Queridos, no domingo passado nós falamos sobre o conhecimento do amor de Deus, e na mensagem do boletim nós também mostramos que não há como compreender o amor de Deus, a doutrina da salvação sem compreender a doutrina da queda, a doutrina do pecado.
Infelizmente, sem nenhuma dúvida, a maneira como tratamos o pecado, como se fosse algo de pouca importância, é muito mais comum do que nós temos consciência. Podemos perceber, e até já ouvimos de alguns irmãos que andam em pecado deliberado, que depois pedirão perdão a Deus. Afinal, dizem eles, nós somos pecadores mesmo, e Deus é um deus de amor, misericordioso e perdoador. Portanto, cada um no seu papel. O nosso, é pecar, e o de Deus, é perdoar. Simples assim.
Ou seja, na visão de muitas pessoas que se consideram crentes, o pecado é algo banal, e, por conseguinte, o perdão de Deus, também. É só pedir perdão que o pecado estará perdoado, e a pessoa fica livre para pecar de novo, e pedir perdão de novo, e assim sucessivamente. Afinal, o autoengano do pecado leva tais pessoas a pensar que Deus está lá no céu é para isso mesmo, para nos perdoar e nos abençoar. E ainda se baseiam na Bíblia, citando o ensino de Paulo: onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5.20). Que tragédia!
Irmãos queridos, a coisa não é tão simples assim. A Bíblia nos ensina que, a partir da desobediência de Adão, há uma inimizade estabelecida contra Deus, e isso pode ser visto claramente quando Adão se afastou de Deus, mesmo antes da sentença condenatória de Deus (v.8). Ou seja, o pecado nos afasta de Deus imediatamente. Como ele mesmo diz a Israel através do profeta Isaías, as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça (Is 59.2).
Entre todas as consequências do pecado de Adão, como a morte que nós tememos tanto, a mais grave foi o rompimento da comunhão entre o homem e Deus, e quem primeiro provocou e demonstrou esse rompimento foi o homem. Depois do pecado, ele procurou se esconder de Deus, ou em outros termos, depois do pecado a sua tendência natural passou a ser buscar da ausência de Deus, por causa do medo, do desconforto e da vergonha que o pecado provocou nele.
A exemplo de Adão, sem o arrependimento, depois da sentença condenatória e da expulsão da presença de Deus, aí é que o pecador não tem motivo para amar a Deus, para buscar a sua presença. É assim que o homem natural age, mesmo que não tenha consciência disso. É por isso que muitos membros de igrejas, obviamente falsos crentes, não gostam de ouvir pregações que admoestam, porque, na verdade, como Adão, não gostam de se arrepender, não querem se arrepender.
Podemos observar na atitude e nas palavras de Adão que não havia qualquer arrependimento pelo que ele havia feito. A única coisa que fica clara na sua atitude e nas suas palavras é que ele ficou com medo (v.10). Ou seja, a preocupação de Adão era consigo mesmo, com a situação em que ele se encontrava depois do pecado, e não com o fato de haver desonrado a Deus com o pecado, rompido o relacionamento com o seu Criador.
Com Caim aconteceu a mesma coisa. Quando Deus o confrontou com o seu crime de assassinato, ele não demonstrou qualquer arrependimento. Quando Deus proferiu a sentença de que ele seria fugitivo e errante pela terra, ele preocupou-se imediatamente com a própria situação: Quem comigo se encontrar, me matará (Gn 4.14).
Percebem, irmãos, a imprescindibilidade de reconhecer que somos miseráveis pecadores, e que precisamos da misericórdia de Deus? Enquanto não tivermos esse reconhecimento, jamais nos interessaremos pela glória de Deus, e sim pela nossa situação pessoal, o que é idolatria. Enquanto não reconhecermos a nossa culpa, o que buscamos em Deus é apenas a solução para os nossos problemas pessoais, problemas causados pelo pecado, pecado que nos afasta de Deus, embora nós imaginemos e até afirmemos que estamos buscando a sua glória. É isso que chamamos de autoengano do pecado.
O que aconteceu com Adão, acontece ainda hoje com qualquer pecador que não se arrepende. Podemos ver que Adão não reconheceu que o seu pecado foi a causa da sua desgraça, não reconheceu que o seu pecado foi a causa do seu medo de Deus. Antes de pecar, ele conversava livremente com Deus. Agora, depois do pecado, ele tinha medo (v.10). Foi preciso que Deus o confrontasse: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? (v.11).
Percebem a sabedoria e a graça de Deus? Quando Deus o confrontou, ele queria que Adão reconhecesse que havia pecado, e que se arrependesse, que pedisse perdão, mas isso não aconteceu. Adão imediatamente se esquivou da sua culpa, e transferiu a responsabilidade do seu pecado para a mulher (v.12), e por tabela, para Deus, que lhe deu a mulher, sem que ele lhe tivesse pedido (Gn 2.18).
De fato, esta é a maior consequência do pecado. O pecado faz separação entre nós e Deus. O pecado nos afasta de Deus, e nos impede de enxergar Deus como ele é, um Deus de amor e misericórdia, mas um Deus que é santo e justo. O pecado nos afasta de Deus, e nos faz enxergá-lo como nós o formatamos, como nós gostamos que ele seja, um deus Papai Noel, um deus que condescende com o pecado. É por isso que muitos que se dizem crentes continuam nas trevas da ignorância, no erro, no engano, no medo, na angústia, no sentimento de culpa, na miséria e escravidão do pecado.
E aqui, de passagem, queremos acusar um desdobramento natural de tão densas trevas. Os chamados cultos de cura e libertação, liderados por falsos pastores que, segundo as Escrituras, já estão condenados, e por isso mesmo, pelo autoengano do pecado, conduzem multidões para o abismo em que se encontram.
Prestem atenção, irmãos! Somente quando reconhecemos que estamos separados de Deus, e que isto se dá por causa dos nossos pecados, então nós buscamos a Deus com a motivação certa: em arrependimento, com o coração compungido e contrito, certos de que Deus mesmo, pela sua graça, já providenciou o meio para nos livrar do medo, da culpa e da maldição dos nossos pecados, e nos conceder o seu perdão.
E porque o pecado é tão hediondo, a ponto de nos separar de Deus, sabemos que o meio utilizado por Deus foi o mais maravilhoso de todos os seus atos, muito superior à própria criação do universo: foi o sacrifício do próprio Deus Filho, na pessoa de Jesus Cristo, nosso Senhor, o único meio capaz de aplacar a ira de Deus contra nós por causa dos nossos pecados.
Irmãos queridos, se houver alguém aqui que não consegue considerar estas coisas com a máxima profundidade, clame pela misericórdia de Deus, para que ele o salve, para que ele converta o seu coração e o faça compreender a gravidade do pecado, e a terrível consequência do pecado que nos separa de Deus. Só assim, pela graça de Deus, nós seremos capacitados a também enxergar a maravilhosa solução que há somente em Jesus Cristo para a salvação de pecadores.
Por isso, rogamos que Deus infunda em nossos corações o mais profundo arrependimento pelos nossos pecados que ofendem a sua santidade, e a consequente gratidão por tão grande salvação que há em Cristo Jesus nosso Senhor, a fim de que sejamos testemunhas fieis desta maravilha, para louvor da sua glória. Amém.