Queridos, mais uma vez, inicialmente, quero lembrar que as cartas apostólicas não têm como objetivo converter pecadores, e sim, discipular e disciplinar pecadores convertidos. Com este propósito, um dos temas presentes em quase todas as cartas visa alertar aos irmãos, para que se acautelassem dos falsos mestres e seus ensinos com base em artimanhas de homens, com sua astúcia com que induzem ao erro (Ef 4.14).
Os profetas do Velho Testamento, e Jesus, chamaram atenção para esse perigo durante todo o seu ministério. Paulo, Pedro, João e Judas destinaram grande parte dos seus escritos com este mesmo propósito. Portanto, quando um pastor não faz o mesmo, ele não apenas está negligenciando um ensino bíblico tão importante, mas está comprovando que é um falso pastor. Com base bíblica, eu não tenho nenhum receio de fazer tal afirmação.
Como vemos logo no primeiro versículo deste capítulo 3, Paulo dispara: Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão! Paulo estava falando dos falsos mestres, dos judaizantes, aqueles que insistiam em circuncidar os convertidos ao cristianismo, em que eles deveriam cumprir outras regras cerimoniais da lei de Moisés, regras já definitivamente cumpridas por Jesus. Ou seja, para eles, a obra de Jesus na cruz do Calvário era insuficiente para a salvação. Precisava que se lhe acrescentassem as obras da lei de Moisés.
Porém, com base no ensino do Senhor Jesus, Paulo tem a coragem de combater os falsos mestres, e de chamar os irmãos a serem seus imitadores: Irmãos, sede imitadores meus (v.17). Será pretensão de Paulo? Será arrogância? Não, irmãos! Paulo era um apóstolo de Jesus, embora somente ele e Lucas digam isso em todo o Novo Testamento.
Em nenhum momento, qualquer dos apóstolos de Jesus jamais disse que Paulo era apóstolo. Talvez por isso, ele insiste com tanta veemência em defender o seu apostolado recebido diretamente de Jesus, e não do colégio apostólico estabelecido, como ele afirma: Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos (Gl 1.1).
Esta deve ser a convicção de um pastor constituído pelo Espírito Santo, e não por uma denominação religiosa, para ter coragem de denunciar os falsos pastores e seus ensinos humanísticos, sejam de que igreja forem, inclusive da sua própria denominação.
Observem que o apóstolo não se coloca como o padrão, como o modelo, nem mesmo como exemplo único a ser seguido. Os irmãos são instados a imitar não só a ele, mas a observar os que andam segundo o modelo que eles têm, e esse modelo é Jesus. Aos Coríntios, Paulo deixa bem mais claro esse conceito: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo (1Co 11.1). Cristo é o modelo.
Por que esse chamamento tão incisivo? O apóstolo responde, e a sua resposta serve não apenas para a sua época, mas para todas as épocas, já que a palavra de Deus é eterna e transcendente: Pois muitos andam entre nós, dos quais eu repetidas vezes vos dizia e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas (vv.18-19).
Estas últimas semanas eu tenho chorado por esta causa. Alguns irmãos de outras igrejas, inclusive da nossa denominação, sofrendo muito por causa do ensino de falsos pastores, inimigos da cruz de Cristo, já que o seu ensino é humanístico, psicologizado. Vejam que o destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. Que coisa triste, e o mais triste é saber que, segundo as Escrituras, os que lhes dão ouvidos tornam-se cúmplices das suas más obras (2Jo 11). Ou seja, seu destino também é a perdição.
Irmãos queridos, prestem bem atenção! Eis a importância de sermos imitadores de Cristo, e não seguidores de falsos mestres. Sempre haverá alguém nos imitando, especialmente nós, pais, pastores, mestres, não esquecendo de que sempre havemos de ser modelo para alguém, seja modelo de santidade, seja modelo de hipocrisia.
Paulo não tinha medo de chamar os irmãos a olhar para o seu testemunho de vida e o testemunho de vida dos falsos apóstolos, dos falsos mestres, para que os irmãos pudessem fazer uma avaliação sobre quem era verdadeiro imitador de Jesus, consequentemente, sobre quem tinha o verdadeiro ensino, este obrigatoriamente associado a uma vida de santidade.
Irmãos, se Jesus não for o nosso modelo, o que estaremos repassando àqueles que aprendem conosco? Obviamente, estaremos repassando um falso ensino. E sabem o que Jesus diz a esse respeito? Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus (Mt 5.19).
Que tipo de ensino nós temos ouvido e assimilado? Que tipo de ensino nós temos transmitido àqueles que lideramos, especialmente em nossas casas? Será que, conforme o que vemos e ouvimos quase em tempo integral nas pregações da televisão, e nas igrejas que frequentamos, o nosso deus não é o nosso ventre? O que se ensina não é que crente tem que ter vitória e bens materiais? O que se ensina não é que devemos nos preocupar com as coisas terrenas? Não será isso que estamos repassando para os nossos filhos?
Ao contrário disso, como vemos, o apóstolo ensina que a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (v.20). Aos Colossenses, o mesmo apóstolo Paulo ensina mais claramente: Pensai nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra (Cl 3.2). Observem que estes ensinos apostólicos, desde aquele tempo, combatem os falsos ensinos dos falsos mestres, os mesmos falsos ensinos dos falsos mestres dos nossos dias, que só se preocupam com as coisas terrenas.
Irmãos, nós não precisamos de glória neste mundo. Segundo a palavra do Senhor Jesus e dos seus apóstolos, neste mundo nós seremos humilhados por causa da cruz de Cristo, por causa do evangelho, mas aprendemos aqui que o Senhor transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas (v.21).
Meu Deus, será que todos entendem estas coisas? Irmãos, eu repito! Se não formos imitadores de Jesus, automaticamente seremos religiosos hipócritas. Irmãos, eu preciso insistir nisso! Nós, pais, pastores, presbíteros, professores, mestres, precisamos ser imitadores de Cristo, a fim de ser modelo de santidade para aqueles que nos seguem, certos de que, ainda que sejam poucos, sempre haverá alguém que nos seguirá.
É por isso que, como vemos nos evangelhos, o Senhor Jesus ensinou aos seus discípulos, e ordenou-lhes que multiplicassem o que com ele aprenderam. Em obediência, Paulo é incisivo com Timóteo, com Tito, assim como Pedro é incisivo com os presbíteros aos quais ele ensinou, para que fossem modelo para as suas igrejas.
Esse deve ser o esforço de um pastor, de pais, mestres, e de todos quantos servem de modelo para outras pessoas: seguir o modelo do Senhor Jesus, segundo o seu ensino, e com base na eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas (v.21). Assim devemos viver, irmãos, para o louvor da glória de Deus.
Que Deus nos conceda graça para entender o seu ensino, e mais graça para que realmente sejamos como modelos de Jesus, especialmente para os nossos filhos. Amém.