo de Deus, quando orava a Deus intercedendo por Sodoma e Gomorra, dizia: Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza (Gn 18.27). Jacó, que lutou com homens e com Deus e prevaleceu, mesmo em seu atrevimento, rogou: não te deixarei, se me não abençoares (Gn 32.26). Daniel, que desde jovem demonstrou a sua fidelidade ao Senhor, clamava por Israel como pecador: Ó, Senhor, ouve: ó, Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes por amor de ti mesmo, ó Deus meu (Dn 9.19). O apóstolo Paulo, homem de profunda intimidade com Deus, orando pelos efésios dizia: Por esta causa me ponho de joelhos diante do Pai (Ef 3.14).

Percebem a diferença, queridos? Pecadores, quando se dirigem ao Pai, quanto maior for a sua intimidade com ele, maior será seu temor e tremor diante de um Deus tremendo, criador e mantenedor das nossas vidas, pela sua graça e misericórdia. Porém, a forma como o Senhor Jesus se dirige ao Pai é diferente: Pai, a minha vontade é…. Sabem por que Jesus orou assim? Porque ele é Deus, porque ele é um com o Pai, porque todas as coisas foram feitas por intermédio dele, ele é a voz que disse: haja luz, e houve luz (Gn 1.3), a mesma voz que agora diz: Pai, a minha vontade é que onde eu estou estejam também comigo os que me deste.

Ah! Queridos, quando eu disse que esta oração é maravilhosa, é porque é mesmo. Jesus orou antes de ir para a cruz, mas já falava como se tudo estivesse consumado. No v.4 ele diz: Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer. Ele fez a vontade do Pai, e agora diz ao Pai qual é a sua vontade, certo de que a sua vontade e a vontade do Pai são uma, como ele é um com o Pai.

Portanto, não tenhamos dúvida de que esta oração será atendida em todos os tempos, porque ela está sendo pedida pelo mesmo Deus que atende. A vontade do Filho é a vontade do Pai. Se o Filho diz: Pai, a minha vontade é que onde eu estou estejam também comigo os que me deste, certamente o Pai lhe responderá: “Filho, a minha vontade também é que contigo estejam os que te dei”. Que segurança é saber que pertencemos ao Senhor Jesus, e que fomos dados a ele pelo Pai.

Este é o segundo aspecto da oração que devemos observar: qual o alvo, quais os beneficiários da oração de Jesus. Por quem ele ora: por aqueles que me deste. Vamos mergulhar mais fundo no sentido das palavras de Jesus. Ele ora pelos que o Pai lhe deu. Ora, se o Pai lhe deu, estes já eram do Pai, escolhidos para serem dados ao Filho desde antes da fundação do mundo. As Escrituras afirmam amplamente que Deus escolheu um povo para ser santo, antes que o mundo existisse, e encarregou o Filho para vir resgatar este povo, levando sobre si mesmo, na cruz, a maldição pelos pecados deste povo escolhido. É por estes que Jesus ora. Por aqueles que já pertenciam ao Pai, e que o Pai lhe deu.

É por isso que ele diz no v.7 – Agora eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado, provêm de ti; e no v.10 – ora, todas as minhas coisas são tuas, e a tuas coisas são minhas. Notem que Jesus está deixando claro que os eleitos são tanto do Pai quanto dele. No cap. 6.37, ele diz: Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim. Queridos, prestem atenção! Ninguém vem a Cristo porque quer. Nenhum pecador tem essa capacidade. Os que vêm a Cristo, o fazem porque o Pai lhe deu, e estes não são melhores do que aqueles que não vêm a Cristo. Todos nós somos igualmente pecadores.

Qual a diferença, então? Aqueles que já eram do Pai desde a eternidade, estes foram dados ao Filho, e os que foram dados ao filho, estes virão a ele, tão certo como existe dia e noite. Você tem convicção de que veio a Cristo? Você tem se esforçado para ser transformado à imagem de Cristo, fortalecido no seu poder? Então esteja absolutamente seguro de que você foi dado a ele pelo Pai, a quem você já pertencia desde antes da fundação mundo.

Em terceiro lugar, observemos o argumento que Jesus usou para fazer esse pedido ao Pai. Vejamos qual é a base da sua petição: porque me amaste antes da fundação do mundo. O Senhor Jesus está lembrando ao Pai que a base da sua petição é o amor eterno do Pai por ele. Não se trata de um amor criado; não se trata do nosso amor por ele; não se trata do amor de uma mãe pelo seu filho; não se trata sequer do amor dos anjos pelo Deus Criador. Todos esses amores são amores criados, e apenas refletem o amor de Deus pelas suas criaturas. (1Jo 4.19).

A base da petição de Jesus é o amor eterno do Pai por ele, considerando que ele e o Pai são um, desde a eternidade. Pois bem! É esse amor eterno que o Senhor Jesus está pedindo ao Pai que seja estendido a nós. É como se Jesus dissesse: Pai, a minha vontade é que tu ames aqueles que me deste, assim como tu me amas deste antes da fundação do mundo.

Como podemos ver, o Senhor Jesus, que é um com o Pai, está pedindo ao Pai, já considerando que seremos um com ele, assim como ele é um com o Pai. Foi isso que ele disse a Paulo no caminho de Damasco: Saulo, Saulo, porque me persegues (At 9.4). A quem Saulo perseguia? Aos discípulos de Jesus. Foi daí que Paulo formalizou a sua doutrina de que a Igreja é o corpo de Cristo. É a mesma idéia contida nas palavras de Jesus, quando diz: Em verdade vos digo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mt 25.20).

Ou seja, o Senhor Jesus nos considera como parte de si mesmo, e é assim que ele nos apresenta em sua oração ao Pai: “Pai, assim como me amas desde antes da fundação do mundo, ama também aos que escolheste desde antes da fundação do mundo, e que agora me deste”. Observem, queridos, que, em princípio, Jesus não está pedindo ao Pai que nos torne melhores, que nos torne dignos. Ele pede que o Pai nos torne um com ele, assim como ele é um com o Pai, a fim de que recebamos o mesmo amor que ele recebe, pela sua dignidade, pelos seus próprios méritos, e não pelos nossos.

Esta é a base da nossa comunhão com Jesus, a comunhão que ele tem com o Pai, e que devemos ter com ele, comunhão evidenciada na nossa união como corpo de Cristo, certos de que fomos feitos filhos amados de Deus, pelos méritos do nosso Senhor Jesus Cristo. Assim é a comunhão de Jesus com o Pai, com os seus discípulos, e que deve ser a comunhão dos discípulos. Que Deus possa aplicar a sua Palavra maravilhosa aos nossos corações. Amém