Queridos, é comum atendermos a consultas de pessoas ditas crentes, inclusive de outras igrejas, querendo saber sobre o dízimo. Normalmente, identificamos logo a sua motivação: elas não querem contribuir, não querem dar o dízimo. Então, quando eu lhes digo que não há nenhum ensinamento específico sobre o dízimo para a Igreja no Novo Testamento, estas pessoas ficam alegres, e chegam a dizer: “até que enfim, encontrei um pastor que ensina certo”. Que coisa triste! Obviamente, embora tais pessoas pensem que são salvas, elas não sabem quem é Deus, nada sabem sobre a salvação, por isso nada sabem sobre o culto que Deus requer dos salvos. Logo, nada sabem sobre a importância da contribuição como parte do culto que agrada a Deus.
Muito bem, irmãos, como já foi dito, não há nenhum ensinamento sobre o dízimo no Novo Testamento. A única vez que o Senhor Jesus falou sobre o assunto, foi denunciando a hipocrisia dos fariseus, mostrando-lhes, no âmbito da própria lei de Moisés da qual eles se diziam mestres, a importância de dar o dízimo, como eles de fato davam, da mesma forma que era importante cumprir as outras ordenanças da lei, como cuidar dos pais, por exemplo, o que eles estavam negligenciando. Era este o caso em questão, tudo no âmbito da lei de Moisés, e não como ensinamento para a Igreja, que ainda nem existia.
Como sabemos, o ensinamento para a Igreja está nas cartas apostólicas, e nelas não há qualquer menção a práticas específicas da lei de Moisés, senão no seu aspecto moral, inclusive no que se refere à moral constante da própria lei cerimonial levítica. Esta foi a maior luta de Paulo contra os judaizantes, que insistiam na necessidade de os cristãos cumprirem os mandamentos da lei cerimonial, como a circuncisão, por exemplo.
Pois bem, quanto ao dízimo, se não há ensinamento específico para a Igreja sobre o assunto, há muitos ensinamentos sobre a contribuição como parte do culto, e isso nós podemos ver neste trecho lido. Novamente, lembramos que aqui Paulo não está falando sobre dízimos, e sim sobre uma campanha de ofertas para os irmãos necessitados de Jerusalém. Se na Igreja não havia mais os levitas, que, segundo a lei cerimonial, eram sustentados pelos dízimos, havia os que se dedicavam exclusivamente à pregação e ao ensino da Palavra como os apóstolos, evangelistas e pastores, além dos necessitados, viúvas, órfãos e estrangeiros, que precisavam ser sustentados pela igreja, o que implica a continuidade na prática moral da lei, no que se refere à contribuição voluntária como parte do culto, como vemos neste trecho lido.
Porém, diferentemente do enfoque da lei de Moisés, em que era necessário dar o dízimo para ser abençoado por Deus como alerta o profeta Malaquias, no cristianismo a motivação é diferente. O salvo deve contribuir conforme a graça recebida, e não para receber graça. Logo nos primeiros versículos lidos, o apóstolo dá a visão para um entendimento correto sobre a contribuição que deve haver na Igreja: esta deve ser conforme a graça recebida de Deus, mesmo em meio a tribulações, inclusive em estado de profunda pobreza, como era o caso dos macedônios (vv.1-5).
Ou seja, a graça recebida de Deus, seja qual for a sua extensão, uma vez entendida como dádiva de Deus, deve ser compartilhada na mesma medida, o que efetivamente comprova o recebimento da graça. Afinal, ninguém dá o que não tem. Observem a beleza do v.5: deram-se a si mesmos. Portanto, quando compartilhamos uma graça, ainda que pequena, esse compartilhar torna-se a maior prova de que a recebemos de Deus. Por outro lado, quem nada compartilha, quem não contribui, também comprova que não passa de um miserável, alheio à maravilhosa graça de Deus. Não pode haver coisa mais horrível!
Ao contrário, o verdadeiro salvo não está preocupado se deve dar, ou quanto deve dar, e sim que deve se dar, consciente de que tudo o que tem ou venha a ter, pertence ao Senhor. Por isso, Paulo diz que os macedônios deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor (v.5). Vejam que coisa linda o testemunho de Paulo sobre os macedônios: mesmo em estado de profunda pobreza (v.2), aqueles irmãos manifestaram a graça recebida de Deus, e o seu pertencimento ao corpo de Cristo, alegres em contribuir com o pouco que tinham para os irmãos de Jerusalém.
Precisamos enfatizar aqui, que os macedônios entendiam que o ato de contribuir era graça de Deus, e não uma forma de receber graça de Deus, como ensinam os pastores que mercadejam a Palavra, ainda se utilizando da lei cerimonial levítica, ao citar especialmente Malaquias Ml 3.10 como forma de tirar dinheiro dos frequentadores de igrejas. Assim, os ditos crentes contribuem, ou com medo da maldição da lei, ou para receber mais do que dão. Que coisa triste! Quanta falta de conhecimento de Deus e da sua vontade para as nossas vidas.
Obviamente, esse tipo de ensinamento errado nas igrejas apenas contribui para desenvolver o pecado da usura, da ganância, numa direção materialista totalmente contrária ao ensinamento do Senhor Jesus e dos seus apóstolos. Como lemos no v.9, Paulo lembra aos coríntios a atitude de Jesus, sempre evidenciando a graça de dar, no momento em que o Senhor abriu mão de toda a sua glória para nos dar salvação. Esta é a maior riqueza que Jesus nos dá, e não riqueza material, como muitos entendem e ensinam através deste versículo, incentivando a usura, a ganância, o desejo por riqueza material.
Segundo o ensinamento do Senhor Jesus e dos seus apóstolos, os salvos devem estar mais interessados em dar do que em receber (At 20.35). Mas, pelas evidências, o problema continua na cabeça de muitos irmãos: E quanto eu devo dar? Afinal, o Dízimo é devido ou não?
Prestem atenção, irmãos! Como já vimos, embora o dízimo não seja uma doutrina do Novo Testamento, o dar é segundo a graça recebida. Portanto, deve ser proporcional, conforme o dízimo que Deus determinou na lei levítica, no sentido de que todos contribuam na mesma medida, para que haja igualdade (v.13). Nesse sentido, o dízimo apenas demonstra a sabedoria e a justiça de Deus, tanto na divisão como na multiplicação da graça. Não é necessário que alguém dê mais do que pode, para que não lhe falte, assim como não pode faltar àqueles que nada têm, e que serão assistidos pelos que podem dar, confirmando a graça de Deus nos dois lados: tanto os que dão como os que recebem, na mesma proporção, manifestam a graça de Deus (vv.14-15). Como nosso Deus é maravilhoso!
Portanto, a contribuição é graça dada segunda a graça recebida, o que implica voluntariedade e proporcionalidade. Certa vez vi o Pastor Augustus Nicodemus, um servo usado por Deus para a instrução da Igreja, ensinando sobre o dízimo, e ele apontava alguns princípios importantes para a contribuição como parte do culto a Deus. Obviamente com base neste ensino de Paulo, aquele pastor lembrava o princípio da espontaneidade: a doação precisa ser voluntária; o princípio da proporcionalidade: a doação precisa ser conforme a graça recebida; e ele acrescentou o princípio da regularidade: a doação não pode ser esporádica, eventual ou interrompida por falta de planejamento.
Sabemos que é comum os irmãos deixarem de dar o dízimo ou ofertas por causa de despesas extras, que não são tão extras assim. Despesas com início de período escolar; despesas com viagens de férias; despesas com festas de natal ou aniversários. Ora, todas estas coisas já devem fazer parte do nosso planejamento, de sorte que não interfiram em nossos dízimos, ofertas, ou seja qual for o nome que se dê às nossas contribuições. Estas precisam ser dadas com graça, conforme a graça recebida, com regularidade e continuidade.
Ora, se contribuir é graça de Deus em nossas vidas, o valor das contribuições como parte do culto a Deus deve ser o primeiro item na nossa planilha mensal de orçamento familiar. Afinal, a graça de Deus em nossas vidas não é algo esporádico, eventual, e esta é a importância da regularidade da contribuição como parte do nosso culto a Deus. Contribuir é algo que podemos e devemos fazer sempre, com alegria, na medida da graça recebida, e com a mesma regularidade com que recebemos a graça de Deus em nossas vidas.
Portanto, à luz deste ensinamento, resta-nos rogar a Deus que nos conceda graça para compreender a importância da contribuição como parte do culto a ele devido, e mais graça para que participemos integralmente do culto, não por constrangidos, mas com alegria, segundo a graça que ele nos dá. Amém.