Queridos, em nossos dias é comum ouvir falar ou ler sobre as características dos tempos pós-modernos em que vivemos, e uma delas é a prevalência dos sentimentos sobre a razão, sobre o intelecto. Ou seja, o que se sente é mais importante do que aquilo que se sabe. Em outros termos, o subjetivismo, ou o “achismo” pessoal tem mais importância do que a verdade objetiva. Aliás, não se considera mais que haja uma verdade objetiva. Para a nossa aflição, e para aumentar a esperança na misericórdia de Deus, essa característica da pós-modernidade está muito presente na Igreja.
Porém, queremos lembrar que esta não é uma característica exclusiva da pós-modernidade. Nos tempos de Israel, após a peregrinação pelo deserto, chegando à terra prometida, pela boca de Moisés, Deus já chamava atenção do povo para o subjetivismo, para o “achismo” pessoal sem fundamento na verdade objetiva de Deus. Assim diz o Senhor: ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição, [a maldição por causa da idolatria] se abençoe no seu íntimo dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração (Dt 29.19). Vejam só qual era a inclinação, ou a intenção do povo. Mesmo que estivessem em franca desobediência à lei de Deus, ainda seriam capazes de achar que Deus os abençoaria. Como isto é atual, irmãos!
Cerca de 1.500 anos depois, no início da Era Cristã o Senhor Jesus nos mostra a mesma característica entre muitos que se julgam salvos: o subjetivismo, o “achismo” pessoal sem fundamento na verdade objetiva de Deus. Assim diz o Senhor: Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade (Mt 7.22-23).
Que coisa terrível! Observem que o Senhor Jesus não contesta que tais pessoas tenham feito tudo o que afirmaram: elas profetizaram, ou seja, proclamaram a palavra de Deus, expeliram demônios, fizeram muitos milagres, e o Senhor não nega as suas obras. Porém, tudo aquilo foi feito com base no “achismo”, no subjetivismo, com base na sua capacidade pessoal, e não com base na verdade de Deus. Aqueles muitos a quem Jesus se refere se imaginavam salvos, e certamente afirmavam isso, mas não eram.
Daí, a minha insistência em ensinar a verdade, a mesma insistência dos profetas do Velho Testamento, a mesma insistência do Senhor Jesus, a mesma insistência dos apóstolos, a mesma insistência dos chamados Pais da Igreja, a mesma insistência dos reformadores, a mesma insistência dos pastores fieis, porque sem o conhecimento da verdade objetiva de Deus, de nada adiante se autodenominar povo de Deus ou Igreja de Cristo, se este povo ou esta Igreja continuar escravizada pelo engano do pecado.
Todos, ou quase todos os membros de igrejas dizem que são salvos. Porém, quando perguntamos: Você tem certeza da sua salvação? Qual a base da sua certeza? Normalmente, a resposta é algo do tipo eu sinto no meu coração. A explicação do apóstolo Paulo é bastante diferente: eu sei em quem tenho crido.
Atentem para a diferença e a distância entre as duas convicções! A falsa certeza de um tem base nos seus sentimentos, no seu coração, sem atentar para a Palavra de Deus que diz: enganoso é o coração, mais que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? (Jr 17.9). A certeza do outro tem base no seu conhecimento de Deus: eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia (2Tm 1.12).
Percebem irmãos? Não que o sentir seja necessariamente errado, mas o sentir precisa estar firmado no saber. Vamos conhecer um pouco mais sobre o nosso Deus.
No trecho de Hebreus que lemos, o autor diz que Deus fez uma promessa a Abraão, e jurou por si mesmo, já que não há ninguém acima dele por quem jurar (vv.13-14). Abraão creu, e a fé na promessa de Deus, a fé no Messias que haveria de vir da sua descendência, foi-lhe imputada por justiça. O v.15 nos diz que Abraão obteve a promessa, e sabemos que a promessa foi para ele e para a sua descendência.
Podemos perceber no texto, que há uma dupla garantia da nossa salvação, e nenhuma delas está baseada nos nossos sentimentos. Há uma promessa e um juramento feitos pelo próprio Deus, e o v.18 nos diz que estas são duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta. Abraão sabia disso e cria nisso.
Acontece que, como a fé não se transmite por hereditariedade, e como o nosso Deus é misericordioso, por saber que somos fracos, ele acrescentou à promessa um juramento, simplesmente porque quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa [a descendência de Abraão] a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento (v.17).
Meu Deus! Meu Deus maravilhoso! Irmãos, nós precisamos conhecer cada vez mais esse Deus maravilhoso! Vejam porquê! Os verdadeiros crentes, os herdeiros da promessa não são aqueles que afirmam ser salvos com base nos seus sentimentos. Os verdadeiros crentes, os herdeiros da promessa são aqueles que sabem que são salvos porque estão firmados na imutabilidade do propósito de Deus, e para aumentar a nossa certeza quanto ao seu propósito, Deus se interpôs com juramento. Como o nosso Deus é maravilhoso! A salvação dos seus eleitos é dele, por meio dele, e para ele.
Os verdadeiros crentes, os que são herdeiros da promessa podem ter certeza da salvação, porque ela pertence a Deus, e não depende nem mesmo dos próprios eleitos de Deus, aqueles que o conhecem, muito menos daqueles que apenas se imaginam eleitos com base nos seus sentimentos, mas depende unicamente da fidelidade de Deus no cumprimento dos seus propósitos eternos. Assim jurou o Senhor: Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que meus lábios proferiram (Sl 89.34).
Os verdadeiros crentes, os herdeiros da promessa conhecem a promessa feita a Abraão, e sabem que são filhos da promessa, como ensina o apóstolo Paulo aos Gálatas: Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão, (…) de modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão (Gl 3.7,9). Fé, aqui, é conhecimento de Deus, é confiança absoluta na verdade objetiva de Deus, e obediência prazerosa.
A questão é: Será que todos os que se dizem salvos conhecem a Deus, conhecem a sua promessa, confiam absolutamente e obedecem a palavra de Deus? Quantos haverá que apenas dizem: Senhor, Senhor, mas não fazem o que ele manda? Esta foi a pergunta do Senhor Jesus aos judeus dos seus dias: Porque me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? (Lc 6.46). São estes os que apenas sentem que são salvos, mas não conhecem a Deus, não confiam na sua promessa nem obedecem a sua palavra, e que, certamente, no último dia, ouvirão do Senhor, nunca vos conheci. Que coisa terrível!
De modo diferente, os verdadeiros crentes, os herdeiros da promessa podem afirmar que são salvos, podem se alegrar no Deus da sua salvação, e as pessoas com as quais convivem certamente perceberão e testemunharão esta verdade. Como? Pela conduta do salvo, pelo seu conhecimento de Deus, pela sua confiança na promessa, e pela sua obediência incondicional à palavra de Deus.
A certeza da salvação do crente está na revelação de Deus, na sua palavra que nos salva e nos garante a salvação. Afinal, como nos ensina o último versículo, já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta, a qual temos por âncora da alma, segura e firme, e que penetra além do véu (v.19). A nossa salvação pertence a Deus, e está em suas mãos. Esta é a certeza da salvação dos verdadeiros crentes, os herdeiros da promessa, para louvor da glória de Deus. Amém.