A Igreja em sua missão divina – 1Tm 3.14-15

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Queridos, nas duas últimas mensagens nós tratamos da Igreja, e vimos que ela não é o Reino de Deus, mas o instrumento divino do Reino neste mundo. Logo, como vimos, ela não tem uma missão em si e para si mesma, mas é a própria missão de Jesus, o Messias prometido a Israel. Nesse sentido, a Igreja é a continuação da aliança eterna de Deus, a fim de que, pelo testemunho da Igreja, Deus mesmo lhe acrescente a cada dia os que forem salvos pela pregação do evangelho vivido pela Igreja (At 2.42-47). Esta é a razão da existência da Igreja, e estes versículos que lemos fazem parte do ensino de Paulo ao seu discípulo Timóteo, sobre como ele deveria ensinar e dirigir a Igreja pastoreada por ele.

Prestem atenção, irmãos! Vamos entender a missão redentora de Deus, desde Israel, até a Igreja de Cristo, dos apóstolos, e como ela continua em nossos dias. Como eu tenho dito aqui muitas vezes, não há no Velho Testamento nenhuma ordem para Israel ir pregar a outras nações, e sim, para ser santo como Deus é santo, testemunhando às nações sobre o seu Deus (Lv 11.44-45; Is 43.10). A ordem para ir pregar foi dada exclusivamente aos profetas, conforme Deus os enviou, e a quem Deus queria que eles pregassem.

Em raros casos os profetas foram enviados a outras nações, porém, com o objetivo de atingir o Israel de Deus, acusando o seu pecado e chamando o povo à obediência conforme a lei de Deus. A pregação também continha a ameaça de juízo por causa da desobediência, e que Israel seria oprimido e destruído por outras nações, conforme a lei de Deus, até que viesse o Messias prometido na lei de Deus, a fim de redimir o seu povo eleito.

Em nossa visão humana, Israel falhou em sua missão como povo separado por Deus para ser santo e dar testemunho às outras nações. Porém, como afirmam as Escrituras, os planos de Deus não podem ser frustrados (Jó 42.1). Portanto, Israel cumpriu a missão divina, ainda que a perda progressiva da santidade pelo abandono da lei de Deus lhe tenha acarretado opressão e destruição, conforme as promessas de Deus. Mas, como os profetas também anunciaram, e os planos de Deus não podem ser frustrados, Deus sempre deixou um remanescente fiel, para que, através desse remanescente, o Messias prometido viesse ao mundo.

Segundo a profecia, na plenitude do tempo, Deus enviou o Filho na pessoa de Jesus, nascido da virgem Maria. Na cruz do Calvário, o Senhor Jesus consumou a sua obra salvífica, depois de preparar os seus discípulos, comissioná-los como apóstolos, e enviá-los no poder do Espírito Santo para a edificação da sua Igreja. Uma vez formada pelos apóstolos, a Igreja é a continuação da missão de Jesus para reunir todos os eleitos do Pai, até a consumação dos séculos, quando ele voltará para buscar a sua Igreja completa.

Pois bem, como podemos ver a partir do livro de Atos dos Apóstolos, eles fizeram o que o Senhor Jesus lhes ordenou (Mt 28.19-20; At 1.8). No poder do Espírito Santo, mesmo sofrendo forte oposição, eles pregaram o evangelho em todo o mundo conhecido, deixando igrejas organizadas em diversas localidades. A partir dessas igrejas, o evangelho continuou a ser difundido pelo testemunho dos convertidos (1Ts 1.8), agora liderados por discípulos dos apóstolos, que continuaram enfrentando forte oposição. Os discípulos dos apóstolos, por sua vez, prepararam outros líderes à medida que o evangelho se espalhava, e igrejas eram organizadas de cidade em cidade pelo mundo afora (2Tm 2.2; Tt 1.5).

A missão original de Israel, ser santo como Deus é santo, e testemunhar de Deus a outras nações, com a chegada do Messias, passou a ser da Igreja. Notem que assim como Deus formou a nação de Israel a partir dos patriarcas, e lhes deu a lei, sacerdotes, juízes e reis para conduzi-los, e profetas para chamá-los ao arrependimento até a chegada do Messias, também formou a Igreja a partir de Jesus. Para a edificação da sua Igreja, o Senhor Jesus também nos deu os seus apóstolos, e a partir deles, os discípulos por eles formados, para que o evangelho fosse pregado em todo o mundo conhecido, conforme o Senhor Jesus ordenou (Mt 28.19-20).

Porém, como constatamos pelas Escrituras, assim como Israel nunca entendeu a missão redentora de Deus neles e através deles, a Igreja institucionalizada também não entende que deve ser apenas um povo santo de Deus, coluna e baluarte da verdade. Prestem atenção, irmãos! Assim como no caso de Israel, também não há uma única ordem dos apóstolos para as igrejas irem pregar em outros lugares, a não ser com a sua vida de santidade no meio em que vive, testemunhando a salvação recebida. Quem saía a pregar eram evangelistas vocacionados, enviados pela própria Igreja (At 13.1-2; Rm 15.24; ).

Em todas as cartas apostólicas, especialmente as de Paulo, vemos os irmãos sendo chamados à santidade, assim como nos é informado que os apóstolos foram chamados para pregar o evangelho (Rm 1.6-7; 1Co 1.1-2). Quando entendemos o evangelho da salvação, pelo dom ou dons recebidos pela graça, sem dúvida passamos a compreender qual a função da Igreja, e qual a nossa função na Igreja. Como Paulo ensina à desordenada Igreja de Corinto, nem todos têm os mesmos dons, já que o Espírito Santo os distribui conforme lhe apraz, com a finalidade exclusiva de edificar a Igreja, para que, pelo seu testemunho, ela continue a missão de Jesus na salvação dos eleitos do Pai.

É nesse sentido que a Igreja precisa ser coluna e baluarte da verdade, lembrando que a verdade é Cristo em sua missão redentora da criação de Deus, especialmente dos seus eleitos. Agora, observem que nos versículos lidos, assim como em outras cartas apostólicas, Paulo está ensinando a um discípulo seu, qual a verdade que ele, como pastor, deveria ensinar à sua Igreja, para que a Igreja desse testemunho da verdade aprendida.

Como Paulo está escrevendo a Timóteo, pastor da Igreja em Éfeso, ao afirmar que a Igreja é coluna e baluarte da verdade, certamente ele tinha em mente o magnífico templo da deusa Diana dos efésios, com seus 5.000 metros quadrados, sustentado por 127 colunas e baluartes com 18 metros de altura, local de culto idólatra. Quando pregou em Éfeso, Paulo teve problemas causados por Demétrio, ourives fabricante e vendedor de imagens de Diana (At 19). Pois bem, diferentemente do suntuoso templo de Diana, a Igreja de Cristo, mesmo sem ter templo algum, como era o caso, deveria ser coluna e baluarte da verdade. É disso que Paulo está tratando.

Prestem atenção, irmãos! Em nenhum lugar do Novo Testamento vemos qualquer ensinamento ou mesmo simples sugestão de que a Igreja deva crescer e se organizar como uma megainstituição, como um conglomerado de Igrejas, como vemos desde a Igreja Católica Romana, até as diversas denominações ditas evangélicas. A Igreja não é uma empresa, não tem dono, não tem chefe, nem regras fora dos preceitos de Deus revelados nas Escrituras pelos apóstolos de Cristo. Todas as Igrejas da Bíblia são tratadas individualmente, a partir dos seus pastores, até mesmo pelo Senhor Jesus nas cartas às sete Igrejas do Apocalipse.

Compondo a Igreja como um todo, como o corpo de Cristo, como ensina Paulo, cada Igreja local deve ser coluna e baluarte da verdade na comunidade onde estiver instalada, discipulada e conduzida por pastores constituídos pelo próprio Espírito Santo (At 20.28). Este é o ensino apostólico, e eu não consigo ver outra forma de Igreja na Bíblia.

É isso que Paulo está fazendo nos versículos que lemos, como o faz em todas as suas cartas: discipulando e disciplinando as igrejas, principalmente por causa dos falsos mestres e suas falsas doutrinas que perturbavam os irmãos. Quando ele diz a Timóteo escrevo-te estas coisas, ele está se referindo ao que já havia escrito um pouco antes, especialmente sobre os líderes da Igreja, da mesma forma como ordenou a Tito, outro discípulo formado por ele, no sentido de estabelecer presbíteros em cada Igreja (Tt 1.5).

Como podemos observar tanto nesta carta a Timóteo como na carta a Tito, logo após os ensinamentos sobre como deveriam ser escolhidos os líderes da Igreja, Paulo passa a falar sobre os falsos mestres, e suas falsas doutrinas. Daí ser imprescindível o ensino correto, para que a Igreja seja coluna e baluarte da verdade, sem se deixar contaminar com a mentira. Esta é uma responsabilidade intransferível dos líderes, e é por isso que eu insisto em chamar atenção dos irmãos contra os falsos pastores e seus falsos ensinos, mostrando-lhes qual o ensinamento bíblico sobre a Igreja em sua missão divina.

A Igreja não é um clube sociorreligioso. A Igreja não é uma empresa religiosa. A Igreja é a continuidade da missão de Jesus em salvar os eleitos do Pai. Para isso, a Igreja se reúne, seja em que lugar for, a fim de aprender mais de Deus, para que cada irmão que compõe a Igreja de Cristo possa ser coluna e baluarte da verdade, testemunhando a salvação recebida pela graça, em todos os seus relacionamentos interpessoais. Irmãos queridos, nós precisamos conhecer o nosso Deus; nós precisamos conhecer a sua palavra, para que realmente sejamos coluna e baluarte da verdade, como Paulo afirma nestes dois versículos.

Se a Igreja não entender estas coisas, ela continuará trabalhando em causa própria naquilo que chamam de missões, para a sua própria glória, para a glória dos seus líderes, como Israel do Velho Testamento, cada vez mais distante da santidade ordenada por Deus, quanto mais distante estiver da sua palavra.

Eu sei que esta não é uma pregação convencional de nossos dias. Mas este é o papel de um pastor constituído pelo Espírito Santo: ensinar e conduzir o rebanho de Cristo, enquanto Deus lhe acrescenta os que são salvos pelo evangelho pregado e vivido, até que ele volte para buscar a sua Igreja completa.

Que Deus nos ajude nessa empreitada de continuar a missão redentora do Senhor Jesus Cristo, para louvor da glória de Deus. Amém.