O crente e as autoridades

A ceia do Senhor – Mt 26.26-30
05/11/2017
O cristão e a Igreja – 2Co 5.18-20
03/12/2017

Queridos, como é do conhecimento de todos, nós estamos vivendo uma das maiores crises de autoridade em nosso país. Podemos ver que membros dos três poderes demonstram desavergonhadamente que perderam o pudor, e a população vai se acostumando a viver do mesmo jeito, seja como forma de protesto, deboche, ou meio de vida. O problema é que, com uma igreja mundanizada, muitos ditos crentes, inclusive pastores, assumiram a mesma posição, numa demonstração de que não sabem o que significa ser discípulo de Jesus, muito menos as implicações de seguir os seus ensinamentos transmitidos à Igreja pelos apóstolos.

No texto que lemos, vemos o apóstolo Paulo ensinando ao seu discípulo Tito, para que este ensine à sua Igreja, alguns aspectos da conduta que se espera dos crentes, especialmente com relação às autoridades. A submissão às autoridades é um princípio bíblico estabelecido no decálogo, como veremos mais adiante.

O que motivou a carta de Paulo a Tito? A má conduta de muitos cretenses que faziam parte da Igreja. Atenção! Segundo Paulo, muitos, e não poucos eram os cretenses insubordinados, palradores frívolos, e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância (1.10-11). Os da circuncisão eram judeus, falsos mestres que pervertiam famílias inteiras com ensinos desonestos, visando ao seu próprio lucro. Qualquer semelhança com os muitos falsos pastores que hoje infestam as igrejas ditas evangélicas não é mera coincidência.

Paulo ordena a Tito que os repreenda severamente, para que sejam sadios na fé. É interessante que, como eles eram da Igreja, o apóstolo ainda tinha esperança de que voltassem ao Caminho. Repreende-os severamente (v.13). A Timóteo, em situação semelhante, Paulo ordena que ele repreenda aos que vivem em pecado na presença de todos para que também os demais te temam (1Tm 5.20). Isso nos dá a ideia do que o apóstolo quis dizer a Tito com repreende-os severamente.

Ah, irmãos! Precisamos rever a nossa conduta à luz dos ensinamentos bíblicos. Hoje, se o pastor repreender a alguém na presença de todos, muitos o criticarão, mesmo que a conduta desse alguém seja realmente repreensível. Os verdadeiros crentes, porém, sabem que quando o pastor repreende a alguém cuja conduta é repreensível, ele o faz por amor, e em obediência a uma ordem apostólica.

No cap. 2.2, novamente, Paulo ordena aos homens idosos, aqueles que eram responsáveis pelo ensino aos jovens, para que sejam sadios na fé.  Observem que esta é a mesma expressão usada para os judeus insubordinados, e isto significa andar em santidade, de acordo com a doutrina dos apóstolos. Paulo, então, prossegue dando ordens a serem transmitidas às mulheres, aos jovens, aos servos, e ao próprio Tito, para que ele seja padrão de boas obras (2.7-8), tudo dentro do princípio da autoridade.

Agora, chegamos onde eu queria: Qual a base em que o apóstolo se apoia para transmitir os seus ensinamentos? A salvação (2.11-15 ). Como eu tenho mostrado a vocês, as cartas apostólicas não têm por finalidade converter ninguém. Elas foram escritas para as igrejas, para os salvos. Somente o salvo haverá de buscar a educação para justiça, porque ele é conduzido pelo mesmo Espírito que o convenceu do pecado, que o levou ao arrependimento e à fé, e esta condução é levada a efeito pelo ensino e zelo de pastores constituídos pelo mesmo Espírito Santo (At 20.28). Só os verdadeiros crentes sabem disso, e reconhecem a autoridade espiritual do pastor.

Por isso, no cap. 2.15 o apóstolo ordena a Tito que ele ensine estas coisas, exorte e repreenda também com toda a autoridade. Ninguém te despreze. O ensinamento apostólico é para que os crentes de Creta observem o princípio da submissão às autoridades. Como já foi dito, este é um princípio ensinado desde o decálogo, e é interessante lembrar que a submissão não é opcional, já que a autoridade procede de Deus.

Conforme lemos em Pv 8.15-16, Por meu intermédio reinam os reis, e os príncipes decretam justiça. Por meu intermédio governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da terra. É claro que o pregador dos provérbios está falando da sabedoria divina que deve orientar todos os governantes da terra. Porém, mesmo os que não abraçam esta sabedoria também governam, ainda que de forma perversa, e o crente lhe deve obediência. É assim que está escrito em Rm 13.1 – Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.

O relato do episódio envolvendo Pilatos e o Senhor Jesus nos dá a dimensão do entendimento deste princípio. Em dado momento Pilatos diz a Jesus que ele tinha autoridade para soltá-lo e também para crucificá-lo. Qual foi a resposta de Jesus?  Nenhuma autoridade terias sobre mim se de cima não te fosse dada (Jo 19.11).

Percebem, irmãos? É por isso que Pedro também ensina: Sujeitai-vos a toda autoridade humana por causa do Senhor (1Pe 2.13). Ou seja, Pedro lembra que Jesus se sujeitou às autoridades humanas, e nos deu o exemplo. Portanto, como ensina Paulo, a rebelião contra as autoridades, é rebelião contra Deus. Convém lembrar que as primeiras autoridades humanas sobre nossas vidas são os nossos pais, e aqui nós vamos afunilar a nossa palavra, aplicando-a à nossa realidade, tanto em casa como na Igreja.

A autoridade dos pais está consolidada no decálogo, conforme se lê no quinto mandamento: Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus de dá (Êx 20.12). A gravidade deste princípio de autoridade pode ser facilmente percebida pela penalidade aplicada aos que o descumpriam: a pena de morte para os filhos que desobedecessem aos pais.

Para que ninguém pense que este mandamento ficou no passado do Velho Testamento, ele é repetido por Paulo em Ef 6.1-3, e se não há mais a pena de morte física, certamente há a pena de morte espiritual, o que é infinitamente mais terrível.

Por isso, muita atenção, meus filhos! A sujeição às autoridades começa em casa, começa com a obediência aos pais, e esse é o ponto de partida para que o crente esteja pronto para toda boa obra (3.1). A obediência aos pais é o treinamento e a capacitação para a obediência a todos aqueles que governam.

A questão é: Os pais têm criado os seus filhos sob autoridade, na disciplina e na admoestação do Senhor? Ou melhor, os pais têm sido submissos às autoridades, como ao Senhor, sendo eles mesmos, padrão de boas obras, como Paulo ordena a Tito (2.7-8)? Prestem atenção, irmãos! Toda vez que o marido não demonstra amor pela sua esposa; toda vez que a esposa não se submete ao marido, assim como aqueles judaizantes da Igreja de Creta, estão pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem. E o que é pior, não fazem isso apenas com falatórios como faziam os judaizantes da Igreja e Creta, mas, com a prática, que será naturalmente assimilada e reproduzida pelos filhos. Esta é a verdadeira maldição de família, a maldição hereditária: A desobediência.

Toda vez que vocês desonram a autoridade de Jesus, a autoridade dos apóstolos, a autoridade do pastor, a autoridade dos que governam, vocês estão desonrando a autoridade de Deus, e levando maldição sobre as suas casas, sobre as suas famílias. Aos muitos que agem assim, ouçam esta severa palavra apostólica de exortação e repreensão, para que sejam sadios na fé. Esta era a esperança de Paulo. Esta é a esperança do pastor, porque assim como Paulo, também sabemos que contamos com a graça de Deus, graça que repreende, e que chama ao arrependimento.

Por isso, rogamos que Deus nos conceda obediência para honrar as autoridades por ele constituídas, a fim de que vivamos para louvor da sua glória. Amém.