Queridos, a Carta aos Efésios trata da Igreja como corpo de Cristo. Portanto, nesse sentido, todo aquele que é nova criatura em Cristo, naturalmente faz parte da Igreja de Cristo. Não há como ser um cristão, um remido pelo sangue de Cristo, sem ter um relacionamento saudável com a igreja de Deus, sem compartilhar o amor pela igreja que a Bíblia apresenta como o corpo de Cristo.
Que ninguém se engane! Se alguém se diz cristão, mas não consegue ter comunhão com os irmãos, não consegue ser membro fiel de uma igreja local, esse alguém pode estar indo para o inferno. Isso é radical, irmãos? Sim! É tão radical quanto a Bíblia; é tão radical quanto ser cristão. Por isso, nós precisamos saber o que significa ser cristão realmente, e fazer parte da Igreja de Deus.
Em primeiro lugar nós precisamos saber que um cristão é alguém que, antes e acima de tudo, foi perdoado de seus pecados e reconciliado com Deus, o Pai, por meio de Jesus Cristo: Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação (2Co 5.18). Isso acontece quando a pessoa é tocada pelo Espírito Santo, se arrepende de seus pecados e coloca sua fé na vida perfeita, na morte substitutiva e na ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele é a propiciação pelos nossos pecados.
Propiciação é o ato de apaziguar o Senhor Deus em sua ira santa contra o pecador, é o ato que torna possível ao pecador voltar à presença de Deus. Portanto, o cristão é, primeiramente, alguém que em Cristo foi reconciliado com Deus. Cristo satisfez as exigências da lei, aplacou a ira de Deus por causa do pecado, e o cristão é agora reconciliado com Deus, consequentemente chamado a uma vida de santidade, na esperança de um dia estar diante da majestade de Deus, na glória do céu.
Em segundo lugar, o cristão é alguém que, pela graça da sua reconciliação com Deus, também foi reconciliado com o povo de Deus. Antes da reconciliação com Deus isso não era possível. Nós sabemos que o pecado de Adão quebrou a comunhão com Deus, resultou num rompimento imediato da comunhão entre os seres humanos, e a partir de então, todo homem vive para si mesmo. O egoísmo e o individualismo que estão ficando insuportáveis até mesmo nas igrejas, fazem parte de um fenômeno perfeitamente compreensível, decorrente do pecado. Quando o seu deus é você mesmo, o seu coração ficará ocupado com o seu próprio ego, e você não deixará que outro ser humano ocupe esse lugar. Foi por isso que Caim matou Abel. No seu coração só havia lugar para ele.
Por causa disso o Senhor Jesus ensinou o que somente os cristãos reconciliados com Deus e com o próximo podem compreender: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22.37-40). Esses dois mandamentos andam naturalmente juntos como fruto da reconciliação. O primeiro, o amor a Deus, produz o segundo, e o segundo, o amor ao próximo, comprova o primeiro.
Portanto, ser cristão é ser reconciliado com Deus, e ser reconciliado com Deus por meio de Cristo significa ser reconciliado com todos aqueles que estão reconciliados com Deus. É isso que Paulo explica aos Efésios, sobre a reconciliação entre judeus e gentios convertidos, e, por extensão, entre todos os que estão em Cristo: Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade… para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade (Ef 2.14-16).
Todos os que pertencem a Deus são concidadãos dos santos e membros da família de Deus (Ef 2.19), e a família de Deus não pode ser uma família disfuncional, cujos membros não têm comunhão uns com os outros. Quando Deus nos chamou à comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor (1Co 1.9), ele também nos chamou à comunhão com toda a sua família.
O nome dessa família é igreja. Prestem atenção, irmãos! Não dá para explicar o que significa ser cristão sem falar sobre a igreja, que é a assembléia dos cristãos. É a própria Bíblia que apresenta inúmeras metáforas referentes à Igreja nesses termos: uma família, uma comunhão, um corpo, uma noiva, um povo, e em todos os casos, o Novo Testamento nunca retrata o cristão como alguém que existe fora da comunhão da igreja, que, segundo a Bíblia, é a assembleia de um povo — o povo de Deus em Cristo Jesus.
Por isso, quando alguém é convertido, ele não se torna membro de uma igreja local só porque isso é um hábito sociocultural-religioso que contribui para a sua socialização, como se vê em nossos dias. Ele se une a uma igreja local porque isso é a expressão daquilo em que Cristo o tornou: um pecador reconciliado com Deus em Cristo Jesus, e estar unido a Cristo implica estar unido a outros cristãos em uma igreja local. É assim que o Novo Testamento traz tantas cartas a igrejas locais: “À igreja de Deus que está em Corinto”; “às igrejas do Apocalipse: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia”.
Portanto, meus queridos, eu agora me dirijo a cada um em particular. Se você não tem qualquer interesse em se comprometer verdadeiramente com um grupo de cristãos que se reúnem para ouvir a Palavra de Deus, que estudam a Bíblia e creem no evangelho, deve perguntar a si mesmo se, de fato, pertence ao corpo de Cristo.
É para essa situação irregular que o escritor aos hebreus chama atenção: Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. (Hb 10.23-27).
O verdadeiro cristão sabe o que é igreja. Ser cristão é pertencer a um povo, o povo de Deus; é estar no mesmo lugar onde este povo está; é suportar quem é difícil de aguentar; é amar quem não merece ser amado, assim como Deus fez e faz conosco. O cristão sabe que isso é algo maravilhoso, sabe que isso é milagre. Só o poder de Deus pode fazer isso, e nós precisamos saber que as virtudes que Deus nos deu quando nos reconciliou consigo não se desenvolvem na solidão. Por isso ele nos deu o ministério da reconciliação, e nós precisamos estar juntos para desenvolver as virtudes de um cristão, enquanto anunciamos a maravilhosa salvação de Deus em Cristo Jesus (vv.19-20).
É assim que demonstramos ao mundo que fomos mudados, que somos cristãos. Não só porque andamos com a Bíblia, memorizamos alguns versículos, oramos antes das refeições, damos o dízimo, e sim porque evidenciamos de maneira crescente uma disposição de suportar, perdoar e amar um grupo de pecadores semelhantes a nós. E é exatamente aqui, irmãos, na igreja, no meio de um grupo de pecadores que se comprometem a amar uns aos outros, que a nossa reconciliação com Deus é demonstrada.
É isso que significa ser cristão e pertencer a uma igreja: fazer parte do corpo de Cristo e demonstrar, viver, pregar o evangelho da salvação ao mundo, através da nossa unidade cristã, enquanto Deus nos acrescenta os que forem salvos pela sua graça.
Essa á a mensagem de Deus para a sua Igreja. Que ele mesmo, pela sua graça, a aplique em nossos corações, a fim de que vivamos para o louvor da sua glória. Amém.