Queridos, na mensagem do boletim nós tratamos da graça, da fé, da salvação e das obras como providências concatenadas de Deus para reunir os seus eleitos em Cristo e a Cristo. Pois bem, nas últimas mensagens temos falado da fé racional, do entendimento racional da salvação, das consequências naturais da salvação, a fim de que não sejamos meros religiosos que apenas seguem dogmas denominacionais.
Quem conhece alguma coisa da História da Igreja e da humanidade, sabe que a religião tem o poder, a capacidade de encantar, de dominar as pessoas. Na Modernidade, porém, a religião perdeu o seu poder para uma suposta objetividade da Ciência, que, pelo seu desenvolvimento tecnológico, relegou a religião a segundo plano, agora incapaz de influenciar as pessoas pretensamente esclarecidas pela Ciência.
Porém, em nossos dias, todos os pesquisadores do fenômeno religioso são unânimes em constatar que a religião vem retomando, a largos passos, o monopólio da cosmovisão social, bem como a capacidade de encantar, de dominar as pessoas, mesmo as ditas esclarecidas, levando-as novamente a agir de conformidade com determinados dogmas religiosos, sem raciocinar sobre o que estão fazendo.
As megaigrejas e seus megaeventos religiosos são uma demonstração inequívoca da retomada do poder de encantamento da religião, pela sua capacidade de instigar, nutrir e satisfazer os desejos emocionais das pessoas. Porém, o discernimento bíblico e as pesquisas sobre o fenômeno religioso nos credenciam a afirmar que a esmagadora maioria das pessoas reencantadas pela religião, entopem as igrejas apenas em busca de satisfação das suas carências emocionais, ou pelo simples prazer de participar de grandes arraiais sob o domínio de líderes carismáticos famosos.
Como podemos provar isto? Com a constatação de que não há qualquer mudança na vida dessas pessoas com relação ao crescimento em santidade, uma vez que continuam analfabetas na palavra de Deus. Ou seja, se não há desenvolvimento da salvação, é porque não houve salvação. Não há como sistematizar a salvação, sem que a santificação seja colocada como pré-requisito para todas as nossas ações.
Vamos aprender um pouco mais sobre este assunto com Pedro, examinando os quatro versículos lidos. Desde o início da carta, depois de dar graças a Deus pela salvação e pelas bênçãos dela advindas, então o apóstolo passa a ensinar sobre o desenvolvimento da salvação, que é o processo natural de santificação (v.13).
Assim como aqueles irmãos a quem Pedro escreveu já sabiam, nós também sabemos pelas Escrituras como se dá a nossa salvação. Sabemos que éramos inimigos de Deus, e que ele nos reconciliou consigo mesmo pela mediação de Jesus Cristo, justificando-nos com a justiça do seu Filho amado. Uma vez justificados, passamos a ser transformados à semelhança de Jesus, o primogênito dentre os mortos, pela ação do Espírito Santo que passa a habitar em nós, e a nos dirigir em uma vida de santidade. Portanto, quando falamos de salvação e do seu desenvolvimento natural, não há como ficar desvinculado do processo imediato e contínuo de santificação, e esta deve ser a maior preocupação de um pastor com o seu rebanho.
É isso que Pedro quer dizer com cingindo o vosso entendimento. Ou seja, de posse do conhecimento sobre a salvação, devemos estar sempre prontos, sempre preparados a lutar pela nossa santificação. O termo cingir ou estar cingido, desde o V. Testamento, significava se preparar ou estar preparado para uma ação imediata, como foi o caso da saída do Egito (Êx 12.11). No caso específico, a ação de que Pedro fala é a santificação imediata e contínua, como podemos ver na sequência das palavras.
Sede sóbrios. Neste caso, sóbrio está no sentido contrário a embriagado, desatento, relaxado. Portanto, sede sóbrios significa: estejam sempre atentos, vigilantes, não vacilem, não se descuidem da sua santidade por um só momento. Na sequência, ao mesmo tempo em que precisamos ser responsáveis com o desenvolvimento da salvação, que é a nossa santificação, nós podemos contemplar a maravilhosa revelação acerca da soberania de Deus na salvação dos seus eleitos.
Esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Irmãos queridos, prestem atenção! Observem a sequência lógica das exortações do apóstolo! No primeiro versículo da carta, podemos ver que ela foi escrita aos eleitos, e como sabemos, eleição é prerrogativa exclusiva de quem elege. No caso, Deus Pai. Só que, uma vez eleitos, uma vez reconciliados com Deus pelo mérito de Jesus Cristo, a par desse conhecimento, nós precisamos estar preparados para a ação imediata e contínua que abarca todo o processo de desenvolvimento da santificação. Agora, como filhos da obediência (v.14), somos nós que temos de lutar contra as paixões que tínhamos anteriormente, quando ainda éramos inimigos de Deus. Somos nós que temos de lutar para nos tornar santos em todo o nosso procedimento (v.15).
Mas, irmãos, esta missão é impossível, e o apóstolo sabia disso. Observem qual é o padrão, o modelo que ele nos dá: Porque está escrito: sede santos, porque eu sou santo (v.16). Pedro está citando uma ordem de Deus a Israel, lá no livro de Levítico (Lv 19.2). Ou seja, o nosso padrão, o nosso modelo de santidade é o próprio Deus Pai, e nós jamais atingiremos esse padrão nesta vida. Então, a ordem do apóstolo é absurda? Não, não é! O que para nós é impossível, para Deus é possível. É por isso que somos chamados a ter uma responsabilidade inarredável de estar sempre preparados, de não nos descuidar da santidade, de lutar contra as paixões mundanas, porém, sabendo que devemos esperar e confiar inteiramente na graça do Senhor Jesus, exatamente por saber da nossa impossibilidade de ser santos como Deus é santo.
Ah! Irmãos, como é bom conhecer o nosso Deus! Como é bom meditar na sua revelação! Sabemos que a salvação envolve alguns aspectos como a eleição, o chamado, a justificação, a adoção, a santificação e a glorificação. Pois bem, se fomos chamados, justificados, e adotados como filhos de Deus em Cristo Jesus, não há como ficar fora do processo de santificação. Por isso, os filhos de Deus manifestarão a sua filiação, pelo desenvolvimento das virtudes recebidas do Pai. Isto é lógico!
Porém, podemos perceber que o ensino do apóstolo não é apenas uma questão de lógica. Antes, é uma questão de natureza transformada. Como filhos adotados, somos novas criaturas em Cristo Jesus (2Co 5.17), e não podemos mais viver de acordo com as paixões mundanas. Agora somos filhos da obediência, e isso implica viver em santidade de vida, caminhando firme para o dia da glorificação. Somente a partir daquele dia, finalmente, seremos santos como Deus é santo, para louvor da sua glória.
A questão é: Será que todos aqui estão cingidos desse entendimento, prontos para lutar pela sua santificação? Será que todos aqui estão sóbrios, atentos, sempre vigilantes contra as ciladas do maligno, contra as fantasias do mundo, e contra o encantamento da religião com seus dogmas falsos? Será que todos aqui estão conscientes de que, nesta luta para desenvolver a salvação, precisam esperar inteiramente na graça de Jesus, porque são incapazes de lutar com as próprias forças?
Que cada um faça uma autoanálise sobre da sua vida espiritual. Você tem aproveitado cada oportunidade para aprender mais sobre a vontade de Deus, pelo estudo diligente da sua palavra? Você tem crescido no conhecimento de Deus? Esse conhecimento se evidencia numa vida de santidade, obediência e fé cada vez mais robusta? Todos aqui têm condição de responder honestamente a estas questões.
Portanto, resta-nos clamar a Deus para que derrame da sua graça sobre nossas vidas, a fim de que, a par desse conhecimento, como filhos da obediência, possamos praticar o que aprendemos a cada dia, desenvolvendo a nossa salvação, tornando-nos santos como ele é santo, para louvor da sua glória. Amém.