Queridos, como temos visto nos dois últimos domingos, convencionou-se que maio é o mês das mães, o mês da família. Então, vamos continuar falando para as famílias, lembrando que a igreja é a nossa família maior, a família de Deus. Precisamos considerar que a nossa comunhão como membros da família de Deus, é o testemunho vivo de que Cristo foi enviado pelo Pai, para a nossa salvação, como o próprio Senhor Jesus orou rogando ao Pai: Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que me enviaste (Jo 17.20-21).
Observem que a nossa comunhão, a nossa unidade como família de Deus, como corpo de Cristo é o testemunho mais evidente aos olhos do mundo de que Deus enviou o seu Filho ao mundo, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Este é o motivo da exortação do apóstolo Paulo aos crentes de Éfeso, como veremos mais detalhadamente.
No v.1 o apóstolo roga que os irmãos vivam de modo digno da vocação para a qual foram chamados. Precisamos lembrar que, quando Paulo escreveu esta carta, ele estava preso por causa da pregação do evangelho. Portanto, esse primeiro versículo nos ensina, primeiramente a nós pastores, como líderes dessa família de Deus, que precisamos pregar o evangelho da verdade, mesmo que isso nos cause problemas sociais; mesmo que isso não dê ibope; mesmo que isso nos dê a certeza de que nunca teremos uma grande plateia. Esse primeiro versículo nos ensina que precisamos ser crentes verdadeiros e fiéis, segundo a vocação para qual fomos chamados, independentemente das circunstâncias. Agora, como Paulo ensina em 2.19, somos da família de Deus, e no exercício dessa vocação precisamos cultivar algumas virtudes, que o apóstolo passa a enumerar:
A primeira virtude é a humildade (v.2). Irmãos, um crente não pode ser orgulhoso; um crente não pode ser arrogante, porque isso está em total desacordo com a nossa vocação. Nós sabemos que tudo quanto possuímos provém de Deus, pela sua graça, a começar pela vida, os dons, os talentos, a saúde, a inteligência, a capacidade de produzir as coisas, enfim, tudo, tudo. Se somos da mesma família, ninguém pode ser arrogante.
Por isso, Paulo argúi os crentes arrogantes e orgulhosos de Corinto: Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se não tiveras recebido? (1Co 4.7). Percebem, irmãos? Se fazemos parte do mesmo corpo, membros da mesma família, a igreja, que é nutrida pelo mesmo Senhor, isso deve nos manter humildes, em comunhão uns com os outros.
A segunda virtude é a mansidão (v.2). Esta virtude é consequência da primeira. Quem é humilde é manso. A mansidão é a virtude que nos capacita a abrir mão de nossos direitos para cultivar a unidade da família cristã. Em toda a Bíblia não há um só versículo que nos ensine a exigir direitos, mas há inúmeros que nos ensinam a cumprir deveres, a nos sacrificar, a sofrer o dano em favor do próximo. Abraão agiu assim. Por causa de contendas entre os pastores de seus rebanhos e os pastores dos rebanhos de seu sobrinho Ló, precisaram dividir das terras, e Abraão abriu mão do direito de escolher, permitindo que Ló escolhesse as melhores terras: as campinas do Jordão. Demonstrando mansidão, Abraão sofreu o dano em favor do seu sobrinho Ló, e ficou com a pior parte das terras, porque sabia que o Senhor Deus estava no controle da sua vida.
A terceira virtude é a longanimidade (v.2). Esta palavra quer dizer ânimo longo, ou firmeza de ânimo para continuar até o fim. Irmãos, as coisas nem sempre acontecem como nós queremos, porque as pessoas nem sempre agem da maneira como nós esperamos. Precisamos lembrar que todos nós somos cheios de limitações; precisamos lembrar que todos nós cometemos muitas falhas, e que na maioria das vezes, todos nós cometemos as mesmas falhas. É por isso que nós precisamos ser longânimos uns com os outros, precisamos ter ânimo longo para lutar pela comunhão dos santos, pela comunhão da Igreja, que é a família de Deus. Todos nós, de igual modo, precisamos da sua graça.
A quarta virtude é a tolerância (v.2). Quando o apóstolo manda que nos suportemos uns aos outros, embora o verbo suportar também tenha o sentido de servir de suporte, aqui, o sentido é tolerar mesmo. É claro que é difícil tolerar um chato, um arrogante, um presunçoso, mas precisamos lembrar que a ordem de Paulo é para todos os membros da família chamada Igreja. Portanto, a tolerância deve ser mútua, de uns para com os outros. Quando toleramos alguém, é sempre bom lembrar que, provavelmente, alguém estará nos tolerando também, e isso deve ser feito em amor, considerando as limitações de cada um. Atenção! Ser tolerantes não quer dizer que devemos ser condescendentes com o pecado. Este, nós devemos confrontar sempre, à luz da Palavra.
A quinta e última virtude é a unidade que promove a paz (vv.3-6). Na verdade, essa virtude é a síntese de todas as outras. Prestem atenção, irmãos! Se cada uma das virtudes anteriores já é difícil de ser cultivada isoladamente, quanto mais todas elas. Irmãos queridos, foi Jesus quem disse: sem mim nada podeis fazer (Jo 15:5). Ou seja, nós só conseguiremos exercer a nossa vocação de filhos de Deus, de membros da sua família, se contarmos com a sua maravilhosa graça que nos escolheu e nos sustenta. Observem que é o Senhor Jesus quem diz que é impossível ser um crente verdadeiro sem a sua graça.
Neste mundo cada vez mais perverso, todos nós sabemos como é difícil viver como crente, como membro da família de Deus. Há muitas ocasiões em que negamos o Senhor, como Pedro; todos nós sabemos como é difícil ser humilde, porque nós nos achamos os tais, e sempre estamos com a razão; todos nós sabemos como é difícil ser manso, porque simplesmente não queremos abrir mão dos nossos pretensos direitos; todos nós sabemos como é difícil ser longânimo, porque a tendência é desistirmos da comunhão com os irmãos quando as nossas expectativas são frustradas, quase sempre por falhas que atribuímos aos outros; todos nós sabemos como é difícil suportar as pessoas que não nos agradam, e por isso, procuramos evitá-las. Irmãos, nada disso não é novidade para nós. É sobre essa dificuldade que o apóstolo está ensinando aos efésios há quase dois mil anos, ensino que continua sedo aplicado a nós.
Como nós precisamos da graça de Deus, irmãos! A mesma graça que nos alcançou, em Cristo, e que nos incluiu na família de Deus, agora precisa ser evidenciada na vida dos salvos através da comunhão dos santos, da unidade do corpo de Cristo, que é a sua Igreja. Observem que nós não somos convocados a criar a união. Isto é milagre de Deus, em Cristo Jesus. Nós somos convocados a preservar a unidade que já existe, no temor do Senhor. A unidade que o Espírito Santo consolida, fazendo com que pessoas das mais diferentes culturas, classes sociais, raças, povos e nações formem uma só família, o corpo de Cristo, a igreja de Deus que Cristo veio resgatar com o seu sangue vertido na cruz, e que virá buscar no último dia.
Agora, como igreja de Cristo, como família de Deus, é nossa responsabilidade preservar a união, no vínculo da paz, e isto é possível, porque a Palavra de Deus nos garante. Por isso, devemos nos esforçar sempre no sentido de viver em comunhão uns com os outros. Afinal, somos uma família, um só corpo, nutrido por um só Espírito, o Espírito Santo; temos a mesma esperança em um só Senhor, o Senhor Jesus, autor e consumador de uma só fé; fé que é confirmada em um só batismo, no amor de um só Deus, o Deus Pai, que age em nós e por meio de nós, para louvor da sua glória.
Que Deus nos conceda graça para entender a sua doutrina, e mais graça para pô-la em prática. Amém.