Queridos, há alguns domingos atrás pregamos sobre o poder para testemunhar, com base na primeira parte destas promessas de Jesus aos seus discípulos. Hoje continuaremos a falar sobre as promessas de tribulações como graça para testemunhar, segundo as palavras do Senhor Jesus. Como sempre lembramos aos irmãos, há muito tempo quase não se ouvem pregações sobre a volta de Cristo, muito menos sobre tribulações e dores pelas quais os crentes têm de passar. Prestem atenção! As pregações atuais visam muito mais atrair clientes para igrejas transformadas em empresas religiosas do que salvar pecadores.
Nesse trecho que lemos, as profecias terríveis de Jesus foram especificamente para os seus discípulos imediatos, o que se cumpriu, conforme o relato de Atos dos apóstolos. Eu acho interessante as pessoas pensarem que as palavras de Jesus para os seus discípulos imediatos aplicam-se totalmente a nós, uma vez que, conforme alegam, nós também somos seus discípulos. Elas só não lembram de um pequeno detalhe: os discípulos imediatos de Jesus foram comissionados como apóstolos pelo próprio Cristo, e nós, não.
Esse trecho que lemos são palavras de Jesus dirigidas exclusivamente aos seus discípulos imediatos, pouco ou nada tendo a ver com a Igreja de hoje, embora seja possível aplicá-las a nós, em algumas circunstâncias. Resta saber se estamos capacitados e dispostos a recebê-las. São palavras duríssimas, profecias terríveis para os discípulos, e Jesus diz que todas aquelas tribulações lhes sobreviriam para que eles testemunhassem (v.13).
Vejam como a graça dos céus pode tão facilmente nos parecer desgraça na terra, se não tivermos o conhecimento de Deus e discernimento do Espírito. Somente os verdadeiros discípulos de Jesus sabem que a cruz precede a glória, e que a nossa glória aqui neste mundo é o conhecimento de Deus e da sua Palavra, conhecimento demonstrado pelo nosso testemunho, sejam quais forem as circunstâncias, mesmo as mais terríveis, como o fizeram os apóstolos.
É esse conhecimento que nos leva a dar graças a Deus pelas tribulações, sabendo que são oportunidades que ele nos dá para testemunharmos do seu amor e do seu poder para vencê-las, certos de que é nestas circunstâncias que o nosso caráter está sendo moldado à imagem de Cristo. Afinal o próprio Filho de Deus aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hb 5.8). Sabemos que as exigências difíceis do nosso Senhor constituem uma parte da cruz que os seus discípulos têm de carregar. Foi ele mesmo quem disse: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me (Lc 9.23).
Como essas exigências difíceis de Jesus estão fora dos púlpitos, vemos como consequência natural o barateamento das suas promessas de poder para cumpri-las, e nessa direção qualquer um se imagina discípulo do Mestre no mesmo nível dos apóstolos, o que é um grande equívoco.
Leiamos novamente as palavras do bom Mestre aos seus discípulos, palavras difíceis, mas que falam de graça e poder para testemunhar (vv.13-19). Graça para testemunhar, irmãos. Quantos dentre aqueles que enchem as igrejas, e que se imaginam discípulos de Cristo, querem receber este tipo de graça? Quantos terão paz no coração diante de todo tipo de opositores, simplesmente pela confiança de que o Mestre lhes porá palavras de sabedoria na boca para resistir-lhes? Quantos estarão dispostos a enfrentar com amor estes opositores que poderão ser os próprios pais, irmãos parentes e amigos, sabendo que eles os matarão? Quantos terão paz no coração sendo odiados de todos por causa de Cristo? Quantos aqui já haviam ouvido uma interpretação que mostrasse a terrível dureza das palavras do bondoso Jesus?
Irmãos queridos, é por causa de pregações desonestas que as igrejas estão entupidas de não-crentes, que ainda se imaginam discípulos de Cristo. As pregações oferecem uma graça de Cristo falsa, uma graça totalmente barateada pela falta das exigências relacionadas à salvação. Sabemos que a salvação nos aspectos da eleição, chamado, justificação, expiação, remissão e adoção é obra exclusiva de Deus em Cristo Jesus. Porém, a partir daí a santificação, que é obra do Espírito Santo em nós, só se dá com a nossa agência, com a nossa vontade mudada a partir do arrependimento, com a nossa determinação em seguir o Mestre, o que implica negar-nos a nós mesmos, e dia a dia tomarmos a nossa cruz, o que não é nada atraente, nem mesmo aos crentes verdadeiros.
É por isso que o bondoso Jesus conforta os seus discípulos com outra graciosa promessa no v.18: Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. O Senhor Jesus sabia muito bem que aquelas profecias terríveis seriam capazes de desanimar até o mais fiel discípulo. Então, fortaleceu os seus discípulos com uma palavra de encorajamento. Obviamente, estas palavras que foram dirigidas aos seus discípulos imediatos, têm aplicação ampla e podem abranger crentes de todas as épocas, dependendo das circunstâncias e da missão que for dada pelo Senhor.
Porém, é bom lembrar que, por isso mesmo, por causa da pregação, do testemunho, esta promessa de encorajamento está diretamente ligada às promessas de tribulações as mais terríveis, pelas quais os apóstolos passaram. A cruz precede a glória. O desconhecimento do verdadeiro sentido das palavras de Jesus é tão grande que, no geral, esta promessa de que não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça quase sempre é associada ao físico dos discípulos, o que é um erro. Ora, Jesus não está preocupado com fio de cabelo, ou com a saúde dos seus discípulos. Afinal, quase todos eles perderam não somente os fios de cabelos como também a vida de forma bárbara pelas mãos de ímpios.
O real significado da promessa de Jesus aos seus discípulos é que, embora eles tenham que passar por tribulações as mais terríveis, as melhores coisas como as delícias da vida eterna, estas serão preservadas até o dia da glorificação. O Senhor Jesus está prometendo aos seus discípulos que as suas almas não podem ser tocadas por homens ou por qualquer potestade, e que mesmo os seus corpos, ainda que martirizados e mortos, o que realmente aconteceu, hão de ressuscitar transformados à semelhança do corpo glorioso de Cristo. É disso que o Senhor Jesus está falando aos seus discípulos. Isso se aplica a você?
Irmãos, eis os motivos da minha insistência em lhes ensinar a Palavra de Deus com integridade: primeiro porque é ordem de Deus; segundo porque somente quando conhecemos Deus pelo discernimento da sua Palavra, confiamos nas suas promessas, sejam ou não agradáveis a nós, certos de que elas se cumprirão, e que o Senhor estará conosco em qualquer circunstância. Como é confortante saber que podemos perder todas as coisas neste mundo, bens, parentes, amigos, liberdade, saúde e até a vida, mas nunca perderemos a nossa salvação. O Senhor nos garante, e é poderoso para nos guardar.
É por isso que o apóstolo Paulo afirma: Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.38-39). Este foi um apóstolo que experimentou na carne as terríveis tribulações profetizadas por Jesus aos seus discípulos imediatos, e sabia que o seu tesouro está guardado com Cristo, como afirmou: porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia (2Tm 1.12).
Este é o significado e a aplicação das terríveis, porém, confortantes palavras do Senhor Jesus. Mais uma vez, rogamos ao bom Deus que nos conceda graça para discernir a sua Palavra, e para enfrentar as tribulações, mesmo que sejam as mais terríveis, sabendo que são promessas de Jesus aos seus discípulos verdadeiros para que deem testemunho, e que todas elas se cumprirão. O que nos conforta é saber que ele nunca nos desamparará, sejam quais forem as tribulações, para que testemunhemos a graça e o poder de Deus em nossas vidas, a fim de que o seu nome seja glorificado em nós e através de nós. Amém.