Queridos, esse trecho de Efésios é muito conhecido, e a sua mensagem pode parecer um tanto saturada, de tanto a ouvirmos, mas nós vamos falar novamente sobre a fé salvadora e as consequências naturais na vida do salvo.
Todos nós já ouvimos que a nossa salvação decorre da graça soberana de Deus. Foi ele que nos elegeu desde a eternidade, nos chamou no tempo oportuno, nos justificou na plenitude do tempo com a justiça de Jesus, o único justo, o Filho amado, crucificado por causa dos nossos pecados. Assim, fomos adotados como filhos de Deus em Cristo Jesus, e agora ele nos conduz em santidade de vida pelo poder do Espírito Santo que em nós passa a habitar, até que cheguemos à glória eterna do Pai.
Irmãos, será que todos têm plena consciência destas verdades maravilhosas? Somos salvos pela graça, é verdade. Mediante a fé, como um dom de Deus, é verdade. Não de obras para que ninguém se glorie, é verdade. Somos salvos para as boas obras de Deus, e não nossas, é verdade. Porém, o que quer dizer cada uma destas verdades? Quantos desconhecem o conceito de graça? Quantos confundem fé com crendice? Quantos se imaginam bons e justos, a ponto de se achar merecedores das bênçãos de Deus? Quantos praticam boas obras, porém, obras suas, que fazem bem ao seu próprio ego, ao invés de obras de Deus, que glorificam o seu nome?
Prestem atenção, queridos! Embora o texto lido seja muito conhecido, e a sua mensagem possa parecer um tanto saturada, a verdade é que as nossas boas obras não têm nenhum papel, não têm qualquer participação na nossa salvação, enquanto não somos chamados, justificados e adotados por Deus, em Cristo Jesus. Como lemos, somos salvos pela graça, mediante a fé, e não por obras. Porém, as boas obras de Deus, e não nossas, se constituem em resposta clara, ou na manifestação material da salvação graciosa recebida de Deus. Ou seja, conquanto as boas obras não sirvam para nos justificar diante de Deus, elas são indispensáveis para identificar uma pessoa justificada, salva pela graça, mediante a fé na obra salvífica de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Em outras ocasiões nós já temos pregado e ensinado que a fé salvadora tem três elementos indispensáveis à verificação da sua autenticidade. São eles: intelecto, emoção e vontade. Conforme temos ensinado, a fé que vem como dom de Deus não é uma fé cega, com característica de crendice, de superstição. O salvo pela graça, mediante a fé, sabe em quem tem crido, Jesus, o autor da fé, e sabe pelas Escrituras, que todo aquele que nele crê, não perece, mas tem a vida eterna (Jo 3.16).
A par desse conhecimento intelectual, não há como um salvo não se emocionar com tão grande amor de Deus, com tão grande graça de Cristo, com tão grande salvação no poder do Espírito Santo. Observem que a emoção é fruto do conhecimento intelectual, da razão, e não o contrário, como está em voga em nossos dias. Aliás, em nossos dias pós-modernos, a emoção supera e até prescinde da razão. Porém, nós, os salvos, seguindo a ordem natural dos elementos da fé salvadora, primeiramente temos conhecimento da salvação pela pregação da Palavra, e isso nos leva a crer na obra da Trindade Santíssima para nos salvar, dom de Deus que envolve todo o nosso ser, as nossas emoções, para que cheguemos ao terceiro elemento, que é a vontade, o elemento que, de fato, comprova a fé salvadora.
Observem que após o conhecimento intelectual, racional, e a aceitação sentimental de que Jesus é o nosso salvador, a única comprovação de que estas verdades foram realmente assimiladas e assumidas é a transformação da nossa vontade. Ou seja, uma vez convencidos intelectual e emocionalmente pela ação do Espírito Santo, já não é mais a nossa vontade que nos domina, e sim a vontade daquele que nos salvou. Conforme o testemunho do apóstolo Paulo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2.20). Prestem atenção, irmãos! Primeiro eu sei; por isso eu creio, e porque creio eu obedeço. Pelo que eu sei e pelo que eu creio, eu fui salvo em Cristo Jesus para as boas obras de Deus. Então, eu preciso obedecer. Constrangido pelo amor que me salvou, Eu preciso amar o meu salvador, eu preciso honrá-lo e glorificá-lo!
Portanto, contrariamente ao que se ensina através das pregações humanísticas atuais, pregações que nos colocam em uma posição de credores de Deus, como se ele devesse nos abençoar, na verdade, Deus não tem nenhum compromisso com aquilo que imaginamos que ele fará por nós. Deus não tem nenhum compromisso com a nossa fé, quando essa fé parte de nós mesmos e se confunde com crendice. O compromisso imutável de Deus é com a sua Palavra, portanto, com a fé enquanto dom verdadeiro que brota do conhecimento da sua Palavra. Por isso, não podemos crer, nem esperar qualquer coisa de Deus que não esteja revelado na Escritura Sagrada.
A fé salvadora é aquela que se origina no conhecimento da palavra de Deus, uma vez que somente o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que nele crê (Rm 1.16). Foi ele que nos amou e nos elegeu desde a eternidade, e agora nós o amamos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4.19). Foi ele que nos salvou pelo sacrifício do seu filho Jesus Cristo, para que os seus eleitos, todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). É ele que nos conduz em santidade de vida, na direção e na força do Espírito Santo, exatamente para que tenhamos condição de fazer as boas obras de Deus, e não nossas.
Conforme a revelação de Deus na sua Palavra, todas estas coisas são fruto do amor de Deus, da graça de Jesus Cristo, e do poder do Espírito Santo. Este é o fundamento da fé através da qual nós recebemos a salvação pela graça, fé que traz em seu bojo um compromisso de obediência a Deus. Lembrem! Somos salvos pela graça, mediante a fé, criados em Cristo Jesus independentemente de obras, antes da salvação, porém, criados para boas obras de Deus, como consequência natural da salvação.
Precisamos estar conscientes de que a fé salvadora modifica totalmente a nossa cosmovisão, a nossa visão de Deus, de nós mesmos, do mundo, a nossa visão das coisas, de modo que todo o nosso comportamento é transformado, porque agora nós enxergamos as coisas pela perspectiva de Cristo. Uma vez salvos, passamos a ter a mente de Cristo (1Co. 2.16), a pensar como Cristo, sob a direção do Espírito Santo. Por isso, como consequência natural da fé salvadora, os salvos se esforçarão sobremaneira para viver uma vida de santidade que seja um fiel testemunho do evangelho de Cristo que o salvou.
É isso que Paulo quer dizer quando afirma que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé (Rm 1.17). É de fé em fé, de conhecimento em conhecimento, de glória em glória (2Co 3.18), de obediência em obediência, ou seja, buscando a justiça de Deus, de boa obra em boa obra é que o justo viverá fortalecido no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10).
Prestem atenção, irmãos queridos! Não é possível separar a fé salvadora do testemunho fiel. Todos os salvos pela graça mediante a fé, necessariamente farão as boas obras de Deus, vivendo de acordo com a ética cristã. Nunca nos esqueçamos da nossa grande responsabilidade como testemunhas do evangelho de Cristo que nos salvou, e que essa responsabilidade, ainda que nossa, faz parte da fé salvadora que recebemos de Deus. É o Espírito Santo quem nos fortalece.
Afinal, somos salvos pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós, é dom de Deus. Não de obras, para que não venhamos a nos gloriar. Pois somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andemos nelas. Como este é o propósito de Deus, assim havemos de viver, para louvor da sua glória. Amém.