A vontade de Deus revelada nas Escrituras – Lc 10.25-29

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Queridos, vivemos dias de grande confusão, mesmo no seio da Igreja, no que se refere ao nosso conhecimento e relacionamento com Deus, e por consequência, essa confusão afeta o nosso tratamento com a natureza que Deus nos confiou, com os nossos semelhantes, e até mesmo com os nossos próprios familiares.

De forma confusa vemos pessoas religiosas, frequentadoras assíduas de igrejas, e até mesmo seus líderes vivendo em franca desobediência às determinações de Deus nas Escrituras. Vemos pessoas para as quais, pelo menos em sua impressão subjetiva, Deus é tão íntimo, tão chegado que lhes fala a todo instante tudo que devem fazer, só que as suas atitudes e ações, pela confusão em que vivem, estão muito mais de acordo com a vontade do diabo do que com a vontade de Deus revelada nas Escrituras.

Irmãos, o que nós realmente conhecemos de Deus e da sua vontade revelada? E, se conhecemos alguma coisa, será que esse conhecimento não é apenas intelectual? Será que não se trata de um conhecimento apenas cultural, religioso, que foi transformado em algo subjetivo, privatizado, limitado e circunscrito aos nossos próprios interesses?

Como lemos no texto, o homem que se dirigiu a Jesus era um intérprete da lei, um mestre em Israel, mas, como podemos ver, o seu conhecimento da lei era algo puramente cultural, religioso, centrado nele mesmo, e não na vontade de Deus. Ou seja, não houve salvação naquele homem. A salvação alcança nosso intelecto, emoções e vontade. É isso que quer dizer amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, e com todo o entendimento (v.27). Logo, o salvo, pelo milagre da regeneração, passa a ser dirigido por Deus e direcionado para Deus, de acordo com a sua vontade revelada nas Escrituras. Não há mais lugar para subjetivismo, para achismo, para egocentrismo.

Segundo as Escrituras, declaração de fé sem a demonstração prática dessa fé por obras de obediência, como ensina Tiago, não passa de fé oca, sem substância, sem valor algum (Tg 2.17). Irmãos, prestem atenção! Na salvação, o conhecimento de Deus nos chega pelo intelecto, pelo que ouvimos, vemos e aprendemos, atinge as nossas emoções quando compreendemos o grande amor de Deus, que deu seu Filho unigênito em nosso lugar, em sacrifício pelos nossos pecados, e como consequência natural, a graça afeta a nossa vontade, que passa a ser moldada segundo a vontade daquele que nos salvou.

Eis é o foco do ministério de um pastor: ensinar a vontade de Deus aos salvos. Se fomos salvos, precisamos desenvolver o conhecimento de que Deus criou todas as coisas boas; mas que nossos primeiros pais caíram em pecado e toda a criação foi corrompida; que por causa do pecado, todos fomos destituídos da glória de Deus; mas Deus, no seu plano eterno, providenciou a redenção da criação caída, e no tempo oportuno mandou o Messias, seu Filho Jesus, operar a obra maravilhosa da redenção de toda a criação, especialmente a salvação dos eleitos do Pai, para louvor da sua glória.

Irmãos, eu sei que todos aqui têm esse conhecimento básico. A questão é: será que esse conhecimento não está como o do homem que interpelou Jesus, apenas querendo pô-lo em provas (v.25)? Vejam que ele era um intérprete da lei, mas sequer sabia quem era o seu próximo (v.29), e isso pode ser interpretado na lei. Então podemos perceber que o seu conhecimento da lei era puramente religioso, centrado nele mesmo, no cumprimento de regras para herdar a vida eterna, de forma totalmente subjetiva e individualista.

Quantos não estão interessados somente em si mesmos, em ganhar a vida eterna apenas cumprindo regras segundo os seus achismos, segundo a sua interpretação subjetiva da lei? Não será por isso que, quando lhes mostramos qual a vontade de Deus claramente revelada nas Escrituras, sempre tem um “mas…”. Eu sei, pastor, mas…

Observem qual foi a primeira palavra de Jesus em resposta ao intérprete da lei. O Senhor lhe respondeu com duas perguntas sobre o que ele deveria saber, e não sobre o que ele deveria fazer, para herdar a vida eterna: Que está escrito na lei? Como interpretas? (v.26). Jesus não lhe perguntou: O que diz a tradição dos anciãos? O que você acha disso? Ou, contextualizando para os nossos dias: O que o diz o evangelho social? O que dizem os pastores das igrejas da vitória ufanista, ou da religião vida mansa? Não! O Senhor Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas? (v.26).

Percebem, irmãos? Em princípio, para herdar a vida eterna, nós não temos que fazer alguma coisa, e sim, saber o que Deus fez para nos salvar, e o que ele quer, pela interpretação correta da lei, que é a vontade de Deus revelada nas Escrituras. Se fomos salvos, não podemos mais dar ouvidos ao nosso ego, ao nosso subjetivismo, muito menos a ensinamentos que não estejam de acordo com as Escrituras. Desde o princípio Deus adverte o seu povo na lei de Moisés: Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força (Dt 6.4-5).

Na metade do caminho entre a entrega da lei de Moisés e nós, alertando contra os falsos profetas, Deus diz a Israel através do profeta Isaías: À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva (Is 8.20). Ou seja, o verdadeiro profeta é aquele que fala rigorosamente de acordo com a lei e o testemunho, conforme as Escrituras.

Aos seus discípulos, o Senhor Jesus lhes diz: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27). Se me amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14.15). Sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5). Ou seja, não podemos fazer nada para ser salvos, e sim, uma vez salvos, pela mesma graça, somos ensinados e direcionados a fazer a vontade daquele que nos salvou. Agora, uma vez salvos, não há mais lugar para subjetivismos, para achismos, mas para buscar a interpretação do que está escrito, porque, como ensina o apóstolo Paulo, são as Escrituras que nos podem tornar sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2Tm 3.15).

Que está escrito na lei? Como interpretas? (v.26). Como podemos ver pela resposta do homem, ele conhecia intelectualmente a lei, já que a citou corretamente (v.27), mas não sabia interpretá-la. Ou seja, o seu conhecimento era apenas intelectual, cultural, religioso. Na verdade, ele não sabia o que quer dizer amar a Deus com todo o seu ser, muito menos que esse amor se materializa no amor ao próximo. De forma absurda para um intérprete da lei, ele sequer sabia quem era o seu próximo (v.29).

Ora, quem não sabe quem é o seu próximo, também não sabe quem é Deus. Logo, não pode herdar a vida eterna. Como podemos ver claramente na lei e nas palavras de Jesus, a consequência natural do amor a Deus é amar o próximo como a nós mesmos (vv.27-28). Faze isso e viverás. Faze isso, o quê? A vontade objetiva de Deus revelada nas Escrituras, interpretada corretamente, e não a vontade subjetiva de cada um com base em achismo, desconhecimento ou interpretação errada da lei de Deus.

Que ninguém aqui seja como este homem, com conhecimento intelectual da lei, mas apenas um religioso com motivações subjetivas perversas. Não sabemos qual a vontade de Deus? Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não sabemos estas coisas? Então, como ordena o Senhor Jesus, faze isto, e viverás. É isso que se espera de um salvo, nada menos que isso.

Que Deus nos abençoe com o entendimento da sua doutrina, e com a obediência para pô-la em prática, para louvor da sua glória. Amém.