Queridos, normalmente somos ensinados que as coisas boas, ou o bem, procede de Deus, e que as coisas ruins, ou o mal, procede de Satanás. Somos ensinados que a luz está associada a Deus, e as trevas, a Satanás. Como vimos no domingo passado, Pedro nos ensina que somos um povo especial para Deus, eleitos com a finalidade de proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pe 2.9).
Não há dúvida, portanto, que as trevas e a luz estão em lados opostos. Então, como entender este Salmo, que mostra um homem de Deus nas mais densas trevas existenciais, e mesmo sabendo que elas vêm de Deus, clama por livramento sem sequer ser ouvido? Obviamente, as trevas do salmista não são as trevas do pecado, da condenação do inferno de que Pedro fala, conceito que ainda não existia na teologia do Velho Testamento.
Como temos estudado o livro de Jó nas duas últimas segundas-feiras, não podemos deixar de ver semelhança entre a desventura do salmista e a de Jó. Porém, o salmista está em uma situação pior, já que segundo o seu entendimento, Deus o esqueceu. De fato, até o final do Salmo não há indício de que Deus se tenha lembrado dele. O último versículo nos mostra que não houve qualquer alteração na sua situação de penúria: Para longe de mim afastaste amigo e companheiro; os meus conhecidos são trevas (v.18).
Que coisa terrível! Os únicos conhecidos do salmista, os seus únicos companheiros eram as trevas, e ele sabia que elas vinham de Deus. Observem que o início do Salmo deixa claro tratar-se de um homem de Deus, certo da sua salvação, confiante na providência de Deus, e por isso, ele clama incessantemente, desde moço (vv.1-2,9,13,15).
Mais uma vez lembramos a experiência de Jó. Embora Jó fosse um homem íntegro, reto, consciente de que toda a sua desventura provinha de Deus, ao questionar as causas, Deus não lhe deu nenhuma resposta. Apenas mostrou-lhe a perspectiva correta das coisas: Deus como criador, Jó como criatura. Deus como senhor, Jó como servo. Isto é o bastante!
Irmãos, será que todos aqui têm consciência destas coisas? Será que todos têm consciência de que Deus é Senhor da luz e das trevas, do bem e do mal, e que, embora não entendamos, como Jó não entendia, ele usa o mal para nos ensinar e disciplinar, para nos purificar e santificar para louvor da sua glória? Jó aprendeu esta lição. O salmista, mesmo em grande confusão diante das mais densas trevas, sabe que elas vêm de Deus (vv.6-8,18).
O que este Salmo pode nos ensinar? Diante das provações, tribulações, será que temos consciência de que elas provêm de Deus, e visam ao nosso bem, que é a nossa salvação? Observem que o salmista sabia disso, e clama: Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti. Chegue à tua presença a minha oração, inclina os teus ouvidos ao meu clamor (vv.1-2). O homem clama, sem cessar, ao Deus da sua salvação.
E por quanto tempo devemos clamar a Deus? Até quando devemos perseverar em oração? Vamos aprender com o salmista? Pelas suas palavras vemos que ele está no limite entre a vida e a morte (vv.3-5), e que isso vem desde moço (v.15). Que situação difícil para esse homem de Deus, homem que reconhecia o Senhor como Deus da sua salvação (v.1).
Irmãos queridos, prestem atenção! Eis porque eu insisto tanto na necessidade de crescermos no conhecimento de Deus. Vejam a argumentação do salmista. Como ele sabia que tudo o que lhe estava acontecendo provinha de Deus, inclusive a morte iminente, já que ele não aguentava mais aquela situação, considerando a limitação da sua teologia sobre a morte, ele apresenta argumentos lógicos (vv.10-12). (Ver Sl 115.17; Is 38.18-19).
Os hebreus ainda não tinham a noção ou o conceito de ressurreição. Segundo o título do Salmo, o seu autor pode ser um dos ministros de louvor no templo, designados pelo próprio Deus. Então, a sua argumentação era: Senhor, se eu morrer, como tu me mostrarás os teus prodígios, as tuas maravilhas? Senhor, se eu morrer, como poderei ainda te louvar? Senhor, se eu morrer, como poderei proclamar a tua bondade e a tua fidelidade ao povo?
Irmãos, com toda honestidade, será que quando clamamos a Deus por causa das tribulações, sejam elas quais forem, inclusive enfermidade de morte, como era o caso do salmista, temos em mente que o Senhor está envolvido nelas, ou melhor, está por trás e adiante delas, e que tanto as tribulações como as soluções, assim como a glória advinda delas, pertencem a Deus? Somente quem tem um profundo conhecimento de Deus consegue raciocinar assim como o salmista, mesmo no limite das suas forças (vv.13-15).
Observem que mesmo desorientado, mesmo sem obter resposta de Deus, o salmista confiava em Deus, sabendo que tudo provinha dele, até mesmo o esquecimento em que ele supunha ter sido deixado. Que situação desalentadora! O salmo termina sem fazer qualquer menção de que o homem tenha sido atendido, ou mesmo ouvido por Deus (vv.16-18). Do começo ao fim do Salmo, que abrange um período de tempo aparentemente longo, desde a sua mocidade, o salmista esteve nas trevas de Deus, e ele sabia disso. Porém, ele conhecia o Senhor como o Deus da sua salvação. Por isso, nunca parou de clamar por socorro.
Irmãos, aqui na nossa igrejinha nós temos algumas pessoas enfrentando problemas de saúde, física e espiritual, há muito tempo. Temos irmãos enfrentando problemas familiares há muito tempo, e sabemos que isto vem de Deus. Temos acompanhado estas pessoas, temos insistido no ensino, temos insistido na necessidade de crescer no conhecimento do Senhor, porque sem nenhuma dúvida, o nosso desespero diante das tribulações está diretamente ligado ao desconhecimento de Deus e da sua providência.
Às vezes ouvimos queixas, reclamações, algumas vindas de pessoas maldizentes, pelo que são repreendidas, e precisamos aqui mostrar a diferença e o ensinamento através da atitude do salmista imerso nas trevas de Deus. Com certeza, a sua situação era muito pior do que qualquer uma que conhecemos. Observem que o salmista apresentava as suas queixas, apresentava o seu clamor diante de Deus, e não, reclamações que demonstram desconhecimento de Deus.
Como temos visto, pela falta de conhecimento de Deus, e por seguir ensinamentos falsos, diante de alguma tribulação, pessoas buscam soluções mágicas em “reuniões de orações” dirigidas por supostos operadores de milagres, seja onde for, o que é abominação a Deus. Estas pessoas não estão buscando a Deus como o Senhor das tribulações, com entendimento, como fazia o salmista. Antes, rejeitam a provação pelo desconhecimento de que, de alguma forma, através da tribulação, Deus está trabalhando na sua santificação.
Prestem atenção, irmãos! As pessoas salvas, aquelas que têm o Senhor como o Deus da sua salvação, mesmo que se achem nas mais densas trevas como o salmista, mesmo que se sintam esquecidas por Deus, por saberem que a sua salvação está firmada em Deus, perseveram em oração, ainda que não obtenham resposta. É isto que aprendemos neste Salmo diferente dos outros.
Como podemos notar, o Salmo termina como se lhe faltasse uma conclusão, já que o salmista fica sem resposta, desalentado. Porém, pela sua oração, pelo seu conhecimento de que Deus está no comando da situação, podemos inferir que, como Jó, ele também diria confiante: Eu sei que o meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25). Ou como Davi, diria: Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam (Sl 23.4).
É este o conhecimento que desejamos que os irmãos tenham. Seja qual for a tribulação que nos sobrevenha, ela vem do Senhor. Precisamos crescer no conhecimento de Deus, e por isso eu me esforço tanto no ensino, rogando a Deus que conceda graça aos irmãos, no sentido de que também se esforcem para aprender, para que possam ensinar aos seus filhos, e para que onde estiverem, em qualquer situação, possam testemunhar sobre o Deus da nossa salvação. Amém.