Queridos, conforme temos falado tantas vezes, é comum os membros de igrejas se qualificarem como discípulos de Jesus, embora não entendam, nem façam o menor esforço para entender, muito menos para cumprir os seus mandamentos. Neste trecho que lemos, logo após lavar os pés dos seus discípulos, Jesus lhes explica aquela estranha aula prática que lhes deu sobre amor e humildade, ordenando-lhes, em seguida, que agissem da mesma forma.
Vamos aprender com o Senhor Jesus qual é essa forma que devemos praticar.
Em primeiro lugar o Mestre nos ensina que os seus discípulos não podem se envergonhar de fazer qualquer coisa para a qual foram designados. É isso que ele afirma logo no v.16 – Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Sabem por que Jesus falou assim? Por que ele sabia muito bem que os seus discípulos não estavam com a mínima disposição para a humildade, para fazer um trabalho próprio de servos. Jesus sabia muito bem que a expectativa deles era de um reino terreno do Messias, nos moldes do reino de Davi, em que eles seriam os amigos íntimos do rei, uma espécie de ministros.
Certamente eles imaginavam que, como amigos íntimos de Jesus, não teriam que fazer aquele tipo de serviço, e nem entenderam porque Jesus o fez. Lá no v.6, Jesus deixa claro que Pedro não havia entendido nada: O que eu faço não o sabes agora, compreendê-lo-ás depois. Jesus estava dando uma aula prática de amor e humildade aos seus discípulos, sobre um assunto de que tanto eles precisariam em seu ministério futuro, assim como também nós precisamos agora e a cada dia.
Por isso, nunca esqueçamos esta lição de Jesus. Temos a tendência natural de recusar serviços que consideramos indignos da nossa suposta capacidade. Temos a tendência natural de nos recusar a prestar serviço a pessoas que consideramos indignas, ou inferiores a nós, e isso é orgulho, soberba, arrogância. Sempre queremos algo que consideramos de nível superior. E então? Diante de tão grande amor e humildade do Senhor Jesus, onde cabe o nosso orgulho, a nossa soberba e arrogância, se ele, sendo Deus, lavou os pés dos discípulos, inclusive os pés de Judas Iscariotes? Não podemos nos envergonhar de fazer qualquer coisa para a qual o Senhor nos designou, assim como ele, designado pelo Pai, não se envergonhou de cumprir a sua missão.
Em segundo lugar aprendemos com o Mestre quão inútil é o conhecimento de coisas espirituais sem a prática correspondente. Vejamos o v.17 – Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. Prestem atenção, irmãos! O Senhor Jesus está afirmando que somente seremos felizes se possuirmos um conhecimento frutífero, ou seja, se vivermos de acordo com esse conhecimento, e se o colocarmos em prática. Saber que devemos ser humildes, amáveis e prontos a servir ao próximo, mas, apesar disso, continuar orgulhosos, arrogantes e egoístas, ao invés de bem-aventurança teremos condenação, como ensina Tiago: Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não faz, nisso está pecando (Tg 4.17).
O ensinamento de Jesus, repetido por Tiago, é para sabermos que um conhecimento que não produz mudança de vida, um conhecimento que não produz mudança de conduta, na verdade, nos torna mais parecidos com discípulos de Satanás. Este sim, conhece muito bem toda a verdade, porém, como já está condenado, não tem nenhuma disposição para praticá-la. De forma contrária, o crente que deseja ser bem-aventurado em seu discipulado, deve não apenas aprender a verdade, mas também, praticá-la. Foi assim que o nosso Mestre ensinou, demonstrou e ordenou que o imitemos.
Em terceiro lugar vemos uma afirmação solene do nosso Senhor no v.18 – Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi. Ah! Irmãos, eu tenho alertado tanto aqui sobre os falsos mestres e seus ensinamentos deturpados; eu tenho alertado tanto aqui sobre as pessoas que estão nas Igrejas, que são membros comungantes, e até mesmo pastores, mas a sua conduta contradiz a sua confissão de fé.
Lembrem que nós até podemos nos enganar. Tanto há muito mais crentes que estão enganando os pastores, como há muito mais pastores reputados como ministros de Cristo, como foi Judas Iscariotes, que estão enganando as igrejas. Porém, assim diz o Senhor: eu conheço aqueles que escolhi. Isso vale para todos nós, e esse perfeito conhecimento do nosso Senhor pode ser aplicado de duas maneiras: Primeiro, essa afirmação deve alertar os hipócritas. Não nos esqueçamos disso, irmãos! Podemos até nos enganar uns aos outros, mas o Senhor conhece aqueles que ele escolheu. Segundo, como essa afirmação é confortante para os verdadeiros discípulos de Cristo. Podemos até ser mal compreendidos pelo mundo, podemos ser ignorados por muitos, podemos ficar falando só, ser difamados e até maltratados pelo mundo, mas sabemos que o Senhor está conosco, porque foi ele mesmo quem nos escolheu.
Por último, no v.20 vemos a dignidade que o Senhor Jesus confere aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Em nossos dias, como resultado do processo de mundanização da Igreja, por causa dos falsos evangélicos, os fiéis discípulos de Cristo estão sendo ridicularizados e rejeitados. Porém, mesmo diante dessa realidade, não devemos nos envergonhar da nossa missão. Em qualquer situação, seja qual for a ação ou reação dos filhos do mundo, devemos ter atitudes de amor e humildade, como o Senhor Jesus nos ensinou e ordenou (v.15).
Lembremos que não somos deste mundo; que aqui, como discípulos de Cristo, somos embaixadores do Reino dos céus. Embaixador é aquele que defende os interesses do seu país, do seu reino. Portanto, como discípulos de Cristo, somos embaixadores do Reino dos céus, e devemos desempenhar bem a nossa missão neste mundo, seja ela qual for. Mesmo que enfrentemos dificuldades, mesmo que, por vezes, sejamos humilhados e fiquemos tristes, não nos esqueçamos destas encorajadoras palavras de Cristo: Quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou (v.20).
Irmãos, repito, mesmo sabendo que isso aborrece a muitos, eu tenho lembrado insistentemente a vocês que os verdadeiros discípulos de Cristo são poucos, mesmo dentro das igrejas; eu tenho lembrado insistentemente a vocês que os pastores que pregam a Palavra na sua integridade são uma raridade, mas estas poucas pessoas que servem a Cristo verdadeiramente, não têm o que temer, porque foram escolhidas por Deus e estão a seu serviço.
Os verdadeiros discípulos de Jesus são desprezados pelos filhos do mundo? Graças a Deus por isso! Se o motivo é porque estamos seguindo o Mestre, virá o dia em que ouviremos dele mesmo estas palavras: Vinde benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 35.34).
É nessa direção que caminham os discípulos de Cristo. 1) Eles não se envergonham de fazer o que o Mestre ensina, demonstra e ordena; 2) o seu conhecimento de Deus se materializa na prática das boas obras; 3) eles são escolhidos e conhecidos pelo Senhor Jesus como seus discípulos; 4) é ele mesmo quem lhes confere a sua dignidade, credenciando-os como embaixadores do reino de Deus.
Como isso é glorioso, irmãos! Ser comissionados pelo próprio Senhor Jesus como seus agentes, a fim de reproduzir o que ele ensinou, demonstrou e ordenou que façamos. Louvado seja o nosso Senhor Jesus! Que Deus aplique os seus ensinamentos aos nossos corações, e nos conceda a graça da fidelidade, a fim de que cumpramos a missão que ele nos designou, para louvor da sua glória. Amém!