Queridos, há vários domingos nós temos falado de Jesus como o Mediador do pacto, a aliança eterna de Deus. Ele é o Deus Filho que tomou forma de homem, e como todas as doutrinas bíblicas, a Trindade e a Encarnação são doutrinas que se relacionam. A doutrina da Trindade declara que o homem Jesus é verdadeiramente divino, e a doutrina da encarnação declara que o divino Jesus é verdadeiramente homem.
Juntas, estas duas doutrinas proclamam a realidade do Salvador, o Mediador da aliança, o Filho que veio da parte do Pai para tornar-se o substituto do pecador, na cruz do Calvário, porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Atenção! Não é para todos, mas apenas para aqueles que nele creem.
Foi para isso que o Filho, pelo poder do Espírito, nasceu da virgem Maria para ser o Mediador da aliança eterna do Pai. A encarnação de Jesus foi um milagre de Deus, e é surpreendente que alguns judeus tenham chegado a aceitar que Jesus realmente era o Filho de Deus encarnado. Afinal, a sua lei ensinava que há um só Deus, e que nenhum homem é divino. No entanto, todos os escritores do Novo Testamento, que eram judeus instruídos no judaísmo, ensinam que Jesus é o Filho de Deus, o Mediador da aliança, o Messias prometido no Velho Testamento, o filho de Davi ungido pelo Espírito.
Como se lê em Is 11.1-4, do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso.
Pouquíssimos judeus compreenderam que esta profecia falava de Jesus, o Filho de Deus, o Verbo encarnado. Como lemos no início, segundo o evangelista João, Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam (v.11), embora todos os escritores do Novo Testamento tenham apresentado o Senhor Jesus no seu tríplice papel de profeta, sacerdote e rei, e insistido em que Jesus deve ser adorado como Deus verdadeiro.
Além disso, nos evangelhos encontramos várias declarações do próprio Jesus, afirmando eu sou, com o mesmo significado que Deus Pai falou a Moisés em Êx 3.14 – Eu Sou o que Sou. Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós. Jesus usou essa expressão com o mesmo significado em Jo 8.28 – Quando levantardes o Filho do homem, então sabereis que eu sou, e mais adiante, no v.58 – Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou.
Em outras declarações metafóricas mais conhecidas, Jesus afirmou a mesma coisa: Eu sou o pão da vida, aquele que dá alimento espiritual (Jo 6.35,48,51); Eu sou a luz do mundo, aquele que dissipa as trevas (Jo 8.12; 9.5); Eu sou a porta das ovelhas, aquele que dá acesso a Deus (Jo 10.7,9); Eu sou o bom pastor, aquele que dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11,14); Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que tem domínio sobre a morte (Jo 11.25); Eu sou o caminho, a verdade e a vida, aquele que nos leva de volta à comunhão com o Pai (Jo 14.6); Eu sou a videira verdadeira, aquele que nos dá nutriente para fertilidade (Jo 15.1,5).
Paulo declara a divindade de Jesus quando diz que nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade (Cl 1.19; 2.9); quando diz que ele é Deus sobre todos (Rm 9.5); quando diz que ele é Deus e Salvador (Tt 2.13); quando faz preces diretamente a ele pedindo que lhe retire o espinho na carne (2Co 12:8-9).
Irmãos queridos, nós precisamos estudar diligentemente as doutrinas bíblicas, e não apenas nos acostumar culturalmente com o que ouvimos. Eu tenho insistido para que vocês leiam e meditem na Palavra tentando compreender o que estão lendo, anotando as suas dúvidas, e perguntando para que sejam esclarecidas. Estejamos certos de que sem a compreensão exata desta doutrina da encarnação, jamais alguém poderá desejar que Jesus nasça em seu coração.
Façamos um autoexame. Todos têm procurado diligentemente conhecer a largura, a altura e a profundidade desta doutrina? Todos sabem o significado e o propósito da encarnação de Jesus? Todos conseguem meditar demoradamente em que Deus, o criador do mundo, na pessoa do Filho, fez-se carne e habitou entre nós, tomou sobre si os nossos pecados, a fim de nos apresentar justificados diante de Deus Pai?
É este o propósito de Deus na encarnação do Filho: Ele é o Mediador capaz de nos levar de volta ao Pai, e para isto ele se fez um de nós. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: os que creem no seu nome (v.12). Pois bem, se o Filho de Deus se fez um de nós para nos levar de volta ao Pai, nada mais desejável e esperado que lutemos tenazmente contra o pecado, a fim de que sejamos feitos iguais a Jesus, santos como o Filho de Deus encarnado.
É bom observar que, quando Paulo diz aos filipenses que Jesus, subsistindo em forma de Deus, não julgou por usurpação ser igual a Deus, antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens (Fp 2.6-7), ele está expondo a revelação pelo prisma de Jesus, que é Deus-homem, o Mediador da aliança, que após realizar a obra na cruz do Calvário, retornou à sua glória que sempre lhe pertenceu, à direita do Pai.
Pois bem, quando olhamos a revelação pelo prisma humano, não podemos deixar de ver o quanto Jesus, sendo Deus encarnado, enobreceu a nossa natureza humana. Porém, somente os eleitos, os salvos, os justificados com a justiça de Jesus, estão agora investidos no poder de serem feitos iguais a ele, pela ação do Espírito Santo. Foi-lhes dado o poder de serem feitos filhos de Deus, aqueles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (v.13).
Foi para isso que o Deus Filho, o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (v.14). Já pensaram nisso, irmãos? Vamos repetir. Quando Jesus fez-se igual a nós, ele o fez segundo o propósito eterno do Pai, para que sejamos iguais a ele, herdeiros do reino de Deus. Jesus se fez maldição por causa dos nossos pecados, para nos fazer santos como ele é santo, a fim de que com ele reinemos na glória do Pai.
Portanto, quando conhecemos a doutrina da encarnação, saber que Deus Filho, o Verbo de Deus tomou corpo humano na pessoa de Jesus, deve nos estimular a desejar ardentemente que ele seja espiritualmente nascido em nossos corações, e cresça a cada dia, certos de que esta é uma obra sobrenatural de Deus. Foi assim que ele decidiu na eternidade, e assim será no tempo e na eternidade. Afinal, de que adiantaria Jesus ter nascido como homem, se ele não nascesse em nossos corações, tornando-nos um com ele, como ele é um com o Pai?
O apóstolo João realmente viu a glória de Jesus, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (v.14), e nós também a veremos no dia em que ele vier nos buscar. Foi para isso que ele encarnou tomando a forma de homem, morreu a nossa morte na cruz do Calvário, e ressuscitou para nos dar a sua vida eterna.
Que Deus nos conceda graça para compreender a sua doutrina, e mais graça ainda para que possamos viver de acordo com a sua vontade, para louvor da sua glória. Amém.