Antídoto contra a desesperança – Lm 3.21-33

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Queridos, nos últimos dias nós temos acompanhado, conversado e encorajado alguns irmãos que se encontram num estado de desesperança. É tanto problema, é tanta doença, é tanta dificuldade financeira, é tanta desilusão com cônjuges, filhos e familiares, é tanta falsidade nos irmãos na igreja. “Ó, meu Deus, a luta é tão grande, que eu estou prestes a entregar os pontos”. Haverá algum antídoto conta a desesperança?

Segundo o texto que lemos, o velho profeta Jeremias estava vivenciando uma situação de absoluto fracasso missionário. Pregou tanto àquele povo, ensinou tanto àquele povo, repreendeu tanto àquele povo, mas o povo não lhe deu ouvidos, e agora, como consequência, ele estava em meio aos escombros do que fora Jerusalém.

Jerusalém foi invadida, seus muros foram derrubados, o templo foi saqueado e destruído, os príncipes foram mortos, o rei Zedequias, além de ter os olhos vazados, foi posto em prisão perpétua, e os poucos sobreviventes que ainda tinham vigor para o trabalho foram levados cativos para Babilônia. Era este o quadro que justificava o lamento do profeta, que inicia logo no Cap.1, v.1 – Como jaz solitária a cidade outrora populosa! Tornou-se como viúva, a que foi grande entre as nações; princesa entre as províncias, ficou sujeita a trabalhos forçados.

No entanto, mesmo em meio à total desolação, podemos ver que o profeta tinha um antídoto contra a desesperança: ele conhecia o Senhor. Por isso, ele diz: Quero trazer à memória o que me pode dar esperança (v.21). Lembrando que não se pode trazer à memória o que não se sabe, aprendamos mais com o profeta Jeremias.

Em primeiro lugar, podemos aprender com o profeta que o conhecimento do Senhor é o antídoto contra a desesperança. Por conhecer o Senhor, por conhecer os seus atributos, Jeremias sabia que ele é misericordioso, conforme expressa no v.22 – As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã.

A palavra misericórdia, para quem não sabe, está vinculada à miséria do pecado, e quer dizer exatamente que Deus, pela sua graça, assume a nossa miséria em Cristo Jesus. O profeta sabia disso. Embora o Messias de Deus ainda não tivesse vindo nos resgatar, transformando-nos de miseráveis pecadores em filhos de Deus, Jeremias sabia que o Messias viria, e esperava por isso. Como o profeta, somente conhecendo o nosso Deus, podemos trazer à memória o que nos pode dar esperança.

Por conhecer o Senhor e seus atributos, Jeremias sabia que ele é fiel, conforme expressa no v.23 – Grande é a tua fidelidade. O profeta conhecia a Aliança do Senhor, e sabia que a fidelidade do Senhor está relacionada à sua Aliança eterna. Ele sabia que o Senhor prometeu abençoar o seu povo, e que aqueles momentos de desventura não significavam infidelidade de Deus. Muito pelo contrário, eram consequência da desobediência do povo, que descumpriu o requisito básico da aliança, a obediência, e por isso, o juízo de Deus caiu sobre eles para trazê-los de volta à obediência. Como o profeta, precisamos trazer à memória o que nos pode dar esperança, lembrando, também, que a desobediência sempre traz consequências dolorosas da parte de Deus.

Por conhecer o Senhor e seus atributos, Jeremias sabia que ele é bom, como expressa nos vv.24-26 – A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom e reto é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso em silêncio. O profeta sabia que a bondade do Senhor é um atributo ligado à sua santidade, assim como também sabia que a sua justiça, de igual modo, é um atributo ligado à sua santidade. Portanto, assim como a bondade do Senhor engloba misericórdia e graça salvadora do nosso Senhor, Jeremias sabia que a justiça de Deus engloba juízo e disciplina aplicada aos que esperam por ele, para a alma que o busca.

Por conhecer o Senhor e seus atributos, o profeta sabia que Deus usa as tribulações para nos aperfeiçoar, conforme expressa nos vv.27-29 – Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus o pôs sobre ele; ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança. Querem ser aperfeiçoados, irmãos? Então, preparem-se para enfrentar provações, tribulações, aflições e sofrimentos, porque essas disciplinas são obrigatórias na grade curricular da Escola de Deus, a Escola que molda o nosso caráter.

Segundo o escritor aos Hebreus, até Jesus aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hb 5.8). Portanto, naquele duro juízo infligido a Israel, Jeremias sabia muito bem que Deus estava trabalhando no aperfeiçoamento do caráter do seu povo. Como o profeta, precisamos trazer à memória o que nos pode dar esperança, lembrando, contudo, que na desobediência, é através das tribulações que Deus nos reaproxima dele.

Em segundo lugar, aprendemos com o profeta que devemos conhecer, lembrar, e tomar a atitude correta. Relembrar é uma atividade racional ligada a conhecimento prévio, e quando trazemos à memória o conhecimento de Deus, isso deve nos levar a uma ação positiva como aconteceu com o profeta. Jeremias chorou sobre os escombros de Jerusalém, porém, aceitou os fatos porque ele sabia que tudo aquilo era obra de Deus. Ele sabia que procede do Altíssimo assim o mal como o bem (v.38). Ele sabia que as tristezas de Sião provinham do Senhor, conforme ele descreve no capítulo 2.

A atitude do profeta nos ensina que quando conhecemos o Senhor e relembramos os seus atributos, não adianta determinar, decretar, brigar com Deus, nem mesmo ficar revoltado contra ele. Afinal, cerca de 200 anos antes, falando sobre esta destruição que ainda estava por vir, Deus disse através do profeta Isaías, Agindo eu, quem o impedirá? (Is 43.13). Jeremias sabia destas coisas.

Quando conhecemos o Senhor, e relembramos os seus atributos, como o profeta agiu, ao invés de procurar culpados para as nossas desventuras, devemos assumir os nossos pecados, como ele fez no v.39 – De que se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados. Então, com toda humildade, devemos confessar os nossos pecados como o profeta confessa no v.42 – Nós prevaricamos, e fomos rebeldes.

Queridos, como o profeta, nós devemos saber que os nossos pecados trazem consequências danosas, mas devemos saber também, que as tribulações que nos sobrevêm são o meio pelo qual o Senhor trabalha o nosso caráter, a fim de nos reaproximar dele. É por isso que o profeta exorta o povo no v.40 – Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor.

Nós cometemos pecados? Sim, cometemos! Eles nos trazem consequências danosas? Sim, trazem! Porém, não devemos ficar reféns dos nossos erros do passado. Precisamos trazer à memória o que nos pode dar esperança. Afinal, como diz o profeta nos vv.31-33 – O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.

Devemos trazer à memória que o nosso Deus está no controle das nossas vidas. Ele fere, ele sara a ferida, de sorte que tudo concorre para o nosso bem, porque ele é misericordioso, ele é bom, e ele nos ama sobretudo. Por isso mesmo ele aplica o seu juízo para nos punir, para nos disciplinar, e para nos trazer de volta à obediência. Esse conhecimento de Deus, de seus atributos é o antídoto contra a desesperança.

Por isso, precisamos buscar cada vez mais o conhecimento do Senhor, a fim de que, como o velho profeta Jeremias, nos momentos de desesperança, possamos trazer à memória o que nos pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, assim como o juízo de Deus, a sua disciplina nos traz de volta aos seus caminhos.  Esta é a mensagem de Deus para a sua igreja. Que ele infunda a doutrina em nossos corações, a fim de que vivamos para louvor da sua glória. Amém.